Já chegaram à UFMG os estudantes aprovados no primeiro vestibular da Universidade para indígenas. Eles foram recebidos por equipe da Pró-reitoria de Graduação e participam, até sexta-feira, das atividades da Semana do Calouro Indígena. Após recepção no sexto andar do prédio da Reitoria, os calouros falaram ao Portal UFMG sobre suas expectativas para os próximos anos. O estudante Guldierri Rui Benedito, de 19 anos, conta que estava em dúvida entre se alistar na Marinha e cursar arquitetura ou ciências biológicas, mas quando soube da iniciativa da UFMG não teve dúvida: preferiu a última opção. “As ciências biológicas têm muito a ver com a natureza, que é uma coisa que gosto muito”, explica. De origem tupiniquim, o calouro veio do Espírito Santo e acredita que a formação universitária beneficiará bastante sua aldeia. “Espero levar o melhor possível para lá. Nós necessitamos muito de pessoas formadas, para poder ajudar, por exemplo, em um reflorestamento, e a cuidar dos animais”, afirma. No ato de inscrição na UFMG, os estudantes indígenas asssumem o compromisso de atuar atuar em suas comunidades após o término dos cursos. Para a caloura de enfermagem Kaypunã Braz da Conceição, de 23 anos, o maior desafio será conciliar conhecimentos de duas culturas. “Eu vou chegar com um conhecimento de pessoas de fora, então tenho que saber levar esse conhecimento para a aldeia sem criar a contradição de eu falar uma coisa e uma pessoa da comunidade falar outra”, diz. Apesar de ter formação técnica em enfermagem, a estudante trabalhava como professora em sua comunidade. Ela afirma, no entanto, que, a partir de agora, não vai mais deixar a área da saúde de lado. Ao contrário de Kaypunã, a caloura de agronomia Vanessa Gonçalves de Oliveira, de 19 anos, diz que nem pensava em fazer um curso de graduação até ficar sabendo do vestibular para indígenas na UFMG. “Mas quando surgiu a oportunidade, já vi de cara que eu queria fazer agronomia”, conta. Nascida em São João das Missões, a aluna de origem xakriabá diz que nunca saiu de casa e, por isso, não sabe muito bem o que a espera em Montes Claros, onde fica o Instituto de Ciências Agrárias da Universidade. “É tudo completamente novo. Mas espero fazer o melhor que eu puder”, afirma. Assim como a colega, Sinare Ressureição, de 23 anos, também se preocupa com a mudança, que, para ele, significa o começo de uma nova vida, mas diz que sempre vai buscar algo para lembrar sua cultura. De etnia Pataxó, ele conta que sempre pensou em fazer agronomia. “É um curso que tem a ver com nossa cultura, porque tem a questão da terra. Espero ajudar minha cultura levando esse conhecimento de como lidar com a terra para a aldeia,” pondera. Na primeira edição do vestibular para indígenas na UFMG foram oferecidas 12 vagas para os cursos de medicina, enfermagem, odontologia, ciências biológicas e ciências sociais (em Belo Horizonte) e agronomia (em Montes Claros). Todos os calouros vão passar o primeiro semestre de 2010 em Belo Horizonte, onde vão participar de um curso de preparação e nivelamento ministrado pelo Colégio Técnico (Coltec).