Os monstros ontem e hoje

Luiz Nazário inspira-se no cinema e na literatura para
desvendar a essência da monstruosidade

Liana Caldeira

 

N2.jpg (2494 bytes)o início dos tempos, os monstros disputavam a habitação da Terra com os homens. Exterminados pela evolução das espécies, passaram a ser fontes de lendas, dos contos de fada e das tradições, até serem eternizados pela literatura fantástica do século 19 e pelo cinema do século 20. Uma reflexão sobre a essência da monstruosidade é o que promete o livro Da natureza dos monstros, do professor e chefe do Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas-Artes, Luiz Nazário.
O autor tenta construir uma teoria da monstruosidade, tendo como inspiração o cinema de horror e a literatura fantástica. Ele explica que antes do surgimento da teoria psicanalítica de Freud a repressão dos impulsos sexuais era muito forte. Na literatura de terror clássico, tudo o que era recalcado se transfigurava sob a forma de monstro. Nessa circunstância repressiva, diz Nazário, o monstro poderia ser comparado a um Falo Transfigurado.
Um exemplo dessa representação é o dragão lança-chamas, que seria a metáfora maior de um Falo. "Com a massificação da psicanálise e da educação sexual, a sexualidade se tornou mais discutida. O caráter de repressão e tabu desapareceu, e o monstro, símbolo dessa repressão sexual, mudou de caráter, tendo atualmente conotações mais amplas. O monstro agora seria um símbolo da devoração", afirma o autor.

Cinema
O livro de Nazário dedica capítulos inteiros a celebridades do cinema como Alfred Hitchcock e Steven Spielberg. O autor também estuda produções cinematográficas do período da Guerra Fria, em que revela que o confronto entre capitalismo e comunismo assumiu nas telas formas violentas e radicais de guerras de extermínio entre terráqueos e extraterrestres, entre homens e monstros radioativos.

Fazendo um paralelo com os dias de hoje, Nazário detecta que a morte do monstro - entendida como o triunfo do homem em tempos passados - evoluiu para a forma do trabalho. "Hoje o homem não mata mais o monstro, ele trabalha. É uma forma de lutar contra a natureza, fonte maior de todos os medos", afirma. Se o homem primitivo matava o monstro plantando ou dominando o território, hoje ele o faz ganhando o próprio sustento. "O homem da atualidade não é essencialmente diferente do homem primitivo. Apenas os monstros são diferentes".
Outra questão discutida no livro diz respeito ao avanço da ciência moderna, que tem a ovelha Dolly como um dos seus ícones. Para tratar desse tema, o autor recorre à escritora de literatura fantástica Mary Shelley. Frankenstein, em sua opinião, é uma premonição de tudo o que acontece hoje no campo da ciência. "A genética era o sonho de Frankenstein de criar uma criatura com as próprias mãos. Hoje os cientistas se colocam no lugar de Deus, experimentando em laboratórios a criação de verdadeiros monstros", sentencia Nazário.

Livro: Da natureza dos monstros (302 páginas)
Autor: Luiz Nazário
Editora: Arte & Ciência
Locais de venda: Livrarias Travessa, Usina Unibanco de Cinema, Belas-Artes Liberdade e Scriptum
Preço: R$ 22,00
Lançamento: 16 de junho, às 19h30, no Centro Cultural UFMG.