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Nš 1496 - Ano 31
18.08.2005



Governo federal adota software do DCC capaz de "enxergar" fraudes

Batizado de Tamanduá, o programa de governança eletrônica deve ser estendido para outras áreas

Ana Maria Vieira

 

le poderia ser confundido com uma espécie de oráculo contem- porâneo, devido à capacidade de encontrar respostas para problemas complexos. Mas seus criadores preferem vê-lo sob a identidade de um exemplar da fauna nacional, que, em segundos, suga milhares de cupins com sua eficiente língua. Tamanduá, esse é o personagem, agora empresta virtudes e nome ao mundo virtual, por meio de novo software desenvolvido na UFMG. À maneira de seu congênere animal, a ferramenta é capaz de associar inúmeras variáveis de grandes bancos de dados, extraindo deles conhecimento inovador. Uma atividade que, nos ambientes acadêmico, empresarial ou governamental constitui tarefa árdua e sujeita a erros, além de consumir um longo tempo de cientistas e gestores.

À maneira de seu congênere animal, a ferramenta é capaz de associar inúmeras variáveis de grandes bancos de dados, extraindo deles conhecimento inovador. Uma atividade que, nos ambientes acadêmico, empresarial ou governamental constitui tarefa árdua e sujeita a erros, além de consumir um longo tempo de cientistas e gestores.

"A ferramenta Tamanduá implementa técnicas de mineração de dados", diz Wagner Meira Jr., que coordena o projeto junto com Renato Ferreira e Dorgival Guedes, todos professores do Departamento de Ciência da Computação (DCC) do ICEx. O software ganhou o prêmio IBM Faculty Award, façanha alcançada no ano passado por apenas outros quatro projetos brasileiros.

Dois meses antes, Tamanduá venceu edital da Finep de Sistemas paralelos para apoio à governança eletrônica, recebendo financiamento de R$ 670 mil. A pesquisa prevê o desenvolvimento de aplicações da ferramenta na área de compras do governo federal, sob a coordenação da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

"Esses registros contêm todas as aquisições e contratações realizadas pelo governo, incluindo informações do orçamento associado ao processo de compra em si e de sua conclusão", informa Meira Jr. Um dos trabalhos do software consiste em relacionar essas variáveis e especificar com qual freqüência determinados comportamentos de compra se repetem, oferecendo, portanto, importante informação de apoio à gestão e à tomada de decisões na área governamental.

O processo pode revelar, por exemplo, quais unidades do governo federal fogem de licitação na aquisição de um determinado item de consumo, beneficiando sempre as mesmas empresas com preços superfaturados. Tais padrões de compras, capazes de identificar fraude ou distorção, são informados, em poucos segundos, ao usuário ou ao gestor, apesar de serem "minerados" de gigantescas bases de dados governamentais.

"Tamanduá nos dá nova esperança, pois permite melhorar a qualidade de gerenciamento da informação", confirma Nazaré Bretas, gerente de projetos da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento. Ela avalia que as técnicas de mineração de dados abrem perspectivas reais para políticas públicas que tenham como meta reduzir a corrupção e ineficiência na área, pois possibilitam encontrar vícios e boas práticas "escondidas" nos cadastros. "É a partir da descoberta desses padrões _ bons e ruins _, que a Secretaria cumpre com sua função de construir novas normas para a área de compras", esclarece a gerente.

Minerar é preciso

Encontrar relacionamentos entre elementos, ou regras de associação, dentro de grandes massas de dados é uma das técnicas da mineração e, também, sua questão central. Exemplificando, qual o número de combinações é possível obter relacionando dois pares de produtos de um supermercado que estoca cinco mil mercadorias?

Meira Jr. observa que, quando o número de combinações aumenta progressivamente, é preciso dispor de algoritmos que capturem a informação de modo eficiente e rápido. Uma das estratégias adotadas pelo Tamanduá, explica o pesquisador, consiste em utilizar uma arquitetura de processamento de dados em que o ambiente de computação é distribuído em outros equipamentos, pois, muitas vezes, as bases de dados são maiores do que a memória de qualquer das máquinas.

Segundo Nazaré Bretas, outros diferenciais que a UFMG está imprimindo à tecnologia referem-se à segurança e à capacidade dos sistemas que participam do processamento de informações de operarem entre si. A inovação, no entanto, fica a cargo de um novo módulo em protótipo, que associa a mineração de dados à busca de informação não estruturada, como a que figura em texto livre na Internet. Através desse recurso, o governo consegue identificar que tipo de marca foi comprada por uma unidade gestora, entre outras vantagens. "A arquitetura da técnica é racional, segura, de baixo custo e gerenciável", afirma Nazaré. Ela revela que seu uso é inédito no governo federal. "Há ferramentas inteligentes em áreas como a Receita Federal, mas nenhuma iguala-se ao Tamanduá", avalia. O software está sendo implementado também no Ministério da Justiça, na Controladoria Geral da União, na Secretaria do Planejamento do Estado de Minas Gerais e no Crisp/UFMG

Toda pesquisa parte de um referencial teórico e de hipóteses. A partir da investigação é possível refutá-los ou não. Com a mineração de dados, o caminho é inverso: o software explicita as regras de associação entre as variáveis de bases de dados e cabe ao pesquisador decidir quais são relevantes. A técnica surgiu há mais de dez anos.