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Nº 1511 - Ano 32
1.12.2005

Os frutos da genética

Núcleo de Ciências Agrárias cria banco genético para preservar pequizeiro no Norte de Minas

Ana Rita Araújo

coleta dos frutos do pequi, realizada apenas de novembro a janeiro, representa 50% da renda anual dos agricultores no Norte de Minas. Apesar de sua importância econômica, essa espécie do cerrado tem sido ameaçada pelo corte ilegal de árvores, pelo avanço da agricultura e pela falta de estratégias para garantir sua conservação e variabilidade genética.

"A presença do pequi é uma marca do cerrado, que também sofre com a degradação”, preocupa-se o professor Paulo Sérgio Nascimento Lopes, pesquisador do Núcleo de Ciências Agrárias da UFMG, que está montando o primeiro banco genético do Norte de Minas voltado para a pesquisa e preservação do pequizeiro. O projeto começou em 2003, em dez municípios do Norte mineiro, com o levantamento dos principais genótipos existentes na região.

Nesta etapa do estudo, foram analisadas 200 plantas e escolhidas 50 que, estatisticamente, apresentavam maiores variações ente si. “Selecionamos os exemplares mais representativos para conservar a diversidade”, diz Lopes, ao citar características como espessura da polpa, coloração do fruto, tamanho e peso do caroço, capacidade de produção e de resistência a pragas e a doenças.

Em seguida, foram coletados galhos das 50 árvores selecionadas, para possibilitar a clonagem, por meio da técnica de enxertia. A reprodução da planta por semente não garantiria resultados confiáveis, uma vez que a semente não gera indivíduos iguais à planta original.

As plantas matrizes, obtidas por clonagem, estão em um mesmo ambiente, onde serão observadas por cerca de dez anos, período em que serão agregadas outras informações importantes, como estudos do solo e do clima. “No futuro, disponibilizaremos estes conhecimentos para o produtor”, diz o professor. Ele ressalta que a pesquisa não pretende instalar a monocultura do pequizeiro nem a produção em larga escala, mas preservar a diversidade e ampliar a oferta de frutos por meio da instalação de sistemas agroflorestal e silvopastoril e recuperação de áreas degradadas.

“Pioramento genético”
Paulo Sérgio Lopes explica que, ao coletar todos os melhores frutos e desprezar os que não são considerados atrativos, os extrativistas fazem, sem perceber, um “pioramento genético” do pequizeiro, pois as sementes não coletadas poderão dar origem a novas plantas.

Outras pesquisas em andamento no NCA trabalham com várias frutas típicas do cerrado, como o coquinho azedo, a mangaba, a cagaita, o araticum e o umbuzeiro. Além da preservação, os estudos buscam colaborar com as comunidades que trabalham com o extrativismo. Para isso, o NCA estabelece parcerias com cooperativas e ONGs que produzem sucos, polpas e conservas pelo benefi­ciamento dos frutos do cerrado. “Há algum tempo, foi realizada análise nutri­cional dos produtos comercializados pela ONG Centro de Agricultura Alternativa”, exemplifica o professor.

Além da montagem do banco de gemoplasmas, há outras iniciativas com o objetivo de ajudar os extrativistas na preservação do pequizeiro. No encontro anual de comunidades rurais no municípo de Japonvar e em palestras para extrativistas em toda a região, os pesquisadores do NCA divulgam importantes informações sobre a espécie. “Estamos sugerindo, por exemplo, que no período da coleta eles plantem diretamente algumas sementes de genótipos superiores, que germinarão no início da próxima estação chuvosa”, diz Lopes.

Outra experiência tem sido realizada, com a ajuda dos extrativistas, em uma área de 40 mil metros quadrados, também em Japonvar. “Estamos usando o sistema agroflorestal, ao aumentar a densidade do pequizeiro, mas respeitando as outras plantas nativas, para evitar o monocultivo”.

Já no município de Grão Mogol, os pesquisadores do NCA estão realizando, por encomenda do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), projeto de assentamento agroextrativista, que propõe uma exploração diferente da terra. “Acreditamos que este poderá se transformar em um assentamento modelo para o Incra”, diz Paulo Sérgio Lopes, acrescentando que no local há também experiências com cultivo de plantas medicinais.

As pesquisas com a fruta do cerrado são financiadas pela Fapemig, CNPq e Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

Valor nutritivo do pequi

A casca do fruto, processada em farinha, contém:
- lipídios: 1,54%
- proteínas: 5,76%
- carboidratos totais: 50,94%
- fibra alimentar: 39,97%

Cada 100 gramas de polpa contêm:
- vitamina C: 70,9 a 105 mg
- lipídios: 20 a 27%
- proteínas: 2,2 a 6,0%
- calorias: 267,9
- vitamina B1: 0,030 mg
- vitamina B2: 0,463 mg
- cobre: 0,4mg
- ferro: 1,6 mg
- sódio: 2,1 mg

A amêndoa possui:
- teor de gordura: entre 23,8 e 28,7%
- teor de proteína: entre 9,7 e 20,3%
- calorias: 317 Kcal/100 gr