Warley Matias de Souza - Sobre o sistema de cotas. Uma outra alternativa

 Warley Matias de Souza

(Estudante de graduação do oitavo período do curso de Letras)

08 de outubro de 2006

 

 

As cotas vão eliminar toda a defasagem escolar e social do indivíduo beneficiado? Não. As cotas vão fazer com que a Universidade possa experimentar a ilusória sensação de dever cumprido? Talvez sim. Afinal de contas, qual os benefícios das cotas? Dar ao indivíduo beneficiado a ilusão de que está sendo valorizado? As cotas, com certeza, servem para engrossar os números das pesquisas nacionais que provarão por A + B que a porcentagem de negros e pobres brasileiros cursando o ensino superior aumentou consideravelmente. Mas os números não falarão das dificuldades desses indivíduos jogados na Universidade porque algumas pessoas precisam dormir à noite com a falsa sensação de desejo cumprido ou porque alguns políticos querem dar uma resposta à sociedade ou porque há brasileiros que querem fazer bonito lá fora, mostrando os números surpreendentes da inclusão social brasileira ou, ainda, porque há muitas pessoas querendo desviar os olhos do grande problema: a qualidade dos ensinos fundamental e médio das escolas públicas brasileiras.

 

Talvez eu peque, aqui, por desconhecer a rede burocrática em que a universidade pública está inserida. Mas, em minhas inquietações em torno do assunto, pensei que, talvez, a Universidade pudesse incluir esses indivíduos, vitimados pelo cruel sistema de exclusão que domina nosso país, de uma maneira talvez mais justa e eficaz.

 

È a Universidade o lugar do conhecimento, onde podemos adquiri-lo e compartilhá-lo. Estão envolvidos nesse processo não somente professores e pesquisadores; mas alunos. E o conhecimento que esses alunos já adquiriram devem e podem ser aproveitados enquanto eles ainda estão na Universidade. A Universidade possui também uma estrutura não completamente utilizada. Em algumas faculdades, encontramos salas vazias, em determinados períodos do dia, que poderiam estar sendo ocupadas por grupos de estudantes em busca do conhecimento.

 

A proposta que, a meu ver, não tem nada de utópica, é:

 

1- A Universidade deve selecionar indivíduos dentro do perfil contemplado pelas chamadas “cotas”.

2- A seleção deve ser feita não a partir de testes que avaliam o conhecimento; mas a partir de níveis de carência.

3- Esses indivíduos selecionados terão um período de um a dois anos em que serão preparados para o vestibular por alunos voluntários, utilizando, obviamente, a estrutura da Universidade.

4- Após esse período, a Universidade concederá a cada um desses indivíduos uma pontuação extra que os beneficiará tanto na primeira quanto na segunda etapa do vestibular.

 

Obviamente, a proposta está longe da perfeição; mas me parece mais justa que o sistema de cotas. E é uma opção paliativa que envolve maior participação social. Mas não elimina o verdadeiro problema: a péssima qualidade dos ensinos fundamental e médio das escolas públicas brasileiras. Não podemos esquecer isso e devemos pensar em ações que eliminem a defasagem desses ensinos que, na formação humana do cidadão, cumprem (deveriam) um papel socializador talvez muito mais importante que o do ensino superior.

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