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O reitor da Universidade de Coimbra, professor Fernando Seabra Santos, trouxe a Belo Horizonte a proposta de criação do Programa José Bonifácio de Andrada e Silva, para articular e consolidar iniciativas de mobilização entre sua instituição e universidades brasileiras. A proposta foi discutida na UFMG, no último dia 19 de agosto, por reitores de instituições de ensino que mantêm cooperação com a mais antiga Universidade portuguesa. “Este encontro tem como objetivo identificar novas modalidades de cooperação, quer em áreas científicas estratégicas de interesse comum, quer ainda em termos de intercâmbio estudantil”, justificou Fernando Seabra, ao lembrar que a Universidade de Coimbra acolhe anualmente cerca de dois mil estudantes estrangeiros, entre os quais pouco mais de uma centena de brasileiros. O nome do programa é uma homenagem ao patriarca da Independência do Brasil, que foi professor de metalurgia da Universidade de Coimbra. “De suas aulas ele trouxe a forja que incendiou os corações do Brasil com a chama da independência”, disse Seabra. Ao elogiar a iniciativa, a reitora da UFMG, Ana Lúcia Gazzola, afirmou que cooperação “é um importante instrumento que qualifica, de maneira coletiva, a nossa ação”. Desafios “Precisamos propor programas temáticos e pesquisas de interesse mútuo, não só intercâmbio de estudantes, pois queremos que os jovens pesquisadores voltem para o Brasil após o curso”, opinou o professor Alfredo Gontijo, diretor do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinates (Ieat) da UFMG. O reitor Fernando Seabra disse entender a preocupação dos brasileiros no que se refere à reciprocidade, uma vez que Portugal detém posição idêntica com relação ao restante da Europa. E disse que não acredita que a mobilidade se concretize sem o respeito entre unidades de investigação parceiras. Entre as possibilidades de intercâmbio, citou a co-tutela em projetos de doutorado. Sobre o âmbito do Programa, Seabra ressaltou a importância da parceria na pós-graduação, que permite maior proximidade efetiva entre as instituições, mas assegurou que não interessa à Universidade de Coimbra desvalorizar as ações de mobilidade na graduação. O pro-reitor de pós-graduação da UFMG, Jaime Arturo Ramirez, adiantou que o sistema brasileiro possui arcabouço legal que permite a realização de mestrado e doutorado conjuntos, e afirmou que a UFMG realiza atualmente trabalhos de co-tutela com instituições de diversos países. Com relação ao financiamento para ampliar o acesso ao intercâmbio, o reitor Lúcio José Botelho, da Universidade Federal de Santa Catarina, defendeu a criação de um fundo de cooperação institucional específico. “Se o intercâmbio for realizado às expensas dos alunos, só os ricos participarão. É preciso massificar a proposta”, disse Lúcio Botelho. Ana Lúcia Gazzola reforçou a necessidade de “equalizar oportunidades”, elaborando um programa que viabilize a participação de estudantes de todas as classes sociais. A diretora do Sistema de Bibliotecas da UFMG, Simone Santoes, e o diretor da Editora UFMG, Wander Melo Miranda, apresentaram propostas de incluir no Programa parcerias que envolvam digitalização de acervos e impressão conjunta de livros universitários. Foram ainda abordadas profissionalização administrativa, com a realização de cursos por funcionários das universidades brasileiras, e a possibilidade de diálogo na área de extensão universitária.
Apesar de bem recebida, a idéia de ampliar a cooperação entre os dois países precisa superar algumas dificuldades, como a busca de recursos para financiar a participação de alunos carentes em programas de intercâmbio; a definição do âmbito – graduação ou pós-graduação - do Programa; e a garantia de reciprocidade das iniciativas.