Os bebês que nascem prematuros ficam com seqüelas? Quais são as mais recorrentes? É possível preveni-las? Essas perguntas motivaram o projeto Avaliação do desenvolvimento motor: estudos sobre a prematuridade e a coordenação motora na criança, pela UFMG, em 2004. Financiado pela Fapemig e gerenciado pela Fundep, o trabalho mostrou que 11% das crianças nascidas prematuras e com peso abaixo de 1,5 kg tiveram atraso evidente no desenvolvimento, diagnosticado no primeiro ano de vida. Entre as crianças, aparentemente normais, acompanhadas até os 7 anos de idade, 57% tiveram problemas de coordenação motora. Outro aspecto revelado é que muitas dessas crianças apresentavam déficit de atenção e sinais de hiperatividade. “Observamos também que, quanto mais problemas ocorrem logo após o nascimento e quanto mais tempo o bebê respira com a ajuda de aparelhos, mais vulnerável ele fica para problemas motores”, analisa a coordenadora do projeto, Lívia de Castro Magalhães. A professora da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG conta que, para chegar a esses resultados, o projeto atua em duas linhas de ação: trabalho assistencial de acompanhamento dos bebês prematuros nascidos no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, e pesquisa sobre o impacto da prematuridade no desenvolvimento infantil. O trabalho é desenvolvido no Ambulatório da Criança de Risco (Acriar/UFMG), que conta com uma equipe interdisciplinar – formada por terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, pediatras, neurologistas e psicólogos – que acompanha bebês com menos de 1,5 kg e 34 semanas. Esse acompanhamento continua até quando a criança completa os 7 anos de idade. “Nessa fase, fazemos uma avaliação mais detalhada da coordenação motora, por meio de testes com a criança e questionários com pais e professores”, detalha Lívia. Durante essa atividade, percebeu-se que eram necessários instrumentos de avaliação mais específicos para a realidade da criança brasileira. “Todos os profissionais utilizam métodos internacionais, que são voltados para meninas e meninos de países ricos e desenvolvidos. Por isso, começamos a desenvolver em 2000, paralelo ao acompanhamento das crianças, um teste brasileiro para detectar os problemas de coordenação motora”, explica a coordenadora do projeto. Assim, criou-se a Avaliação da Coordenação e da Destreza Motora (Acoordem). O objetivo do teste é oferecer aos terapeutas meios simples e precisos para identificar crianças que apresentam atraso motor ou transtorno do desenvolvimento da coordenação. Os itens do teste requerem movimentos das mãos, do corpo e das pernas e foram criados levando em consideração as brincadeiras infantis da cultura brasileira, como amarelinha e jogos com bolas. Problemas de coordenação motora, como os observados nas crianças prematuras, afetam cerca de 6% de todas as crianças em idade escolar, sendo importante identificá-los “Dessa forma, será possível um tratamento mais eficiente, evitando que a criança sinta-se excluída e fique com baixa-estima porque não consegue correr, brincar e escrever igual a outras da sua idade”, acredita a professora Lívia. Movimentos Além disso, pais e professores responderam a questionários sobre o desempenho da criança em tarefas motoras simples, observadas em casa e na escola. A próxima etapa é a aplicação do teste em um número maior de crianças para saber qual é o desempenho típico de crianças brasileiras nas atividades motoras requeridas no teste. Com base no perfil da criança típica, pode-se identificar aquelas que apresentam atraso no desenvolvimento. Na linha de pesquisa sobre prematuridade, outro trabalho a ser realizado é criar estratégias para diminuir a evasão de crianças acompanhadas. “O projeto atualmente conta com mais de 800 crianças cadastradas, mas cerca de 27% das meninas e dos meninos não continuam até os 7 anos de idade por causa da situação financeira de sua família, da distância a ser percorrida – visto que atendemos muitas crianças do interior do estado – e da inexistência de uma política pública de acompanhamento de prematuros, que enfatize para os pais a importância de se dar mais atenção ao desenvolvimento de crianças que nascem prematuras”, afirma a coordenadora do projeto. (Jornal da Fundep, n. 31)
Os itens do teste foram pilotados no projeto de “Avaliação do desenvolvimento motor”, sendo possível escolher aqueles que funcionam melhor para identificar atraso motor em crianças de 4 a 8 anos de idade. Nessa primeira fase de exame da validade dos itens, a Acoordem foi usada com meninos e meninas de 4, 6 e 8 anos, que tiveram seus movimentos avaliados por terapeutas.