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Nº 1476 - Ano 31 - 17.3.2005

O pioneiro

O trabalho mais antigo da UFMG sobre a doença, que inaugurou os estudos na área, é desenvolvido, desde a década de 70, pelo professor Wilson Mayrink, do departamento de Parasitologia da UFMG. Sua equipe desenvolveu uma vacina para a leishmaniose cutânea, que foi liberada pelo Ministério da Saúde para uso terapêutico.

A pesquisa foi baseada em estudos do pesquisador paulista Sales Gomes, realizados em 1939. A vacina é considerada de primeira geração, porque é produzida pelo próprio parasita . Uma vacina de segunda geração , que também está sendo testada na Universidade é produzida por DNA recombinante, através de engenharia genética.

O emprego terapêutico da vacina reduz em mais de 50% o uso do glucantime, medicamento empregado no combate à doença. Esse tipo de tratamento, que conjuga vacina e medicamento, é chamado de imunoquimioterapia, e vem se mostrando mais eficiente do que a aplicação isolada do glucantime.

E os cães?

Os medicamentos existentes para o tratamento da leishmaniose, tanto na forma cutânea quanto visceral, são eficazes para a cura da doença no homem, mas não apresentam bons resultados quando aplicados ao cão. Para o professor Romário Cerqueira Leite, do Departamento de Medicina Preventiva da Escola de Medicina Veterinária, as opções existentes não são animadoras: os cães positivos devem ser sacrificados. "Não há tratamento eficaz e isso só aumenta a proliferação da doença no Brasil", diz Romário Leite.

Ele adverte para o risco de uso dos medicamentos existentes no mercado para o tratamento de cães contaminados. "Eles não são seguros, porque, mesmo que o animal melhore seu quadro clínico, o protozoário permanece no organismo, o que pode ocasionar a seleção de cepas resistentes do leishmania ", explica o professor.

A professora Marilene Michalick, do departamento de Parasitologia do ICB, reforça a tese de que as reações do cão e do homem ao medicamento são muito diferentes. "As drogas ainda não são capazes de curar os cães e, quando submetidos ao tratamento, os animais sofrem muito com os efeitos colaterais", salienta Michalick. Ela integra o grupo de pesquisas, coordenado pelo professor Frédéric Frezard, que estuda a síntese de produtos terapêuticos para a leishmaniose visceral canina, usando ferramentas da nanotecnologia. "Trabalhamos para melhorar a eficácia de drogas já existentes e com novas formulações, buscando a cura da doença", explica a professora, que coordena o laboratório que também presta serviços de exames de diagnóstico de leishmaniose visceral canina.

No ano passado, a professora Adriane da Costa Val, da Escola de Medicina Veterinária, que integra o grupo, defendeu tese de doutorado, apresentando os resultados de pesquisa, realizada inicialmente em ratos, de um novo medicamento para a doença. O método consistia no uso da substância antimoniato de meglumina, o mesmo empregado no tratamento convencional, porém encapsulado em lipossomas. Em um segundo momento, os testes foram feitos em cães positivos, mas não apresentaram os resultados desejados. "O experimento não foi suficientemente eficaz para curar os cães, além de ter provocado ligeiros efeitos colaterais nos animais", descreve Marilene Michalick.

O grupo analisou os resultados obtidos e arregaçou as mangas em busca de soluções. O resultado foi a síntese de outra formulação do medicamento, dessa vez em partículas menores que a utilizada anteriormente. A droga, que teve sua fórmula patenteada, é material de estudo do doutorando Raul Ribeiro, orientado pela professora Marilene Michalick. "Testes preliminares revelaram que a redução da molécula permitiu maior difusão da droga no organismo e aumentou sua concentração na medula espinhal do cão", aponta Ribeiro. Segundo ele, a eficácia do medicamente só poderá ser comprovada depois de realizados novos testes com cães.


Marilene Michalick: em busca da cura
Foto: Eber Faioli

Versão tegumentar também é alvo de nova vacina

Uma nova vacina contra a leishmaniose tegumentar (humana) está sendo desenvolvida por equipe coordenada pelo professor Evaldo Nascimento, do Laboratório de Leishmanioses e Vacinas do Departamento de Parasitologia, ICB. A vacina foi testada com sucesso em modelos animais pelo Instituto de Pesquisas de Doenças Infecciosas (IDRI) dos Estados Unidos.

A vacina de segunda geração, denominada Leish-111f, foi desenvolvida por engenharia genética e produzida em bactéria. "Fundimos os genes de três proteínas, e o resultado foi a expressão de uma poliproteína imunogênica", explica o professor. Segundo Nascimento, esse processo permitiu a produção de uma vacina molecularmente definida, o que significa que toda a estrutura do imunógeno é conhecida pelos pesquisadores.

Os testes iniciaram-se no ano passado em pacientes do Ambulatório de Leishmanioses construído em Januária, no Norte de Minas, com participação do IDRI, da Secretaria de Saúde de Januária e da UFMG. A localidade foi escolhida para a complementação dos estudos porque é uma área endêmica da doença. O estudo clínico recebeu a aprovação de organismos reguladores de ensaios em seres humanos, como comitês de ética em pesquisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos.

"A UFMG foi escolhida para realizar o estudo porque tem o grupo de pesquisadores com maior experiência no desenvolvimento e avaliação de vacina humana anti-leishmaniose tegumentar do Brasil", explica Nascimento. O estudo encontra-se na fase do ensaio clínico que avalia a tolerância da substância no organismo humano. "Pessoas infectadas pelo parasita estão recebendo doses escalonadas da vacina, utilizada como imunoterápico associado ao Glucantime", informa o professor, acrescentando que os resultados iniciais são bastante positivos e que até agora o tratamento não apresentou efeitos colaterais significativos. As próximas etapas, a serem conduzidas por pesquisadores da UFMG, prevêem avaliações de imunogenicidade e de eficácia para seres humanos.