Professora da UFMG organiza livro sobre a obra de um dos mais importantes arquitetos de Minas

Ana Paula Ferreira

Sylvio de Vasconcellos: estudos
sobre a arte mineira

ylvio de Vasconcellos pertenceu a uma rara estirpe de intelectuais que soube ser competente em tudo que realizou: foi arquiteto e urbanista brilhante, professor exemplar, pesquisador incansável, escritor e crítico de arte apaixonado pela cultura, a arte e a arquitetura mineiras. Agora, parte de sua produção intelectual está disponível para seus admiradores e para estudiosos da Arquitetura. O BDMG Cultural lançou Arquitetura, arte e cidade _ textos reunidos, coletânea de artigos, crônicas e ensaios escritos por Sylvio de Vasconcellos ao longo de sua carreira.
A obra é resultado do esforço do Programa de Ensino Tutorial (PET), da Escola de Arquitetura da UFMG, para resgatar a memória da Unidade. Organizada pela professora Celina Borges Lemos, do departamento de Análise Crítica e História da Arquitetura, a coletânea reúne textos, presentes em edições já esgotadas, além de alguns inéditos e outros trabalhos escritos pelo arquiteto no exílio.

Para a professora Celina, o livro é uma homenagem à inestimável contribuição do pesquisador para os estudos da arquitetura de Minas. "Sylvio realizou um trabalho audacioso e heróico, ao descobrir as peculiaridades e sofisticações que engendraram a construção do espaço, da arte e da arquitetura mineira", argumenta a professora, acrescentando que Vasconcellos foi responsável pela incorporação dos conceitos de cultura e arte nos estudos sobre arquitetura. "Mesmo depois de 25 anos de sua morte, os estudos preservam sua originalidade, relevância e atualidade", atesta Celina Borges.

Sylvio de Vasconcellos nasceu na capital mineira, em 1916, e formou-se na Escola de Arquitetura da UFMG em 1944, onde foi professor por 21 anos e diretor entre 1963 e 1964. Lá, conduziu inúmeras pesquisas e estudos sobre estética e história da arquitetura e das cidades mineiras. Além do legado acadêmico, o arquiteto deixou para a Universidade o Monumento ao Aleijadinho, no gramado em frente ao prédio da reitoria. Segundo Celina, Sylvio de Vasconcellos era admirador de carteirinha do artista barroco e o considerava um dos mais importantes do Brasil. "Aleijadinho foi o grande exemplo para o professor Sylvio que, assim como ele, não mediu esforços para fazer sua arte e deixar seu legado".

Projeção internacional

O arquiteto dirigiu a seção mineira do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e trabalhou como consultor sobre urbanismo, arquitetura e arte mineira e brasileira, o que garantiu-lhe projeção internacional. Mas, ao que tudo indica, o seu brilhantismo trouxe-lhe problemas com o regime militar, que o obrigou a exilar-se em 1964. "Não há certezas quanto aos fatos, mas acredita-se que invejosos e falsos amigos o denunciaram como pessoa perigosa para os rumos da nação. Na verdade, era proibido ser tão brilhante na época", conta Celina Borges.

Mesmo no exílio, Vasconcellos não interrompeu suas pesquisas, cujos resultados eram enviados ao Brasil e publicados em revistas especializadas da época. Depois de morar na França e no Chile, ele fixou residência nos Estados Unidos. Morreu em Washington em 1979.

Arquivo

A participação de Décio de Vasconcellos, primo de Sylvio, foi decisiva no trabalho de recuperação dos escritos. Durante 20 anos, Décio, bibliotecário já falecido, recolheu e arquivou as publicações do arquiteto, além de textos inéditos e correspondências do período em que Sylvio esteve exilado. Outras contribuições importantes foram oferecidas pelo professor André Dantas, da Escola de Arquitetura, e por cinco assistentes de pesquisa, Elida de Castro, Luciana Teixeira, Paola Lisboa, Luciana Pietra e Raquel Braga. Voluntariamente, as estudantes auxiliaram na coleta, seleção e revisão dos textos.

A primeira edição de Arquitetura, arte e cidade teve tiragem de mil exemplares, que estão sendo distribuídos gratuitamente. Mas Celina Borges pretende lançar edição comercial para que profissionais de todo o país conheçam a obra de Sylvio de Vasconcellos. Os interessados em receber um exemplar do livro devem entrar em contato com o BDMG-Cultural pelo número (31) 3219-8599.