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Nº 1699 - Ano 36
14.6.2010
Diogo Domingues |
Marcos Pimenta: grupo da UFMG lidera pesquisa de nanotubos no Brasil |
Ana Maria Vieira
Planta piloto para fabricação em escala pré-industrial de nanotubos de carbono, insumo essencial para produtos de alta tecnologia, deve ser instalada em Belo Horizonte. A proposta, orçada em R$ 30 milhões, prevê construção de módulo de pelo menos três mil metros quadrados para abrigar o Centro de Tecnologia em Nanotubos (CTNanotubos). Será a primeira instalação do gênero do país. “A previsão para 2011 é que a produção mundial de nanotubos atinja milhares de toneladas, mas o Brasil ainda não é competitivo nesse mercado”, afirma Marcos Pimenta, professor do Departamento de Física da UFMG e coordenador do projeto.
O projeto nasceu após avaliação, feita pela Rede Temática de Nanotecnologia da Petrobras, do valor estratégico dessa modalidade de empreendimento para o país. Convidados em novembro de 2009 a apresentar proposta que suprisse essa lacuna, pesquisadores da UFMG sugeriram a instalação do CTN. Desde o final da década de 90, físicos da instituição lideram nacionalmente a pesquisa, a produção e o fornecimento desses nanomateriais a academias brasileiras. Além disso, registraram dez pedidos de patentes – três deles internacionais – de produtos baseados em nanotubos de carbono.
Segundo Marcos Pimenta, o CTNanotubos poderá ser viabilizado por meio de parcerias com a própria Petrobras, o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que no final de maio liberou R$ 500 mil para a etapa inicial do empreendimento – que inclui a elaboração do plano de negócios. A expectativa é que o Centro integre o complexo do Parque Tecnológico de Belo Horizonte. “O projeto já foi apresentado ao órgão”, relata Pimenta.
A aplicação industrial dos nanotubos alcança as áreas de energia, eletrônica, medicina e indústrias química e petroquímica. Com estrutura cilíndrica formada por átomos de carbono, o diâmetro dessas moléculas corresponde a bilionésima parte do metro (um nanômetro). Essa característica lhe assegura propriedades diferenciadas de resistência mecânica e condutividade elétrica e térmica. A simples adição de 0,5% de nanotubos em determinados materiais pode aumentar sua resistência em até 20 vezes.
“Grande parte da produção hoje se destina ao revestimento de carcaças plásticas de componentes eletrônicos produzidos na Ásia. A introdução de nanotubos nos plásticos dissipa as imensas cargas estáticas desses componentes”, explica o professor. O uso industrial, no entanto, é bastante recente, e poucas empresas lideram a produção mundial dos nanotubos e de suas aplicações. “Até muito recentemente, os nanotubos de carbono estavam disponíveis em quantidades limitadas e a preços exorbitantes. Hoje, já é possível obtê-los em volumes maiores”, registra Pimenta. Ele observa que o salto decorreu sobretudo da expansão de investimentos em pesquisa sobre o material. Apenas os Estados Unidos aplicaram US$ 8 bilhões na área de nanotecnologia, em 2008. Com o aumento da produção no mercado, a previsão é que o custo entre em movimento de queda nos próximos anos. “Isso permitirá às mais diversas indústrias a exploração de novos mercados por meio de produtos combinados com nanotubos de carbono”, projeta Marcos Pimenta.
Os produtos resultantes da combinação de materiais tradicionais com nanotubos de carbono também terão espaço no CTNanotubos. Como registram os pesquisadores no projeto encaminhado à Petrobras, a planta piloto deverá oferecer variedade de nanomateriais de carbono. Mas outra área das instalações será destinada ao desenvolvimento de aplicações demandadas pelo mercado e, mais imediatamente, ao escalamento – aumento da capacidade e produção – de cimento e plástico “aditivados” com nanotubos.
Pesquisas com esses dois nanocompósitos encontram-se em estágio avançado na UFMG. Vantagens do cimento nanoestruturado já foram relatadas em reportagem publicada pelo BOLETIM em 2008 (edição 1622). À época, o professor Luiz Orlando Ladeira explicava que o “supercimento” teria potencial para atuar como redutor de porosidade e reforço estrutural do cimento, com resistência até três vezes superior à dos materiais convencionais. Uma de suas possíveis aplicações seria em plataformas petrolíferas subaquáticas.
Outro “combo”, o nanocompósito de plástico, poderia ser aplicado em tubulações de perfuração petrolífera, aumentando sua resistência em ambiente marinho, conforme projeto em colaboração com a Petrobrás, coordenado na UFMG por Glaura Goulart.
“A meta é que, cinco anos após a instalação do Centro, o país tenha uma planta industrial capaz de produzir até três toneladas de nanotubos de carbono ao ano”, calcula Pimenta. A função do Centro de Tecnologia em Nanotubos, no entanto, não é se tornar unidade industrial. Sua tarefa é estabelecer know-how para o país migrar da produção em escala pré-industrial para a industrial e promover capacitação técnica das empresas que usam essa tecnologia. O CTNanotubos, que deverá admitir cerca de 20 profissionais, também contará com laboratório para pesquisa e proposição de protocolos de uso seguro dos nanotubos.