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"Queremos inocular o vírus do
empreendedor na Universidade"

 

P2.jpg (1936 bytes)dolabela.tif (85910 bytes)resente há seis anos na grade curricular da UFMG, a disciplina Empreendedorismo está abrindo novas perspectivas profissionais aos alunos de graduação da Universidade.
Desenvolvida pelo professor e administrador de empresas Fernando Dolabela, a metodologia usada na disciplina tem por finalidade estimular o aluno a ter o seu próprio negócio ao deixar a Universidade. Desde a sua implantação no Departamento de Ciência da Computação, em agosto de 1993, 25 empresas nasceram na UFMG como resultado direto do Empreendedorismo.
Com igual êxito, a metodologia já está sendo aplicada em outras 150 instituições de ensino superior do país. Nesta entrevista ao BOLETIM, Dolabela ressalta a importância da disseminação do Empreendedorismo nos diversos departamentos da Universidade, no momento em que a nova ordem econômica mundial favorece a formação de micro e pequenas empresas.

BOLETIM - Como surgiu o Empreendedorismo na UFMG?

Fernando Dolabela - O Empreendedorismo foi implantado no Departamento de Ciência da Computação do ICEx através da Funsoft, um núcleo do programa Softex criado pelo CNPq para estimular a exportação de softwares. Depois os cursos de Física, Engenharia Metalúrgica, Estatística, Biblioteconomia e Geologia também introduziram a disciplina em seus currículos.

B - Quais são os princípios do Empreendedorismo?

FD - Eu costumo caracterizar a metodologia do Empreendedorismo como uma "oficina do empreendedor". Ela apenas cria um ambiente propício ao auto-aprendizado, pois ninguém ensina ninguém a ser empreendedor. O empreendedor é fruto da cultura, dos valores de uma sociedade. Ser ou não ser empreendedor é uma questão de atitude: é assim como ser ou não ser empregado.

B - Qual a função do professor que aplica essa metodologia?

FD - O professor é um organizador. Ele não dá respostas, pois o empreendedor é alguém que busca a sua própria resposta. Não há no mundo uma pessoa que diga: "A sua empresa vai dar certo". Na disciplina Empreendedorismo, o professor leva o aluno a desenvolver, do primeiro ao último dia, um plano de negócios de empresa que, na prática, constitui um grande projeto de vida.

B - Que resultados foram obtidos até agora ?

FD - Os resultados são surpreendentes. Nos primeiros seis anos em que a disciplina foi oferecida na UFMG, foram criadas 25 empresas, embora não seja esse o seu objetivo. O que queremos é inocular o vírus do empreendedor na Universidade. Se o aluno resolver abrir uma empresa daí a 20 anos, tudo bem. O fato de abrir uma empresa exige uma série de condições. O aluno pode achar que precisa ser empregado antes, ou que precisa adquirir conhecimentos preliminares, fazer mestrado...

B - Inocular o vírus do Empreendedorismo significa mudar a mentalidade do aluno que só enxerga a opção de ser empregado?

FD - Sim. De uma certa forma, todos nós fomos educados para ser empregados, o que é bem mais fácil do que ser empresário. Antigamente, muitas pessoas faziam curso superior só para conseguir um bom emprego. Hoje essa mentalidade acabou. O Empreendedorismo não existe por causa do desemprego e sim porque traz mais realização pessoal do que trabalhar para os outros. O Brasil e todos os países do mundo formam empregados, que precisam de terceiros para criar o trabalho. O empregado é alguém que não gera o próprio trabalho. Já o empreendedor gera não só o seu como o trabalho de várias pessoas.

B - E como se transforma alguém em empreendedor?

FD - Na disciplina trabalha-se muito o conceito de si, ou seja, "o que eu criar vai ser o reflexo de mim mesmo". Essa mensagem traduzida para a empresa tem o seguinte significado: "Se sou pouco agressivo, vou criar uma empresa com essa mesma característica".

B - O alvo da disciplina, então, é o lado comportamental do aluno?

FD - Exatamente. É por visar o comportamento que a disciplina do Empreendedorismo é revolucionária. O empreendedor que vai à sala de aula para dar uma palestra fala dos comportamentos, das atitudes e iniciativas que o levaram a criar algo novo. Fala muito mais do ser do que do saber. A empresa é apenas um pano de fundo. O importante é o aluno assimilar as características pessoais do empreendedor.

B - Além de auto-conhecimento e de palestras de empreendedores, o que mais esta disciplina oferece aos estudantes?

FD - Depois dessas etapas, o aluno começa a desenvolver a idéia de negócio, começa a identificar uma oportunidade no mercado. É exatamente isso que a universidade tradicional não faz. A disciplina Empreendedorismo foi criada para identificar quem precisa do conhecimento e para permitir que o aluno aprenda a utilizá-lo. A grande novidade da organização econômica mundial, hoje, é o fenômeno das empresas tecnológicas baseadas no conhecimento, como a Microsoft. Essa foi a grande mudança dos últimos 20 anos. O papel da universidade é fundamental, na medida em que ela pode dar um substrato ao empreendedor.

B - Como tem sido a experiência de introduzir essa disciplina na universidade?

FD - Para implementá-la é preciso haver pessoas, nos departamentos, que percebam que o mundo mudou, que as formas de organização do trabalho já não são mais as mesmas. Essa é a grande revolução. O DCC do ICEx, por ser um departamento muito dinâmico, foi o primeiro a perceber essa tendência. Hoje muitos especialistas estão dizendo que a universidade nunca esteve diante de uma oportunidade tão grande como esta. Ela tem que perceber isso, senão ficará alijada do processo, enquanto outros centros de alta tecnologia surgirão no mercado. Mas quem tem condições de desempenhar este papel é a universidade.

B - A UFMG é pioneira no ensino do Empreendedorismo?

FD - A UFMG criou uma metodologia revolucionária e, com base nela, elaborou um eficiente programa de disseminação. Essa metodologia, apoiada por instituições como o Sebrae, a Confederação Nacional da Indústria e o CNPq, é utilizada em cerca de 150 instituições de ensino superior do país, atingindo aproximadamente três mil alunos. Todas as grandes universidades brasileiras se inspiraram no sistema desenvolvido na UFMG.

B - Quais são os próximos passos do Empreendedorismo na UFMG?

FD - Estamos trabalhando com a idéia de criar, na Universidade, um núcleo de Empreendedorismo com várias atividades. Ele vai divulgar sua cultura para sensibilizar a comunidade universitária sobre a importância da disciplina e vai apoiar as incubadoras e empresas juniores. Outra idéia é realizar um concurso de planos de negócios elaborados pelos alunos.