Busca no site da UFMG




Nº 1444 - Ano 30 - 24.6.2004


Aqui, a história não vai por água abaixo

Laboratório da Fafich resgata sítios arqueológicos em regiões afetadas por obras de grande impacto ambiental

Patrícia Azevedo



Foto: Ruína no município de Serra (ES) identificada pelo Laboratório de Arqueologia
Arquivo Laboratório de Arqueologia

stradas, linhas de transmissão, usinas hidrelétricas são necessárias para o progresso e desenvolvimento econômico do país. No entanto, no caminho traçado para essas grandes obras, surgem algumas "pedras" que não podem ser simplesmente retiradas. São fósseis, objetos pinturas, vestígios de ocupações passadas que contam a história de um povo. Preservá-los é uma das tarefas do Laboratório de Arqueologia da UFMG, que há 10 anos estuda e resgata sítios arqueológicos brasileiros.

Coordenado pelo professor Carlos Magno Guimarães, o Laboratório dedica-se atualmente a dois grandes projetos: o resgate de sítios na Usina Hidrelétrica de Irapé, no Vale do Jequitinhonha, e o diagnóstico do potencial arqueológico em toda área atingida pela linha de transmissão de energia Ouro Preto II-Vitória , que atravessa 27 municípios de Minas Gerais e Espírito Santo.

Para a construção de Irapé, o rio Jequitinhonha será represado e, uma grande área, inundada. Não fosse o trabalho realizado pelo Laboratório, a história e a cultura material da região iriam, literalmente, por água abaixo. "A represa atingirá uma área muito rica e pouco estudada, que possui importantes sítios arqueológicos", afirma o professor Carlos Magno Guimarães.

Sua equipe realizou primeiramente um trabalho de prospecção para identificar os sítios arqueológicos existentes na região. Foram meses de longas caminhadas e muitas descobertas. Tudo devidamente registrado: fazendas do período colonial, ruínas de engenhos, objetos, louças do século XIX. "Procuramos utilizar todos os recursos: fotografia, desenho, medição, já que nem tudo pode ser retirado e uma grande parte ficará submersa" explica Carlos Magno. O trabalho do Laboratório concentra-se no estudo de materiais e vestígios do período colonial, principalmente os datados após o século XVIII, que predominam na região.

Terminada a etapa de prospecção, a equipe iniciou em 2004 o trabalho de resgate dos 61 sítios arqueológicos encontrados. Com a finalização desta etapa, prevista para outubro próximo, o trabalho de análise dos vestígios prosseguirá no Laboratório de Arqueologia. Posteriormente, esses objetos retornarão para o Centro de Cultura a ser construído pela Cemig na região.

Já nos 380 quilômetros da linha de transmissão de energia Ouro Preto II - Vitória, os pesquisadores identificaram 21 sítios, sem contar as ocorrências isoladas de materiais e vestígios. O trabalho foi estendido para além dos limites da chamada faixa de servidão, que compreende a área impactada pela obra. Foram identificados engenhos, cochos em madeira talhada, pontes e linhas de ferro que fazem parte da Estrada Real, além de fazendas do século XIX.

Origem

Criado há 10 anos, o Laboratório de Arqueologia começou suas atividades já com um projeto de fôlego. Entre os anos de 1995 e 1999, o Laboratório realizou o levantamento e o regaste arqueológico em uma área de 1.780 quilômetros quadrados, onde foi implantada a Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, em Goiás. Como na região os vales dos rios são menos íngremes, a área atingida é maior, demandando esforço extra. A envergadura da empreitada é comprovada pelo tamanho da equipe enviada à Serra da Mesa, que chegou a contar com 30 pessoas em campo durante o desenvolvimento do projeto.

Foram localizados na Serra da Mesa uma centena de sítios arqueológicos, muitos deles de mineração, que contam parte da história dos bandeirantes. No rio Peixe, por exemplo, foram encontradas barreiras de pedras e desvios feitos para mudar o curso das águas. Na busca pelo ouro, os bandeirantes acabaram construindo um tesouro histórico, expresso nos canais, açudes e desvios ao longo dos rios. "Os sítios arqueológicos do Brasil podem não ser tão exuberantes quanto as construções dos maias ou as pirâmides do Egito, mas tem um grande valor arqueológico", afirma o professor Carlos Magno Guimarães.