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Nº 1778 - Ano 38
4.6.2012

opiniao

A educação como
valorização do espaço rural

Vagner Luciano de Andrade*

O consumo na contemporaneidade exerce forte pressão sobre a natureza e sobre o espaço rural. Após o estabelecimento da Revolução Industrial, o consumismo se tornou mais intenso devido aos processos de extração de recursos naturais, objetivando transformá-los em bens de consumo, atendendo aos ditames do capitalismo urbano-industrial. A industrialização crescente intensificou a urbanização, aumentando a dilapidação da natureza, colocando-a à disposição de poucos homens com seus interesses de lucro e poder, desprezando assim o interesse coletivo pela sustentabilidade.

Neste contexto, a cultura rural acabou sendo ignorada ou considerada como sinônimo de atraso e retrocesso, e diante disso, cresceu assustadoramente a submissão e dependência do campo em relação às cidades. Uma realidade que passou a ser imposta a inúmeras comunidades rurais, que se tornaram apenas espaços produtores de matérias-primas e produtos direcionados ao consumo da sociedade urbano-industrial.

Assim, o patrimônio ambiental inserido nessas comunidades passou a ser constantemente utilizado de forma predatória, desrespeitando sua capacidade de suportar tais impactos e resultando em problemas socioambientais. Sugiram então conflitos entre os espaços rural e urbano e entre grandes produtores rurais, ansiosos por lucro, e pequenos agricultores ligados à terra, da qual obtêm o “suado” sustento.

Diante desse consumo exacerbado, que gera dilapidação ambiental, disparidades sociais, incertezas e ausências de perspectivas, resta ao pequeno produtor resistir, mantendo seu vínculo harmônico com a terra de seus ancestrais, ou sucumbir, atendendo à voracidade do sistema opressor. Se a alternativa escolhida for a segunda, não há outro caminho: a contínua exploração dos recursos naturais até sua exaustão, criando o rompimento definitivo com a realidade rural, levando-o a procurar por novas oportunidades nas cidades.

Ao ser expulso, o homem do campo rompe com sua cultura de contato sustentável com a terra, levando-o a vislumbrar os atrativos dos grandes centros urbanos e a criar fantasias que serão posteriormente transformadas em frustração e exclusão. Ao se dirigir à cidade grande em busca de melhorias e sem qualificação, sem emprego, sem perspectivas, ele e sua família estarão condenados à inserção nas problemáticas periferias, na maioria dos casos sem direito a condições dignas de vida, ampliando os índices de dominação, exploração, degradação e alienação, já tão comuns na sociedade atual.

Essa realidade torna imperiosa a discussão em torno da construção da sustentabilidade no campo, que deve se pautar principalmente pela valorização dos patrimônios cultural e natural das comunidades e seus habitantes, promovendo meios efetivos de fixação do agricultor familiar. Mas, para que isso ocorra, será necessário revisar os atuais padrões sociais vigentes no interior, propondo, inclusive, uma imediata transformação do processo de formação do cidadão rural que hoje se baseia em um modelo de educação convencional, que reproduz ideias historicamente concebidas na cidade. Neste sentido, é relevante lembrar que as dinâmicas e realidades presentes no meio rural são bastante diferentes das do contexto urbano.

Nesse aspecto, a UFMG vem construindo significativas contribuições ao ofertar o curso de Licenciatura em Educação do Campo (Lecampo), por meio da Faculdade de Educação (FaE). Essa modalidade de graduação é imprescindível para fortalecer alguns questionamentos pedagógicos:

A partir desses questionamentos, e tendo como base o artigo 28 da Lei Federal 9.394 de 20/12/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), uma reestruturação do sistema educacional brasileiro faz-se necessária no sentido de diferenciar as dinâmicas e realidades rurais das urbanas e reforçar a construção de modelo educativo rural baseado em formação socioambiental que efetive a sustentabilidade no campo. A revisão dos padrões educacionais vigentes no ambiente rural implica, sobretudo, o rompimento com esse modelo de educação convencional, baseado na vida urbana e consumista e reprodutora das ideias capitalistas dominantes. Que os alunos reconheçam o espaço rural como socialmente relevante para a construção de uma nova sociedade. E que se amplie o número de educadores que trabalhem nessa nova diretriz pedagógica para romper efetivamente com a desvalorização do espaço rural.

* Bacharel/licenciado em Geografia e Análise Ambiental pelo UNI-BH e graduando em Licenciatura em Educação do Campo pela Faculdade de Educação da UFMG