Professor da Medicina está entre
os dois mil intelectuais do século

Seleção foi feita pela Universidade de Cambridge, da Inglaterra

 

uem o observa diariamente, sorriso aberto, aten- dendo a dezenas de pacientes carentes no Hospi- tal das Clínicas da UFMG, não imagina o documento que chegou a suas mãos novembro passado. Apaixonado pelo ofício de cirurgião, ao qual se dedica desde 1976, quando se formou em Medicina pela Universidade, o professor Andy Petroianu custou a compreender o conteúdo do comunicado vindo do Centro de Biografia Internacional da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. No texto, ele foi informado de que seria incluído entre os dois mil intelectuais mais destacados do século 20, em livro publicado pela Instituição inglesa. "Até hoje não entendi direito essa história", diz, pouco à vontade para comentar o assunto. A primeira edição do catálogo saiu no início deste ano, e o médico ainda não a adquiriu: "Eu vou aguardar a segunda edição".

O jeito simples e disponível de Petroianu esconde seu vasto currículo profissional. Aos 48 anos, é um dos mais importantes cirurgiões brasileiros. Referência nacional em cirurgia de baço, além de dar aulas, orientar pesquisas e coordenar a pós-graduação e o internato em Cirurgia, na Faculdade de Medicina, o professor faz dezenas de operações semanais como membro do Serviço de Gastroenterologia, Nutrição, Cirurgia-Geral e do Aparelho Digestivo (Gen-Cad) do HC. Como cientista, está à frente de inúmeros estudos, já tendo orientado e atuado em trabalhos sobre movimento do músculo liso, cicatrização e transplante de órgãos.

Romênia

Para descrever a trajetória de Petroianu, não há como não mencionar fatos ligados à sua terra natal, a Romênia. Quando o regime socialista foi instaurado no país, proprietários de terras e imóveis não tiveram trégua. Além de redistribuir bens à população, o Estado procurou ditar o destino profissional dos jovens. Filho único de um rico comerciante, o garoto Andy Petroianu, segundo as orientações do governo, deveria se tornar um professor de segundo grau, mas, no início da década de 60, seus pais conseguiram permissão para deixar o país. Depois de alguns meses na Áustria e na Itália, a família desembarcou no Brasil, mais especificamente, em Belo Horizonte.

Em terras mineiras, ainda garoto, Petroianu passou a ajudar o pai, que voltou a pôr em prática as habilidades de comerciante. A condição financeira da família melhorou, e o destino profissional de Petroianu começou a ser traçado no Colégio Anchieta. Um ano depois, passou a estudar no Colégio Municipal, no bairro São Cristovão, um dos melhores da época. O contato com a UFMG nasceu em seguida. "Fiz o terceiro ano no Colégio Técnico", recorda.

O gosto de Petroianu pela Medicina surgiu durante as aulas de um professor de Biologia, que certa vez profetizou: "Filho, você será um médico". Aprovado em Medicina no Vestibular da UFMG, deparou com outra de suas paixões: a Cirurgia. No 2 ano, no estágio voluntário que fazia no Pronto-Socorro, presenciou um cirurgião em atividade. "Percebi que aquela seria minha especialidade".

Depois de formar-se em Medicina, investiu na formação acadêmica. Terminada a residência em Cirurgia no HC, dedicou-se à pós-graduação. No currículo de Petroianu, além de seis livros e cerca de 200 trabalhos em revistas especializadas, somam-se dois doutorados e dois mestrados, ambos em Fisiologia e Cirurgia, e um pós-doutorado na Universidade Estadual de Nova Iorque. O médico também estudou na Escola Paulista de Medicina (hoje Universidade Federal de São Paulo) e na USP de Ribeirão Preto. Até o final de 2000, deve lançar outros seis livros, entre eles, Deontologia cirúrgica, em que discute filosoficamente questões ligadas à prática da Cirurgia.