As origens da Família Miner *

Nivio Ziviani **

 

Família Miner nasceu no Departamento de Ciência da Computação da UFMG. O seu desenvolvimento foi uma das poucas experiências do gênero na universidade brasileira. Muito mais do que um trabalho acadêmico, o empreendimento Família Miner é a pura demonstração prática de como certos resultados de pesquisa universitária devem ser levados à sociedade, por meio da criação de empresas de alta tecnologia. Tais empresas, com altíssimo valor agregado aos seus produtos, geram riqueza na forma de empregos e captação de recursos financeiros, através da exportação de produtos, serviços e tecnologia.

A Miner foi tema de dissertação de mestrado de Victor Fernando Ribeiro, desenvolvida sob minha orientação no Laboratório para Tratamento da Informação (Latin). O trabalho começou no primeiro semestre de 1996, dentro da disciplina Projeto e Análise de Algoritmos, onde Victor propôs o estudo e desenvolvimento de robôs para navegar na Internet. Em junho de 1996, um primeiro protótipo de robô para a World Wide Web foi testado. O trabalho ficou tão bom que convidamos o Victor a se aprofundar no assunto e a desenvolver mecanismos de busca na Internet. Em janeiro de 1997, uma primeira versão do MetaMiner foi testada. Em março do mesmo ano, veio o BookMiner e, logo em seguida, o NewsMiner. O conceito final da Família Miner de Agentes para a Web foi alcançado em julho de 1997, e a dissertação terminada e defendida competentemente pelo Victor em fevereiro de 1998.

O software foi lançado no mesmo mês e, com apenas 34 e-mails de divulgação, passou a receber três mil consultas por dia. O sucesso nos encorajou a criar a Miner Technology Group, em 22 de abril de 1999. Como um empreendimento típico na Internet, tudo dobrava a cada 30 ou 40 dias: o número de usuários, demanda por espaço em disco, tráfego na rede... Em setembro, já com cerca de 30 mil consultas por dia, a Família Miner passou a funcionar a partir dos servidores do UOL, enquanto o desenvolvimento continuava aqui em Belo Horizonte.

O Victor e eu tocamos a Miner sozinhos durante todo o ano de 1998, mas já sentíamos a necessidade de contar com investidores, que além de recursos financeiros, trariam o aporte de ferramentas da gestão empresarial. Foi quando decidimos, em janeiro de 1999, admitir como sócios Guilherme Emrich e Ivan Moura Campos, ampliando tremendamente o poder de crescimento da empresa. Em abril, admitimos como sócio Emílio Carlos Rebouças Santana Loures, para cuidar dos aspectos financeiros. A esta altura, tínhamos chamado a atenção de muitas empresas interessadas na tecnologia e no empreendimento Família Miner. Em junho, vendemos a empresa para o Grupo Abril/Folha de S. Paulo/UOL. A Família Miner é hoje o principal mecanismo de busca do BOL (Brasil Online), sendo dirigida por Victor Ribeiro.

O Departamento de Ciência da Computação da UFMG é considerado um dos mais expressivos centros brasileiros na interação universidade-indústria, desenvolvendo atividades de extensão há mais de duas décadas. Seus trabalhos de maior porte duram anos e envolvem recursos financeiros da ordem de milhões de reais que, além de remunerar o próprio projeto, permitem criar infra-estrutura de laboratórios, biblioteca, administração, bolsas de estudos para estudantes de graduação, mestrado e doutorado, entre outros benefícios.

Apesar de ser muito bom para um departamento universitário, este modelo pode e deve ser aprimorado para atender a uma nova característica de mercado imposta pela chamada sociedade da informação: a criação rápida de empresas de alta tecnologia com grande poder inovador, e a efetiva transferência de tecnologia criada nas universidades para o mercado.

O empreendimento Família Miner tem exatamente estas características e promete ser a primeira experiência dentre as muitas que certamente serão desenvolvidas na UFMG. Cabe ressaltar que, a partir da experiência da Miner, estamos propondo um novo modelo capaz de induzir a criação de empreendimentos e empresas de alta tecnologia no âmbito da UFMG, denominadas start-ups.

Uma start-up nasce a partir de uma idéia inovadora ou de um resultado de pesquisa inovador em um laboratório universitário. Esta idéia ou resultado de pesquisa pode então ser transformado em um protótipo de tecnologia. Uma vez atingido este estágio, pode haver interesse em transformá-lo em uma tecnologia ou em um empreendimento, visando à criação de uma start-up. Este momento deve ser marcado por uma clara separação entre o que foi feito na Universidade e o que será desenvolvido fora de seus muros, em parceria com grupos privados, investidores de risco e profissionais de negócio.

Este modelo está em debate no âmbito do DCC/UFMG, a fim de que a nossa Universidade possa ter uma participação efetiva neste processo. No momento em que a sociedade passa a enxergar a Universidade como geradora de riqueza, além de formadora de recursos humanos, os ganhos potenciais podem ser enormes. Estes conceitos foram aprovados pela Câmara do DCC/UFMG e têm recebido entusiástico apoio de todos os grupos com os quais temos conversado. Esperamos que a experiência vivida pela Família Miner sinalize outras iniciativas que poderão ser desenvolvidas a curto prazo nesta área em que a Universidade tem competência e reconhecimento internacional. É nosso desejo contribuir para a criação de jurisprudência e paradigma que possam ser seguidos por muitos outros grupos de pesquisa.

* Parte de discurso proferido durante a cerimônia de doação de R$ 100 mil pelos criadores da Família Miner para a UFMG, no último dia 16 de março.

** Professor Titular do DCC