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Nº 1396 - Ano 29 - 15.05.2003


Dissertação associa raça ao uso de métodos contraceptivos

Ludmila Rodrigues


uso de métodos anticoncepcionais não está relacionado somente ao poder aquisitivo e ao nível sociocultural das mulheres. O fator raça também pode determinar a opção pelo uso de certos métodos e até influenciar algumas mulheres a não usarem método algum. É o que conclui dissertação de mestrado defendida recentemente na Faculdade de Ciências Econômicas (Face) pelo sociólogo Lizandro Nei Gualberto.

Segundo o seu estudo, as mulheres negras, diferentemente das brancas, tendem a se inclinar pela esterilização, ainda que não tenham abandonado completamente a idéia de ter filhos. Entre as mulheres esterilizadas, as negras superam as brancas em 23%. Além disso, a possibilidade de as mulheres negras se frustrarem com o método contraceptivo adotado chega a ser 35% maior do que entre as brancas.

O estudo de Lizandro Gualberto valeu-se dos dados da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, de 1996, realizada pela Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil (Benfam). A amostra utilizada inclui mulheres sexualmente ativas que conhecem os métodos contraceptivos e sabem onde encontrá-los. Segundo o sociólogo, a pesquisa não revela as causas das particularidades de uso de anticoncepcionais entre mulheres de raças diferentes, mas ele acredita que elas estejam ligadas a "aspectos históricos-culturais", que apontam para a discriminação racial. "As negras são vítimas do desconhecimento e da falta de cuidados em relação à saúde", afirma Gualberto.

Para o sociólogo, estudos como o seu podem ajudar na formulação de políticas públicas de promoção da saúde e a ordenar estratégias de ação. Ele argumenta que, ao planejar uma campanha de divulgação de métodos anticoncepcionais, os organismos estatais não devem considerar apenas as diferenças socioeconômicas e culturais. As particularidades raciais também precisam ser observadas. "Quando estimuladas a adotarem métodos contraceptivos, mulheres negras e brancas tendem a responder de forma diferenciada", avalia o pesquisador.

Status da mulher

Lizandro Gualberto também verificou o status da mulher relacionado ao uso de métodos anticoncepcionais. O status é materializado numa escala que varia de um a oito e mede a situação feminina frente ao homem. Para dimensionar esse status, o sociólogo utilizou variáveis, como ocupação da mulher, grau de escolaridade, liderança no domicílio, capacidade de decidir sobre sua renda e sobre o planejamento familiar.

O índice oito - o mais elevado da escala - caracteriza uma mulher independente em relação ao homem ou que desenvolve atividade semelhante à do parceiro. Segundo a pesquisa, à medida que aumenta o índice de status da mulher, crescem também as chances de ela escolher métodos contraceptivos mais eficazes, como as pílulas e injeções anticoncepcionais, o dispositivo intra-uterino (DIU) e a camisinha masculina.

Outra conclusão é a de que as mulheres que moram nas grandes cidades são avessas a métodos tradicionais, como a tabelinha e o coito interrompido. "Tanto as negras quanto as brancas preferem não utilizar qualquer método contraceptivo a usar os tradicionais, ainda que corram o risco de engravidar", observa Lizandro.

 

- A mulher negra tem 35% a mais de probabilidade de não encontrar um método contraceptivo adequado.

- Entre as usuárias de métodos anticoncepcionais, as negras têm 20% a mais de chance de escolherem a esterilização, quando comparadas com as brancas.

- Quando o índice de status da mulher aumenta, mais do que dobram as possibilidades de ela utilizar métodos femininos (130%) e optar pela camisinha masculina (106%).

Dissertação de mestrado: Comportamento contraceptivo, raça/cor e status da mulher no Brasil
Autor: Lizandro Nei Gualberto
Orientadora: Paula Miranda Ribeiro
Data: 31 de março de 2003
Local: Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas (Face)