Imagem e memória, patrimônio cultural e identidade brasileira foram os temas discutidos na manhã desta quarta-feira, 6 de maio, durante o Seminário Nacional Cinema e Educação, realizado através de parceria entre a Escola de Belas-Artes da UFMG e o Centro de Referência Audiovisual (CRAV) da Prefeitura de Belo Horizonte. Moderado pelo diretor do CRAV, Neander de Oliveira César, o debate reuniu o coordenador de documentação audiovisual do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Clóvis Molinari, a professora de Comunicação Social da UFRJ, Ivana Bentes, e o cineasta e presidente do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), Geraldo Moraes. Em seu depoimento, Clóvis Molinari comentou sua experiência no Arquivo Nacional e apresentou os significativos números da entidade: "55 quilômetros" de documentos impressos, dois milhões de fotografias, cerca de 10 mil discos, 75 mil mapas e 80 mil imagens em movimento (vídeos e películas, entre outros). "Todos os setores de arquivamento preocupam-se bastante com o caráter educacional. Temos em mente que é preciso criar um público cativo, que se utilize do material que guardamos", ressaltou Molinari. Uma das iniciativas do Arquivo Nacional, a criação do Recine, foi destacada por ele como exemplo de evento cinematográfico diretamente ligado à educação. "As salas de cinema ficavam sempre cheias de alunos de ensino médio. É importante que tenham acesso às fontes primárias e secundárias de informação. Além disso, precisamos estimular os estudantes a criar curtas-metragens", completou. A professora Ivana Bentes ateve-se, principalmente, à necessidade de se "educar" as pessoas para o contato com as informações veiculadas pelas diversas tecnologias audiovisuais. "Fala-se muito no aprendizado relativo ao mundo das letras. Quanto ao universo audiovisual, as crianças apenas incorporam os códigos", afirma. Segundo ela, trata-se do processo formador da percepção imagética. "A veiculação de imagens, seja na televisão ou no cinema, sempre foi demonizada pelos intelectuais. Mas as mídias precisam ser 'lidas', decodificadas", afirmou. Para ela, é preciso unir a preocupação com as letras ao ensino do audiovisual. Em sua palestra, a professora também discutiu o problema da perpetuação, pela mídia, de certa identidade brasileira pouco representativa da complexidade da cultura nacional. "Exportam a imagem de um Brasil feito de carnaval e futebol. Hoje, é restrito falar em identidade. Precisamos pensar em diversidade", explicou. Quanto às novas tecnologias, a professora comentou a importância de analisar a linguagem dos novos meios para que se pense em novas estruturas educacionais: "O que a linguagem dos jogos eletrônicos, por exemplo, podem nos auxiliar na criação de novos suportes educacionais". Também presente à mesa de debates, o cineasta Geraldo Moraes ressaltou a importância da discussão de itens como identidade, memória e conservação justamente em um momento de choque, no qual "vivemos os passos de outra realidade". Para ele, conforme ressaltou a professora Ivana Bentes, a noção de identidade é limitadora: "Sabemos que estamos imersos na pluralidade. Nossa principal características está na capacidade de, ao longo do tempo, receber e acumular influências", comentou. Para ele, tal processo de acúmulo de "experiências" acontece dentro de um contexto de perda de limites. "As coisas deixaram de ser exclusivas. Na última década, nos venderam a noção de globalização. Essa abertura de fronteiras, no entanto, é um passo para a homogeneização", disse. Segundo Moraes, é vital que, hoje, os brasileiros defendam o direito à diferença: "Nós somos muitos, ao mesmo tempo, e os limites chegaram ao fim". O seminário prossegue até sexta-feira, 8 de outubro. Na manhã desta quinta-feira, dia 9, será realizado debate sobre O papel da TV na educação. Mediada pela jornalista Beatriz Lima, o debate reunirá o presidente da Fundação Padre Anchieta, que administra a TV Cultura, Jorge Cunha Lima, a coordenadora do projeto Geração Futura, do Canal Futura, Tatiana Azevedo, e a coordenadora do programa Rede Jovem, promovido pela Associação Imagem Comunitária (AIC), Rafaela Lima. A íntegra da programação do seminário está na página eletrônica www.eba.ufmg.br. Mais informações pelos telefones (31) 3277-4699 e (31) 3409-5262.