Editora UFMG publica livro inédito de Avelino Fóscolo

Romance do autor mineiro descreve cotidiano dos trabalhadores da mina de Morro Velho

Priscila Cirino

 

A2.jpg (2429 bytes)Editora UFMG lança, no próximo mês, um romance inédito de Avelino Fóscolo, escritor mineiro nascido em 1864. Morro Velho narra o cotidiano dos habitantes de Nova Lima que tinham relação direta ou indireta com a famosa mina de ouro da cidade. Por volta de 1870, ainda criança, o autor trabalhou por alguns dias na mina. Suas lembranças dessa experiência foram a base para o romance de cunho marcadamente político-social.

Além de denunciar as condições precárias de trabalho impostas pelos ingleses, Fóscolo conta pequenas histórias de habitantes da cidade e retrata costumes da época. Um dos personagens mais importantes do romance é um comerciante português chamado Morais. "Ele é um explorador e trapaceiro que importa de Portugal barricas com notas falsas, passadas como troco aos fregueses de sua loja", diz a professora Letícia Malard, uma das organizadoras do livro ao lado do professor José Américo de Miranda, ambos da Faculdade de Letras.

Segundo ela, Fóscolo era um escritor anarquista, e a importância de sua obra está no retrato da realidade mineira de seu tempo. "Não se trata de um romance de primeira linha do ponto de vista estético e artístico. Mas é precioso como documento social", enfatiza a professora.

Reconstituição

Letícia Malard diz que o texto foi revisto em vários trechos. "Tivemos que colocar pontuação e adequar o vocabulário", explica a professora, que, no início da década de 80, teve acesso a duas cópias datilografadas do romance que estavam em poder de um filho e de uma neta de Fóscolo. Mas só quinze anos depois, Letícia e José Américo resolveram trabalhar na publicação do livro, que integra a Coleção Inéditos & Esparsos da Editora, coordenada pela professora Eneida Maria de Souza.

Os erros de datilografia observados nas cópias do romance foram responsáveis pelas maiores dificuldades encontradas pelos pesquisadores. "A falta de pontuação deixou o texto confuso em várias partes", explica Letícia Malard. Tudo indica que datilografia não era o forte de quem passou os escritos a limpo e que o autor não fez uma revisão do texto. Avelino Fóscolo morreu em 1944, aos 80 anos, e o texto datilografado data do início da década de 40. "Mas também não é possível precisar quando o romance original foi escrito", pondera a professora.

Depois de Morro Velho, Letícia Malard pretende, em breve, lançar mais uma obra de Fóscolo, um romance veiculado em capítulos no jornal anarquista A Lanterna, de São Paulo, por volta de 1910. "Também teremos que trabalhar nos originais do texto", adianta.

 

Um anarquista de carteirinha

Avelino Fóscolo foi uma personalidade errante. Saiu de casa ainda adolescente e logo ingressou na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, onde trabalhou por alguns dias. Destacou-se também como ator de circo e percorreu alguns países da América Latina, representando espetáculos de sua autoria. "Era um anarquista de carteirinha", conta a professora Letícia Malard, autora de uma biografia do escritor mineiro. Fóscolo deixou outros seis romances, que abordavam temas como a liberdade sexual feminina no início do século e os últimos momentos da escravidão em Minas Gerais.