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Nº 1639 - Ano 35
2.2.2009

“Os primeiros resultados
são auspiciosos”

Flávio de Almeida

Mauro Braga
Mauro Braga: mosaico representativo

Em torno de uma mesa repleta de cálculos e estatísticas sobre a adoção do bônus no vestibular da UFMG, o pró-reitor de Graduação, Mauro Braga, recebeu a reportagem do BOLETIM para a seguinte entrevista, na qual faz uma análise sobre o potencial inclusivo do programa. Cauteloso, lembrou que os dados ainda merecem uma avaliação mais profunda, mas se mostrou satisfeito com os primeiros resultados, que qualificou de “auspiciosos”. Braga destacou o impacto do sistema sobre os cursos de Medicina e Direito, tradicionalmente mais elitizados, observou o crescimento dos egressos de escolas estaduais e vislumbrou uma alteração no perfil do corpo discente da UFMG, tendência que vê com bons olhos. “Ela traz para dentro da instituição um mosaico mais próximo da população brasileira que conclui o ensino médio”, analisa.

Antes da adoção do bônus, havia uma grande expectativa em relação ao seu poder inclusivo? Ela se confirmou?

As simulações feitas anteriormente para avaliar o potencial do bônus levavam em conta alunos que cursaram apenas o ensino médio. E em cima delas, alimentávamos a expectativa de ter 50% dos aprovados no Vestibular 2009 egressos de escola pública. O índice real foi de 45%. Essa pequena diferença ocorreu porque, na prática, o bônus alcançou candidatos que, além do ensino médio, cursaram também as quatro últimas séries do ensino fundamental, o antigo ginásio, em escola pública. Mas está dentro do esperado. Sabíamos que em alguns cursos como Arquitetura, Engenharia de Produção e Ciências Econômicas o resultado não seria tão bom.

Por quê?

São cursos que têm um baixo número de vagas e um pequeno número de concorrentes entre os egressos de escolas públicas. Por isso, o peso do bônus foi pequeno. Em compensação, o impacto foi muito grande em relação a outros cursos como Medicina, Direito noturno e Farmácia. Este último, por exemplo, me surpreendeu. Dos aprovados, 43% beneficiaram-se do bônus, e 20% só foram aprovados por causa dele.

Os mais resistentes à ideia temiam pela queda do nível dos aprovados...

Quando se concede um bônus de 15%, a queda de desempenho, em tese, está limitada a esse patamar. Na prática, a diferença máxima entre a nota de corte com bônus e a sem bônus chega, no máximo, a 10%. Admitir um candidato com desempenho de 60% em detrimento de outro com 63% não representa uma queda de desempenho. Existe, claro, uma diferença de nota, mas isso não significa que haja uma disparidade de preparação entre os candidatos para seguir seus estudos na universidade. Toda medida tem sua margem de erro e numa prova ela é muito maior. Se as provas abertas do último vestibular fossem corrigidas por outra equipe, certamente as notas mudariam. A avaliação não é precisa.

O senhor espera uma mudança substancial no perfil do alunado da UFMG com a adoção continuada do bônus?

Essa mudança já está em curso. Em 2008, recebemos 33% de estudantes de escolas públicas. Este ano, esse índice subiu para 45%. E o mais importante é que esse aumento concentrou-se nas escolas estaduais. Em 2008, admitimos 865 candidatos de escolas estaduais. Este ano, foram 1.690 estudantes, praticamente o dobro. Em Medicina, esse aumento foi ainda maior. O curso recebeu 52 alunos de escolas estaduais em 2009 frente aos 18 aprovados no ano passado.

Essa mudança é boa para a Universidade?

Ela traz para dentro da instituição um mosaico mais próximo da população brasileira que conclui o ensino médio. Temos também a expectativa de receber um estudante com mais gana para continuar seus estudos, pois precisa deles para consolidar sua posição na sociedade. Imaginamos que esses jovens vão valorizar a oportunidade de estudar numa universidade pública como a UFMG.

O bônus é suficiente para ampliar a representantividade social do corpo discente da UFMG ou seriam necessárias novas medidas de inclusão?

É difícil fazer qualquer afirmação neste momento. Mas há cursos que, de fato, foram pouco afetados pelo bônus, e que talvez necessitem de uma medida adicional para serem mais inclusivos. O curso de Arquitetura é um exemplo. No Vestibular 2009, 18% dos alunos aprovados na versão diurna do curso são de escolas públicas {apenas 3% dos aprovados no vestibular dependeram do bônus}. Mas, na versão noturna, esse índice sobe para 53%. Em alguns casos, o bônus não pode ser implantado isoladamente; é preciso que ele venha acompanhado de outras medidas, como a abertura de vagas noturnas.

É claro que se pode alegar que a cota tende a resolver a questão da inclusão de maneira mais simples. Só que com a cota o aluno entra independentemente do desempenho. Com o bônus, não se abre mão do desempenho, ainda que ele seja menor. Conjugamos mérito e inclusão social.

O sistema de bônus também previu um adicional para candidatos que se autodeclaram negros ou pardos? Isso não traz riscos de distorção?

O nosso programa oferece 5% a mais em relação à pontuação total do aluno. Esse valor não é tão elevado assim para gerar uma distorção. O Conselho Universitário optou por incluir esse diferencial de raça e, de agora em diante, vamos acompanhar os resultados. A princípio, não há qualquer sinal de que a autodeclaração tenha resultado em algum tipo de distorção.