Música confirma vocação extensionista

Escola, que está fazendo 75 anos, abriga cerca de 500 alunos de extensão

Alexandre Reis de Miranda

 

uem observa a produção e a trajetória da Escola de Música, que comemora 75 anos esta semana, já deve ter percebido a sua vocação extensionista. Uma das marcas registradas da Unidade, que possui cerca de 500 alunos matriculados em seus cursos de extensão, é a inserção permanente em todos os cantos da Universidade e na comunidade externa, através dos recitais, concertos e audições apresentados por seus grupos musicais, como a Gerais Big Band, a Orquestra Sinfônica, o Coro de Câmara e o Grupo de Percussão.

Alguns deles, como o Centro de Musicalização Infantil, tentam suprir até carências estruturais. "Em muitos países desenvolvidos, a música acompanha a alfabetização das crianças. No Brasil, as escolas públicas quase não têm música em seus currículos e muitas particulares que oferecem atividades na área cobram uma taxa além da mensalidade", relata o diretor da Escola, Cláudio Urgel Cardoso. Para a vice-diretora, Maria do Carmo Campara, a música ajuda a criança a enxergar o mundo de modo mais abrangente. "Alguém que, na infância, teve contato com a atividade musical, tem um raciocínio diferente e maior capacidade de concentração", afirma.

Um dos mais recentes trabalhos desenvolvidos pela Escola de Música beneficia comunidades carentes da região do Alto Taquaril. Duas bolsistas de extensão levam a música a 50 crianças e suas mães, aproveitando a capacidade dos sons de sensibilizar as pessoas. A iniciativa, segundo o professor Anor Luciano Júnior, coordenador do Centro de Extensão, já vem dando resultados. "Algumas mães já declararam que a atividade deixou as pessoas mais abertas ao diálogo".

 

Acordes no campus

Desde janeiro de 1997, o campus Pampulha abriga a música produzida pela Universidade num prédio de 4.572 metros quadrados, próximo à Escola de Belas-Artes. A antiga edificação, localizada na avenida Afonso Pena, tinha uma área construída quatro vezes menor. "O antigo prédio (que vai abrigar o Conservatório UFMG) já não dava conta da demanda gerada pelo curso", recorda-se Cláudio Urgel. Além disso, o tumultuado centro da cidade não era mais um local ideal para o estudo da música.

A mudança para o novo prédio foi liderada pela ex-diretora da Escola, Sandra Loureiro de Freitas Reis. Junto com o professor Ney Assumpção Parrela, ela recebe, nesta sexta-feira, dia 28, o título de professor emérito da Unidade. A Escola de Música conta com 224 alunos na graduação - distribuídos em 19 habilitações - e 30 músicos nos cursos de pós-graduação.

A Escola de Música foi criada, em 1925, com o nome de Conservatório Mineiro de Música, vinculado ao Governo Estadual. Funcionou provisoriamente no Parque Municipal e, em seguida, na avenida João Pinheiro, até ser transferida para a sede da avenida Afonso Pena, onde permaneceu até 1997.

Em 1950, o Conservatório foi federalizado e, em 1962, incorporado à UFMG. Dez anos depois, passou a se chamar Escola de Música.

 

Um eterno conflito

Há alguns anos, a introdução de atividades ligadas à música popular foi motivo de desavenças entre professores da Escola de Música. A vice-diretora Maria do Carmo Campara conta o caso de duas professoras que protestaram contra a apresentação de música popular de um docente, que, além da academia, vivia de "tocar na noite". Com esse exemplo, ela mostra que a incorporação da música popular à Escola teve seus lances conflituosos.

Depois de superar as resistências em relação à musica popular, a Unidade vive uma dificuldade quase oposta. Muitos alunos, com relativo conhecimento musical, já não demonstram interesse pelas composições eruditas. Tanto que um dos integrantes da banda mineira Jota Quest foi jubilado por excesso de faltas. "Os alunos até reconhecem que seus trabalhos ganham qualidade com o suporte da música erudita, mas acabam esbarrando no seu elevado nível de exigência técnica", explica Maria do Carmo.

O diretor Cláudio Urgel parece não se importar com este eterno conflito. Para ele, a obrigação da Escola é formar músicos. A decisão de qual vertente seguir é "uma opção pessoal". "Nossa responsabilidade transcende a formação de músicos para as grandes gravadoras. Sem o conservatório, quem tocaria Beethovem"?, pergunta Urgel.