Ao falar, na manhã desta segunda-feira, 25, em sessão solene na Sala da Congregação da Faculdade de Direito da UFMG, durante a fundação do Centro de Memória (Cemefadi) daquela Unidade, o reitor Ronaldo Pena lembrou o embate entre "a memória zelosa que busca reter e o tempo implacável, que ameaça destruir". Além de documentação específica, o Cemefadi abrigará também o Memorial Afonso Pena e o Memorial Orlando de Carvalho, reitor da UFMG (gestão 1961-1964). Ronaldo Pena falou logo depois da bênção das instalações, oficiada pelo cadeal Dom Serafim Fernandes de Araújo. Em referência aos alunos e profssores ilustres da Faculdade de Direito, que tiveram influência na vida política e social do país, o reitor enfatizou que "ao tentar decifrar a Universidade com que sonharam, somos defrontados com a Universidade que estamos construindo". Cinquentenário Compuseram a mesa, além do reitor Ronaldo Pena e do cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo, o diretor da Faculdade de Direito, professor Aloizio Gonzaga de Andrade Araújo; o diretor eleito da Faculdade, professor Joaquim Carlos Salgado; a diretora da Revista, professora Silma Mendes Berti; a diretora da Rede de Museus e Espaços de Ciência e Cultura da UFMG, professora Maria das Graças Ribeiro; o professor Roberto Venâncio Filho; e o presidente do Diretório Acadêmico Afonso Pena, Henrique Napoleão Alves. Lotaram a Sala da Congregação da Faculdade professores de diversas unidades acadêmicas da UFMG e colaboradores da Revista, que foram homenageados com a entrega de diploma elaborado pela artista plástica Yara Tupinambá. Publicação internacional O diretor da Faculdade, professor Aluísio Gonzaga, leu a Portaria 11/2006, que institui o Cemefadi. O texto justifica a criação do Centro ao lembrar que há naquela unidade acadêmica obras históricas e de artes que precisam ser organizadas, preservadas e abertas ao público. O Cemefadi será coordenado pela jornalista Patrícia Carvalho. Já a diretora da Rede de Museus e de Espaços de Ciência e Cultura, professora Maria das Graças Rineiro, destacou o importante papel das universidades na transformação social, falou da política museológica da UFMG e do patrimônio que a Rede abriga, "cujo valor será tanto maior quanto for o do seu uso pelo público e do conhecimento gerado". Como parte das comemorações, o reitor Ronaldo Pena sorteou, entre os alunos presentes, vale de R$300 para aquisição de livros em livraria especializada. Leonardo Caetano Lemos, aluno do 7° período, ganhou o vale. "Achei muito bom. Vai ser muito bem utilizado", disse o estudante. Importância histórica Foram homenageados, com a entrega de diplomas, os colaboradores da Revista: Affonso Ávila, Alberto Venâncio Filho, Aloízio Gonzaga de Andrade Araújo, Ângela Vaz Leão, Anis José Leão, Carlos Mario da Silva Velloso, Fábio Proença Doyle, Fernando Correia Dias, Fernando Damata Pimentel, Guilherme Pinto de Carvalho, Haydée Bittencourt, Hélio Costa, Iara Menezes Lima, Jenner Procópio de Alvarenga, José Bento Teixeira de Salles, José Murilo de Carvalho, Maria Efigênia Lage de Resende, Maria José de Queiroz, Norma de Goes Monteiro, Otávio Soares Dulci, Ricardo Arnaldo Malheiros Fiúza, Roberto Borges Martins, Wilson Figueiredo e Yara Tupinambá. Direito e sociologia De caráter interdisciplinar e interuniversitário, teve, entre os seus colaboradores, autores como Gilberto Freyre, Milton Campos, Thomas Skidmore e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Alcançou especial repercussão em estudos de poder local, voltando-se para política de comunidades. Orlando Carvalho foi um dos pioneiros da sociologia eleitoral brasileira. Ao analisar as mudanças da sociedade brasileira nas décadas de 40 e 50, ele pedia a renovação dos partidos de centro, como o PSD e a UDN, que, em sua visão, deveriam adaptar suas estruturas à realidade social da urbanização e da industrialização. Ele defendeu, também, o direito de voto aos analfabetos. O professor foi reitor da UFMG no período de 1961 a 1964. Durante o seu mandato, foi inaugurado o prédio da Reitoria no campus Pampulha. Membro da Academia Mineira de Letras, ocupou ainda os cargos de diretor do Departamento de Administração Geral do Estado e de secretário de Estado da Educação, durante o governo Milton Campos, no início dos anos 50.
A solenidade marcou ainda a abertura das comemorações pelos 50 anos da Revista Brasileira de Estudos Políticos - criada por Carvalho - com lançamento do livro Memória do cinqüentenário da Revista Brasileira de Estudos Políticos - 1956/2006, volume 38, da coleção Estudos Sociais e Políticos.
A professora Silma Mendes Berti homenageou o fundador da publicação, professor Orlando Carvalho, lembrando que o periódico, de caráter interdisciplinar e circulação internacional, foi divulgado em mais de 60 países, "fazendo com que os olhos do mundo se voltassem para a UFMG".
Disse ainda a professora que "o Centro de Memória guardará os legados e os testemunhos dos que nos antecederam".
O Centro de Memória da Faculdade de Direito reunirá vasta documentação histórica sobre a Unidade, cuja fundação é anterior à da UFMG, à qual foi incorporada posteriormente. Essa documentação recupera também a trajetória de alunos ilustres que se destacaram por sua influência na vida política e administrativa brasileira, bem como no jornalismo e na literatura e em outros camapos da atividade pública. O Cemefadi integra a Rede de Museus e Espaços de Ciência e Cultura da UFMG.
Fundada e editada pelo professor Orlando Magalhães Carvalho até 1998, ano de sua morte, a revista é distribuída para 3.500 universidades de 58 países. Desde 2004, a publicação tem status de revista da pós-graduação da Faculdade de Direito. A linha editorial da revista ultrapassa o saber exclusivamente jurídico da realidade para abordar, de forma sociológica, o conhecimento do Estado e das instituições políticas de comando e exercício do poder.