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Nº 1596 - Ano 34
11.02.2008

Mal-estar na sala de aula

Dissertação de professora da UFMG relata deterioração na relação professor-aluno em escola municipal de BH

Bruno Vieira dos Santos

Jussara Paschoalino
Jussara Paschoalino: pesquisa baseada em conceito da pedagogia francesa

Agressões verbais e físicas, psicológico abalado, emocional à flor da pele. Situações degradantes de trabalho, que podem causar estresse excessivo, ataques do coração e acidentes vasculares. Esses são alguns sintomas de um mal que atormenta a escola pública brasileira e que foram diagnosticados em estudo de caso conduzido pela pesquisadora Jussara Bueno de Queiroz Paschoalino.

Ela se deteve sobre as condições do trabalho docente de uma unidade da rede municipal localizada na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Os resultados de sua investigação estão em dissertação defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (FaE).

Jussara Paschoalino realizou visitas periódicas à escola no período de março a novembro de 2006, quando fez entrevistas semi-estruturadas com sete professores, com o coordenador e com o vice-diretor da instituição. Ela também manteve conversas informais com outros docentes e fez observação de campo em salas de aulas e durante as reuniões dos professores.

O estudo gira em torno do conceito de mal-estar, definido há mais de 50 anos pela pedagogia francesa. Segundo a autora, o incômodo, além de físico, alcança também as dimensões emocional e psicológica do mestre, que cada vez mais tem dificuldades para estabelecer uma relação de confiança com seus discípulos. “Numa relação aluno-professor, é necessário ter fé. E fé, nesse caso, tem a ver com a capacidade de o docente transmitir o conteúdo e do aluno em apreendê-lo”, explica.

Sofrendo em silêncio

A dissertação revela que os professores da escola que pesquisou sofrem calados com o mal-estar e com os abalos psicológicos. Agressões verbais, banalizadas no universo escolar, intimidam o professor, que opta pelo silêncio em lugar da denúncia. Segundo Jussara, o professor vive uma situação de silenciamento; ele tem vergonha de expressar o seu sofrimento. “Os professores não têm coragem de falar o que está acontecendo; eles colocam, como dificuldades, o mau comportamento dos alunos, a decadência do ensino público, mas não se expõem abertamente”, argumenta Jussara.

A pesquisadora relata que a agressividade está aumentando. A escola pesquisada apresenta episódios nada edificantes, como o da professora atingida na perna por uma cadeira atirada por um aluno. O resultado desse ambiente esgarçado materializa-se no grande número de licenças médicas. As causas relatadas são sempre as mesmas: dores nas costas, má circulação sangüínea e angústia, entre outras.

Apesar de debilitados, os professores ouvidos pela pesquisadora Jussara Paschoalino se esforçam para marcar presença e querem ajudar a mudar o panorama. “Ele se empenha até o limite, mas a pressão do ambiente é maior, frustrando e deixando-o doente”, observa.

Na visão da professora e diretora da Faculdade de Educação, Antônia Vitória Soares Aranha, orientadora do trabalho, essa escola necessita urgentemente de uma intervenção social capaz de tratar o mal-estar. Essa intervenção, pondera, não pode ser isolada, mas promovida por um conjunto de forças sociais capazes de “curar” a escola. “É um estudo
preocupante, pois mostra uma realidade que precisa ser revertida. E isso não é tarefa apenas da escola”, defende.

Jussara Paschoalino aponta duas medidas que podem ajudar a solucionar o problema do mal-estar nas escolas: uma é a implantação de um departamento municipal de escuta do professor para evitar que ele chegue a uma situação-limite. A outra é repensar a formação do professor, adequando-a a uma realidade em que a escola concorre com outros instrumentos de aprendizado e socialização, como a televisão e a internet.

Dissertação: A dialética de ser professor na conjuntura da Escola Plural – matizes da profissão: formação, mal-estar, adoecimento
Autora: Jussara Bueno de Queiroz Paschoalino
Orientadora: Antônia Vitória Soares Aranha
Defesa: agosto de 2007