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Nº 1407 - Ano 29 - 11.09.2003

 

UFMG mapeia fluorose em cidade do Norte de Minas

Jurandira Gonçalves

uem associa flúor a dentes brancos e sem cáries pode tomar um susto ao saber que esse mesmo elemento, quando ingerido em excesso, é tóxico aos dentes e ossos e pode provocar doenças graves. Um estudo da UFMG, que envolve o departamento de Geologia do Instituto de Geociências (IGC) e a Faculdade de Odontologia, mapeou a fluorose endêmica e suas fontes na Zona Rural de São Francisco, no Norte de Minas, a 536 quilômetros de Belo Horizonte. A fluorose é uma doença provocada pela ingestão excessiva de flúor, que se manifesta no esmalte dos dentes e, em casos extremos, pode provocar sua perda completa.

Foram examinadas 285 pessoas de 6 a 22 anos. Segundo a professora Efigênia Ferreira, da Faculdade de Odontologia, 90% da população examinada têm fluorose dentária. Deste universo, 30% apresentam casos sérios, com perdas da estrutura do dente. "É muito difícil prevenir a doença por causa dos problemas de abastecimento da região e da ausência de uma vigilância epidemiológica", afirma a professora.

Por meio do projeto interdisciplinar Origem do flúor na água subterrânea e sua relação com os casos de fluorose dentária no município de São Francisco, os pesquisadores da UFMG identificaram, ainda, áreas com potencial de desenvolvimento da doença e comprovaram a associação da endemia ao consumo da água subterrânea. O estudo também mapeou a ocorrência do principal mineral de flúor existente na região, a fluorita, cuja presença pode ser a causa maior dos altos índices do elemento na água.

Atuação multidisciplinar

A coordenadora do projeto, professora Leila Nunes Menegasse, do departamento de Geologia do IGC, conta que tomou conhecimento do problema através de um levantamento realizado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), no distrito de Mocambo, onde foram detectados pela primeira vez os casos de fluorose dentária, e realizados exames que indicaram o alto teor de flúor na água do local.

"Quando soube do problema resolvi preparar um projeto multidisciplinar para investigar suas causas", explica Leila Menegasse. O projeto envolve o departamento de Geologia, do IGC; Faculdade de Odontologia, Funasa e Prefeitura de São Francisco.

Nas comunidades rurais do município de São Francisco, o abastecimento público é feito por poços artesianos, e a água, tomada in natura, sem qualquer tipo de tratamento. "O consumo dessa água aumenta os riscos de incidência da fluorose dentária", esclarece a professora Efigênia Ferreira.

O estudo analisou cinco localidades do município e encontrou regiões em que o nível de flúor na água chega a 3,9 miligramas por litro (mg/l), enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, no máximo, 0,8 mg/l. Em Belo Horizonte, o flúor introduzido na água tem dosagem de 0,6 a 0,8 mg/l.

Problemas estéticos e funcionais estão associados à fluorose. A doença pode causar dor, atrapalha a mastigação e chega a provocar perda total dos dentes, além de criar um ambiente propício para o desenvolvimento da cárie. A fluorose começa a se manifestar na formação dos dentes permanentes - de zero a cinco anos - e é irreversível. Nos casos em que o teor de flúor supera 5 mg/l, podem ocorrer fragilização e deformação dos ossos, a chamada fluorose óssea.

A professora Leila Menegasse espera que o estudo contribua para a adoção de critérios geológicos que reduzam o número de poços com nível elevado de flúor na água e que apontem formas de tratamento nos poços existentes. "Queremos chegar a um tratamento simples, de baixo custo e que possa ser realizado em casa", afirma a coordenadora do projeto. Nesta nova fase, as pesquisadoras esperam contar com a colaboração de profissionais de outras áreas, como Veterinária, Medicina e Química.

Projeto: Origem do flúor na água subterrânea e sua relação com os casos de fluorose dentária no município de São Francisco
Unidades envolvidas: Instituto de Geociências (IGC) e Faculdade de Odontologia
Equipe: Leila Nunes Menegasse (coordenadora) e Lúcia Maria Fantinel, do IGC, e Efigênia Ferreira e Ferreira e Lia Silva de Castilho, da Faculdade de Odontologia

Com medo de sorrir

João (nome fictício), um lavrador de 22 anos que mora no distrito de Mocambo, tem medo de mostrar os dentes deformados pela fluorose. "Quando eu não tinha esse problema, eu tinha um sorriso mais aberto. Hoje eu tenho um sorriso mais fechado. O sorriso vem de dentro de mim... e eu não consigo expor esse sorriso à vista". Casos como o de João foram analisados em um estudo sobre o impacto social da fluorose sobre a população. Seus resultados mostram que as pessoas tendem a esconder o sorriso, evitam participar de atividades escolares, não tiram fotos e avaliam que o problema pode atrapalhar sua vida profissional e afetiva.