Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


Editorial

Entrevista
UFMG, espaço de formação crítica e cidadã

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Conforto de lar

Bibliotecas
Multiplicador do conhecimento

Iniciação Científica
As primeiras interrogações ninguém esquece

Diplomação
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Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

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Assistência ao Aluno

Conforto de lar

Instituição de apoio, Fump realiza trabalho que garante a permanência de alunos com dificuldades financeiras na Universidade

Eber Faioli

“Estamos sempre brincando que temos a mãe Fump.” A analogia pode soar exagerada para muitos, mas faz total sentido quando expressa pela estudante do quinto período de Enfermagem Cecília Maria Lima Cardoso, de 22 anos. Fump é a Fundação Mendes Pimentel, responsável pela assistência socioeducacional, financeira e de saúde a Cecília e a mais de cinco mil estudantes da UFMG. Voltada especialmente para os alunos com dificuldades financeiras, a Instituição atende também, em diferentes níveis, qualquer aluno, atuando como uma das maiores responsáveis pela diminuição da taxa de evasão na UFMG.

Quando deixou, em Sete Lagoas, cidade da Zona Metalúrgica, a mãe e sete irmãos, Cecília passou por momentos difíceis. Única da família a conquistar uma vaga na Universidade, ela depositou todas as esperanças na profissão que escolhera, motivada pelas necessidades do pai, muito doente na época em que ela prestou Vestibular. “Estou extremamente satisfeita com a opção que fiz”, assegura, recordando, entretanto, os problemas que teve nos tempos de adaptação. “Eu tinha receio de tudo”, confessa.

Os temores de Cecília, segundo ela, foram sendo dissipados à medida que a realidade de estudante preenchia sua vida. E foi nesse contexto que a “mãe Fump” se tornou fundamental para sua segurança e bem-estar. Desde o primeiro semestre em Belo Horizonte, ela reside na Moradia Universitária Ouro Preto, uma das quatro existentes na Capital (existe uma quinta no Campus Montes Claros, da Ciências Agrárias). “Para mim, a moradia é tudo”, afirma. De família pobre, Cecília acredita que, se não vivesse numa unidade da UFMG, a mãe teria feito o impossível para ajudá-la a se manter longe de casa, porém o preço seria muito alto e pago com sua intranqüilidade.

A moradia universitária é uma conquista que vem se ampliando nos últimos anos. Atualmente, ela atende a 555 estudantes, que dividem apartamentos em prédios nos bairros Dona Clara, Santa Rosa, Nova Cachoeirinha e Ouro Preto. Cerca de 350 novas vagas serão abertas no próximo ano, pois uma nova moradia será construída. Segundo Maria José Cabral Brant, Presidente da Fump, a demanda é, praticamente, toda atendida, mas está restrita a critérios que deixam gente necessitada de fora.

Eber Faioli
Maria José Cabral: Fump vive da ação solidária entre os alunos

As vagas atuais são disputadas prioritariamente por alunos que estão cursando o primeiro ano e 60% delas são destinadas apenas aos estudantes carentes. Das vagas remanescentes, 30% destinam-se a todos os estudantes da UFMG; 10%, a professores e visitantes. Se as vagas fossem expandidas para alunos que estão na Universidade há mais tempo, não haveria mesmo chances de atender os pedidos por moradia. Os novatos são os beneficiados porque, segundo Maria José, a Instituição entende que eles são mais suscetíveis tanto ao choque cultural quanto às dificuldades para se manter na cidade. “O ideal seria acolher a todos, mas é impossível, pelo menos por enquanto”, afirma.

As moradias são cobiçadas porque, além de um lugar seguro e confortável para se viver, constituem um rico espaço de convivência. No bairro Ouro Preto, na mais nova delas, os estudantes dividem apartamentos com seis quartos individuais, sala, cozinha, área de serviço e dois banheiros. Lá existem também quitinetes, habitadas por somente dois alunos. A Ouro Preto ganhou, no semestre passado, computadores com acesso à Internet, num projeto de Inclusão Digital, coordenado pelo Departamento de Ciência da Computação (DCC).

Responsável pelo projeto do computador popular, o DCC implantou na Ouro Preto seis salas equipadas com 42 máquinas, além de um servidor, uma impressora, um gravador de CD e uma scanner, por um custo muito abaixo do previsto e que possibilitará a outras moradias o mesmo tipo de serviço. Os estudantes têm que se organizar para o funcionamento das salas de computadores, para que todos possam utilizá-las e mantê-las, contribuindo com uma caixinha para, por exemplo, comprar cartuchos. “A principal vantagem da moradia é a igualdade de condições entre todos os habitantes. Faz muita diferença todo mundo ser estudante, estar vivendo aqui com o mesmo objetivo”, avalia Soraia Feliciano Mercês, de 28 anos.

Foca Lisboa
Soraia Mercês: se não fosse a Mendes Pimentel, não estaria estudando

Aluna do quarto período de Letras, Soraia é de Ipatinga, no Vale do Aço, mas vivia com uma família que a acolheu quando passou no Vestibular. “A minha primeira reação foi de susto e de medo, porque sempre ouvi falar que a UFMG era escola pra rico e eu não tinha dinheiro nem para pagar a matrícula”, lembra ela. O socorro partiu da Fump, quando Soraia escutou sobre a Instituição num programa de rádio. “Se não fosse a Mendes Pimentel, eu não estaria estudando”, assegura.

Além da moradia, Soraia usufrui de bolsa de manutenção, pela qual recebe cerca de R$ 240. Esse é um auxílio reembolsável. Depois de dois anos de formada, ela começará a restituir à Fump o dinheiro emprestado. Soraia pretende trocar esse benefício por outro, o da bolsa de trabalho, pela qual os estudantes recebem a mesma quantia e são alocados em unidades da administração da UFMG, trabalhando meio expediente. A Fump oferece, ainda, bolsas socioeducacionais. Nesse caso, o estudante trabalha em espaços da UFMG abertos ao público, como nas creches ou no Hospital das Clínicas, desde que a atividade tenha um elo com a formação.

Convênios firmados com empresas públicas ou privadas garantem estágios aos estudantes da UFMG, independentemente do nível de classificação que possuírem na Fump – esse nível determina os benefícios a que os alunos têm direito, de acordo com estudos socioeconômicos. A remuneração dos estágios depende da empresa contratante. O auxílio financeiro da Fump pode ser requisitado também para financiamentos na compra de livros e de óculos. Cecília Cardoso lembra que um dos livros de que precisou no semestre passado custou cerca de R$ 200. Sem dinheiro para o pagamento à vista, ela conseguiu o financiamento pela Fump, em seis parcelas e sem juros. “Eu não poderia pagar de outra maneira”, diz e lembra que só não usou um outro financiamento de material porque ganhou de presente o estetoscópio e o aparelho de pressão que utiliza nas aulas. Cecília possui um convênio de saúde de família e, por isso, nunca precisou dos benefícios da Fump em relação a médicos e dentistas. “Mas eu preciso de tudo e uso tudo”, conta Soraia, que há um ano freqüenta o consultório de uma psicóloga. “Pela minha história de vida, sempre tive vontade de fazer terapia, mas não podia nem pensar em pagar”, ressalta. O atendimento psicológico é viabilizado aos estudantes carentes gratuitamente, porém, por meio da rede de convênios, os outros alunos também podem contar com ele. Assim como podem contar com atendimento médico e odontológico em consultórios conveniados – os não-carentes pagam os valores estabelecidos nos convênios.

Os exames de laboratório e medicamentos são viabilizados mediante convênio com o laboratório e a farmácia da Faculdade de Farmácia. “Não temos todos, mas uma parte razoável dos mais pedidos”, explica Maria José, ao ressaltar que a saúde é um programa caro, que não dá para bancar tudo porque há uma demanda muito grande. Todo o recurso da Fump, explica ela, vem do “Fundo de Bolsa”, a taxa paga pelos estudantes no ato da matrícula, e do saldo do Vestibular, que mantém o programa de moradia.

Eber Faioli
Restaurantes universitários servem quase 900 mil refeições subsidiadas por ano

No ano passado, mais de oito mil alunos foram beneficiados pela isenção da taxa do Fundo de Bolsa, uma contribuição fixada pelo Conselho Universitário desde 1930. Apesar de ser esse recurso que garante a assistência prestada pela Mendes Pimentel, a taxa é questionada na Justiça por alguns poucos estudantes. “O Fundo vive do princípio da inclusão social. É uma ação solidária entre os alunos, nunca foi utilizado para custear o ensino e é um processo totalmente consolidado na UFMG”, defende Maria José.

“O Fundo, hoje, é a única forma que temos de garantir o tipo de assistência da Fump”, afirma Gislene Silva Martins, aluna do oitavo período de Pedagogia. Presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação, Gislene conta que participou de um movimento estudantil que debateu a existência desse Fundo. No início, 26 pessoas pretendiam entrar na Justiça contra a cobrança da taxa, mas, depois das discussões, das quais participaram, também, representantes da Fump, apenas três mantiveram a decisão. “Como eu, talvez mais de quatro mil alunos não estivessem estudando se não existissem os benefícios da Fump”, acredita Gislene, uma das isentas da taxa do Fundo de Bolsa.

Para Warley Pereira Pires, recém-licenciado em Geografia, o Fundo de Bolsa é uma cobrança justa. “Os alunos que não podem pagar têm a isenção”, lembra ele. “A grande maioria dos estudantes sabe que esse dinheiro ajuda alunos carentes e não se importam de pagar”, acredita Warley, para quem o apoio da Fump foi decisivo. Natural de Jequitinhonha, no Vale do Jequitinhonha, Warley conta que obteve todos os benefícios da Fump durante seu curso. “Nunca tive qualquer problema. O trabalho é impecável”, elogia. Além da moradia, assistência médico-odontológica e bolsas, ele utilizou os Restaurantes Universitários. Os sete Restaurantes – dois no Campus Pampulha, dois no Campus Saúde e os outros na Escola de Engenharia, na Faculdade de Direito e na Faculdade de Farmácia – servem quase 900 mil refeições por ano. A alimentação é subsidiada, em parte, com recursos do orçamento da UFMG. Os preços cobrados – o mais barato R$ 0,70 e o mais caro R$ 3 – são definidos pelo Conselho Universitário.