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Nº 1776 - Ano 38
21.5.2012

Alta no padrão

Tese mostra que melhoria do nível de vida dos brasileiros pressiona demanda por água, energia e coleta de lixo

Ana Rita Araújo

Luiza Bongir
Montero Dias: modelos desenvolvidos em Belo Horizonte e validados em Porto Alegre
Montero Dias: modelos desenvolvidos em Belo Horizonte e validados em Porto Alegre

Se mantido o atual nível de mobilidade socioeconômica entre classes no Brasil, em um cenário de crescimento, na proporção apresentada hoje pelo país, o consumo de energia elétrica pode aumentar em quase 35% nos próximos cinco anos, prevê o engenheiro civil David Montero Dias, autor de tese de doutorado que aborda o impacto da renda domiciliar sobre a demanda de água, energia elétrica e geração de resíduos sólidos em centros urbanos. Defendido em abril no programa de pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia, o trabalho projeta dois cenários de crescimento – moderado e otimista – e um de retração econômica.

Segundo o autor, caso o volume dos investimentos nesses insumos não seja adequado, o crescimento econômico pode ficar comprometido, por se tratar de serviços essenciais. Montero Dias explica que a metodologia desenvolvida em sua pesquisa pode ser usada por gestores públicos nos níveis municipal, estadual e federal para planejar ações de investimento. “Com a ferramenta é possível realizar acompanhamento sistemático, conjuntural, para garantir o atendimento estrutural em longo prazo”, completa.

Sob orientação dos professores Carlos Barreira Martinez e Marcelo Libânio, do Departamento de Engenharia Hidráulica da Escola de Engenharia, Montero Dias trabalhou valores históricos de consumo de água e de energia de cada região de Belo Horizonte, compatibilizando-os com dados da pesquisa mensal de empregos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Obtivemos um perfil de renda, de consumo e de produção de lixo, a partir do qual conseguimos montar modelos orientados para áreas urbanas”, conta o autor. Os modelos foram desenvolvidos em Belo Horizonte, cidade representativa da média brasileira, segundo o pesquisador, e validados para a realidade de Porto Alegre, localidade na qual se avaliaram os impactos relativos à variação de renda. “Os resultados são aplicáveis a qualquer realidade urbana brasileira”, assegura.

Projeções

O primeiro cenário descrito pela tese O Impacto da renda domiciliar sobre a demanda de água, energia elétrica e geração de resíduos sólidos em centros urbanos: uma modelagem a partir de cenários socioeconômicos conjunturais projeta uma realidade de crescimento do país que, além de maior consumo de energia elétrica, vai pressionar os prestadores de serviço com uma demanda de mais 13% por água tratada e nada menos que 28% de coleta de lixo. “Trata-se de crescimento moderado. É o cenário que, acredito, vai se manter nos próximos cinco anos”, opina.

O segundo cenário projetado – a que o autor chamou de “otimismo elevado” – aproxima o Brasil da realidade de países desenvolvidos. “Não sabemos quanto tempo o país levaria para atingir tal quadro, que elevaria as demandas de energia em 64,4%, de água em 23,8% e de manejo de lixo em 56,8%”, informa o pesquisador, ao lembrar que a metodologia também permitiu estimar quadro de retração econômica, caso haja crise que faça com que o consumo no país retroceda aos níveis da década de 1990, o que tornaria ociosa parte da estrutura montada para prestação desses serviços.

A queda seria respectivamente de 20,2%, 9,9% e 13,9% para energia elétrica, água e manejo dos resíduos sólidos, considerando que as taxas atuais de cobertura de serviços de água e energia nas grandes cidades brasileiras aproximam-se de 100%, enquanto ainda há déficit de tratamento e coleta de esgoto. No caso do manejo de resíduos sólidos, a maior parte dos municípios ainda utiliza lixões, embora o recomendado seja o uso de aterros sanitários, usinas de compostagem, incineramento e controle ambiental.

Para o pesquisador, o gerenciamento das demandas desses insumos não deve ser aplicado somente em situações de crise, mas incorporado à gestão pública contínua, independentemente da esfera política. “Considerando os coeficientes de determinação encontrados, pode-se inferir que a metodologia sirva para aplicação em outros estados e centros urbanos”, destaca. Ele explica que a principal motivação do trabalho encontra-se nas significativas alterações na estrutura de distribuição socioeconômica da população brasileira em decorrência de programas de distribuição de renda por iniciativas governamentais. “Diante dessa realidade, emerge a preocupação em se garantir a infraestrutura necessária ao atendimento das futuras demandas”, diz o autor, acrescentando que, do ponto de vista da engenharia, torna-se indispensável estimar os consumos e gerações futuras, de acordo com cenários econômicos projetados.