A Imagem Social do Médico de Senhoras no Século XX é o título do livro da historiadora e professora Rita de Cássia Marques, da Faculdade de Enfermagem, que será lançado nesta quinta-feira, 17, às 19h na sede da Cooperativa Médica (Coopmed), avenida Alfredo Balena, 190, 1 andar. A obra é resultado de pesquisa da autora apresentada como tese de doutoramento à Universidade Federal Fluminense e agora sai publicada pela Editora Coopmed, de Belo Horizonte. Antecedentes Esse episódio, de sete anos atrás, levou Rita de Cássia Marques, pesquisadora em história da saúde, a investigar um assunto que já a inquietava. Como historiadora, Rita desconfiava da teoria da medicalização que dá como vitorioso o processo de inserção do conhecimento médico entre a população brasileira, desde sua implantação, no século XIX. Para ela, o caso da campanha contra o câncer ginecológico era indício claro de que essa história deveria ser melhor contada. História A intermediação de pais e maridos demonstrava que, em relação às mulheres, a medicina teria um longo caminho pela frente. Foi em razão disso que, particularmente em relação à ginecologia, coube aos médicos articularem, estratégica e pacientemente, toda uma construção da imagem de sua profissão. Essa articulação começava pela associação da imagem do médico "piedoso", freqüentador de missas e que perfazia, portanto, o ideal de um profissional respeitoso, o qual poderia ser confiado às famílias e ao resguardado corpo feminino. Resgate cultural A iniciativa viria a ser importante porta de entrada da mulher na vida profissional. A multiplicação de instituições de saúde, muitas vezes fruto de disputas políticas e profissionais, como a criação da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, é minuciosamente descrita pela autora.
Em 1998, a partir de um acordo entre o Ministério da Saúde e a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os padres passaram a recomendar, durante as missas, que as mulheres procurassem o médico para se prevenir contra o câncer ginecológico. É que com a baixa adesão, um mês depois de aberta a campanha pela prevenção, o Ministério havia verificado que por preconceito e desconhecimento, muitos maridos estariam impedindo as mulheres de procurarem o médico.
Amparada nas chamadas fontes primárias, principalmente em cartas, a professora delimitou sua pesquisa aos primórdios da ginecologia em Belo Horizonte – do início do século XX, até a década de 1930. As correspondências do primeiro "médico de senhoras" da cidade, o doutor Hugo Werneck, foram reveladoras. Por meio delas se sabe que eram os maridos e pais que se dirigiam ao médico quando o assunto eram os "males" das mulheres.
Mais do que uma investigação da área de saúde, a pesquisa é uma recuperação da história cultural de Belo Horizonte no início do século XX. Ao narrar o desenvolvimento da medicina na cidade, a autora vai indicando o contexto cultural em que estava inserida a nova capital do Estado. A execução de trabalhos voluntários pelas mulheres em hospitais foi incentivada pelos "médicos de senhoras" como forma de facilitar o acesso das pacientes aos serviços médicos.