O bioeticista e professor da University of Alabama, Gregory Pence falou sobre os avanços da bioética nos últimos 30 anos e apontou questões urgentes e primordiais na área que devem ser discutidas nos próximos anos. "Aqueles que ignoram o passado estão fadados a repetir seus erros", citou o especialista, lembrando a frase do filósofo George Santayana. A palestra Trinta anos de bioética: o que aprendemos, para onde vamos? aconteceu nesta terça-feira, 12, no auditório da reitoria da UFMG, integrando o ciclo de conferências Sentimentos do mundo, atividade comemorativa dos 80 anos da instituição. Na primeira parte de sua fala, Pence apresentou oito pontos avaliados como avanços nas discussões sobre ética e ciência das últimas décadas. Para o professor, o debate sobre eutanásia representa parte dessa evolução. "Estamos caminhando para um consenso sobre se é certo ou não fazer isso", comentou. A criação de conselhos e departamentos de bioética em escolas de medicina e setores específicos da sociedade também foram listados como forma de ampliar a discussão sobre o assunto. Pence enfatizou a importância da elevação da à categoria de profissão".Essas novas categorias propiciaram uma mudança no rumo dos debates. Além de discutir questões polêmicas, as pessoas vêm percebendo que as práticas médicas diárias também envolvem várias questões éticas". Novas perspectivas No começo de sua carreira de bioeticista, Pence conviveu com uma população alarmada com a experiência dos bebês de proveta. "Não entendo porque ainda hoje a igreja ataca métodos de reprodução assistida. Por causa desses avanços é que muitas crianças tiveram a chance de nascer e serem muito amadas por seus pais". Os dois últimos exemplos de sucesso apontados pelo professor foram o do transplante de órgãos e o grande controle nas pesquisas com embriões e fetos. "Apesar da nova concepção de direitos reprodutivos, não tratamos embriões e fetos como propriedades ou coisas", conclui. Para onde vamos? Neste sentido, o Brasil seria um bom exemplo para outros países, na visão de Pence,com o tratamento aberto que oferece à AIDS. "É preciso impedir o avanço dessa doença. is vidas seriam salvas se investíssemos em prevenção, mas há questões éticas muito fortes envolvidas neste debate. ada lado culpa o outro pelo problema". A necessidade do estabelecimento de uma ética global, para impedir a migração de grandes empresas para partes isoladas do mundo, onde não há regulamentação neste sentido foi outro ponto importante do debate. Por fim, Pence fez um alerta sobre as empresas de medicamentos. "As empresas investem muito dinheiro em medicamentos, como o Viagra e o Prozac, quando poderiam investir em drogas para doenças crônicas, que matam muita gente ao redor do mundo. É preciso criar algum controle para essa situação", concluiu.
Na visão de palestrante, o debate sobre direitos reprodutivos de pessoas com doenças mentais e também de pessoas com deficiências físicas atingiu novas perspectivas nos últimos anos. "Já tivemos muitas controvérsias nessas áreas, principalmente com relação às questões reprodutivas. Atualmente, uma nova consciência sobre o assunto foi despertada nas pessoas", afirmou.
Segundo o bioeticista , outras questões polêmicas já se destacam como primordiais para os debates nos próximos anos. "É preciso criar uma ética para tratar as doenças infecciosas que vêm surgindo. Não podemos esperar muito tempo, é preciso agir rápido". Ele citou a gripe aviária e o Sars, que foram tratadas inicialmente como segredos e até negadas.