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Nº 1675 - Ano 36
9.11.2009

Impulso para a pesquisa

Novo biotério elevará qualidade dos estudos envolvendo animais na UFMG

Foca Lisboa
Fachada do novo biotério que será inaugurado no dia 13 de novembro

Ana Rita Araújo

No próximo dia 13 será inaugurado o biotério de produção do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), espaço que mudará o patamar da pesquisa científica e tecnológica feita na Universidade e nas instituições a ela associadas. Vinculado ao Centro de Bioterismo (Cebio), o ambiente é destinado à produção de animais experimentais de qualidade, tarefa apontada como “gargalo” na infraestrutura de pesquisa no Brasil e em toda a América Latina, como explica o vice-diretor do ICB, professor Sérgio Costa Oliveira, que coordenou o projeto de implantação do biotério.

Segundo ele, quando estiver funcionando em capacidade plena, o espaço de mil metros quadrados produzirá cerca de 40 mil ratos e 70 mil camundongos por ano, para atender a cerca de 80 grupos de pesquisa do ICB, além de experimentos em outras unidades acadêmicas, como as faculdades de Farmácia e de Odontologia e as escolas de Medicina e de Veterinária. “Também é papel do Cebio atender demandas de pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições de Minas Gerais, que constituem a Rede de Bioterismo financiada pela Fapemig”, explica a diretora do Centro, professora Ana Lúcia Brunialti Godard. Financiado pela Finep, o novo biotério recebeu apoio da Capes para a compra de equipamentos, além de recursos da Fapemig e da própria UFMG.

Em princípio, serão criados animais isogênicos, isto é, de linhagens geneticamente idênticas, como camundongos BALB/c e C57BL/6, as mais utilizadas. “A produção de linhagens transgênicas e dos knockouts será implantada quando o biotério estiver em pleno funcionamento”, informa Sérgio Costa, que vislumbra a contribuição da UFMG para a melhoria do nível de pesquisas tecnológicas de empresas privadas, uma vez que a oferta de animais experimentais de qualidade no Brasil é muito pequena, restringindo-se praticamente a duas universidades paulistas – Unicamp e USP – e à Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Animais certificados

“O Cebio passará a funcionar com uma estrutura ideal para cumprir sua finalidade de produzir animais de experimentação padronizados, dentro de normas internacionais”, informa Ana Lúcia Godard. A busca pela melhoria de procedimento na produção tem por objetivo fornecer aos grupos de pesquisa animais experimentais de linhagens genéticas puras, com cargas microbiológicas específicas, que não afetem os resultados dos diferentes experimentos. Para isso, são controlados elementos como o ambiente, com filtragem e renovação periódica do ar; e são realizados monitoramento biológico e esterilização da água, do alimento e das raspas de madeira que servem de cama para as cobaias. “Ao trabalhar com animais homogêneos, os pesquisadores têm menor desvio-padrão nos experimentos, o que leva à eventual redução do número de animais por grupo experimental”, completa Ana Lúcia Godard.

Atualmente, cada grupo de pesquisa produz em ambiente próprio as cobaias de que necessita, enfrentando uma série de dificuldades. “Não é fácil manter uma infraestrutura física e de recursos humanos adequada para um trabalho especializado como esse”, explica o vice-diretor.
Novos funcionários recém-contratados por concurso público e os que já trabalham no Cebio deverão passar por treinamento específico para compor a equipe técnica do Biotério. Ainda este ano será oferecido curso de 45 horas-aula sobre prática de monitoramento genético das linhagens. De acordo com a diretora do Cebio, os recursos humanos adequados ao trabalho constituem um desafio a ser vencido. “Não existe no Brasil formação em ciência de animais de laboratório ou bioterismo, seja em nível técnico ou superior. A própria Lei Arouca, que é recente, deixa de fora essa questão”, analisa.

Ela lembra que alguns mecanismos de funcionamento do biotério são automatizados, como o ciclo de luz, renovação do ar e controle de temperatura. “Mas não é automático dar comida, trocar gaiola e acasalar os animais, autoclavá-los, preparar materiais, entre diversas outras tarefas. Cada momento desses requer um técnico preparado para o trabalho, com formação muito especializada”, diz a professora.