Lucia Sebe/Governo de Minas |
Às vésperas da inauguração do Espaço TIM UFMG do Conhecimento (domingo 21), a curadora Patrícia Kauark se desdobra entre os preparativos para o evento, reuniões na Fafich – ela é professora do Departamento de Filosofia – e muitas entrevistas. Numa rápida conversa com o Portal UFMG, ela anuncia as áreas de pesquisa que serão estimuladas pelo novo espaço na Praça da Liberdade e as atividades que poderão ser desenvolvidas lá. (Leia mais sobre o espaço no Boletim UFMG) Que conceito rege o Espaço do Conhecimento quanto à relação entre ciência e educação? Como o Espaço vai induzir pesquisa? Trazer o grande público para o mundo das novas mídias é parte da ideia de formação que orienta o projeto? Além da visita à exposição, ao planetário e ao observatório, o que estará à disposição do público no Espaço? Que outras atividades estão previstas? O Espaço do Conhecimento seguiu algum modelo, dentro ou fora do Brasil?
Um diferencial do Espaço é a possibilidade de desenvolver na Universidade uma pesquisa verdadeiramente interdisciplinar, destinada a traduzir o que há de mais avançado na ciência numa linguagem estética. As pesquisas são veiculadas em periódicos, livros, para um público muito específico. Um dos nossos grandes desafios como produtores do conhecimento é o de torná-lo acessível ao maior número de pessoas, de tal maneira que possamos contribuir para a formação de espíritos. Formar cidadãos livres e críticos é, afinal, o próprio fundamento da universidade.
Já estamos criando um grupo de pesquisa, um laboratório ligado à tecnologia digital, justamente para desenvolver para o Espaço do Conhecimento e para outros espaços da Universidade. O grupo vai transformar conteúdos científicos em produtos interativos e esteticamente interessantes. Outra área de estudos importante é a que vai tratar da recepção do público ao conhecimento em espaços que não são propriamente acadêmicos.
A experiência estética do conhecimento produz uma perspectiva de deslocamento. A ideia é que o visitante seja afetado de certa maneira pelas instalações, pela interatividade. Isso faz com que ele desperte o gosto e a curiosidade pelo conhecimento, e o leva a indagar. Abre as portas da imaginação, suscitando aquilo que é o motor da produção do conhecimento, que é o desejo pela pesquisa. Todos nós somos beneficiados de alguma forma, desde crianças, pela experiência acadêmica do conhecimento. A inovação aqui é a possibilidade de as pessoas serem afetadas esteticamente pela ciência e pelo conhecimento.
Os jovens e as escolas poderão escolher uma série de oficinas cujos temas dialogam com a exposição. Por exemplo, num trimestre poderá haver oferta de aprofundamento nas áreas de arqueologia, biologia, química e astronomia. Além disso, temos um audiovisual ligado aos biomas brasileiros que é uma fonte muito interessante. Temos acervo de cerca de três horas e meia de material sobre cerrado, então um professor que pretende ensinar sobre o cerrado pode escolher que temas abordar, e pode dar uma aula utilizando nosso espaço (o audiovisual Sertão vivo surgiu de parceria da UFMG com a Fundação Israel Pinheiro, envolvendo o núcleo de cinema de animação da Universidade).
Teremos também cursos, palestras, encontros e festivais. O planetário é também um domo multimídia, que permite a projeção em ambiente de imersão total, em 360 graus. Permite explorar de forma nova e impactante qualquer tema da ciência. Se você quiser fazer uma viagem ao interior do corpo humano, do cérebro, do fundo do mar ou à floresta amazônica, terá uma experiência de imersão. Esta é, por sinal, outra área de pesquisa que o espaço oferece. Vai estimular o desenvolvimento de filmes para esse formato. Podemos trazer festivais de filmes para domos. Outra possibilidade é a fachada do prédio, que recebe projeções: podemos convidar artistas para realizar trabalhos para esse suporte.
Aconteceu algo curioso a esse respeito. O professor Sergio Cardoso, filósofo e professor da USP, conheceu o Espaço e perguntou: “Patrícia, da onde vocês copiaram isso? Eu conheço muitos museus no mundo, nunca vi um museu com esse recorte, com essa diversidade”. Ele se referia à costura filosófica que está por trás de todo o projeto. Não é à toa que o conto O Aleph, de Jorge Luis Borges, dá o mote da exposição Demasiado humano, que é a busca incessante pelo conhecimento, que é inalcançável. É a ideia de que o conhecimento não é uma verdade pronta e cristalizada, mas uma busca sem fim. A gente quis mostrar que o conhecimento é demasiadamente humano. Por ser humano, é limitado.