Tecnologia de rastreamento de aves, baseada em teste de DNA mitocondrial, é a proposta de equipe de pesquisadores da UFMG para inibir o comércio de aves retiradas ilegalmente da natureza. Por meio desse recurso, será possível emitir certificado com uma etiqueta de DNA, nome, espécie, histórico, filiação e características físicas da ave, comprovando que ela realmente nasceu em cativeiro e, portanto, pode ser comercializada. O sistema atende a uma tendência crescente no mercado internacional de adoção de medidas que comprovem a procedência e a integridade sanitária dos animais comercializados. Os criatórios que emitirem os certificados terão mais credibilidade com seus clientes e órgãos governamentais. A pesquisa é coordenada pelo professor Fabrício dos Santos, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). A comercialização de animais silvestres no país só é permitida para os que nascem em cativeiros aprovados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A dificuldade de fiscalização desse comércio, pela ausência de métodos de certificação dos animais, é um dos maiores problemas enfrentados pelo órgão. Há casos de fraudes dos mecanismos de controle feitos atualmente por meio de identificação por anilhas ou microchips, implantados nos animais. A adoção da tecnologia desenvolvida na UFMG não elimina o uso de anilhas, mas complementa e aperfeiçoa o atual sistema de controle do comércio de aves silvestres. "Trata-se de uma demanda dos próprios criatórios interessados em certificar de modo mais eficaz os animais que comercializam, de coibir as fraudes e de se diferenciarem no mercado", acredita Fabrício dos Santos. Mitocôndria Segundo Chaves, embora o DNA nuclear seja um exame mais completo, o interesse da equipe não é identificar cada animal, "mas certificar que eles sejam filhotes nascidos no cativeiro a partir de uma matriz legalizada, criando uma ferramenta mais eficiente de rastreamento desses animais", diz. A tecnologia permitirá ainda que todo o material genético coletado seja armazenado em uma coleção fiel do patrimônio genético brasileiro para futuras comprovações acerca da origem do animal. Louro Os primeiros testes utilizando a tecnologia, na UFMG, foram feitos em 2007 no chamado papagaio-comum (Amazona aestiva) com resultados promissores. Eles foram realizados em parceria com o criatório mineiro de aves Vale Verde. Estima-se que a certificação represente entre 2,5% a 4% do custo de comercialização dessa espécie, mas o valor pode ser reduzido com o aumento da demanda. Reportagem do Boletim UFMG registrou, em 2005, o trabalho pioneiro da equipe do ICB com os psitacídeos. Depois das aves, os animais com maior potencial de agregar a certificação por rastreamento genético são mamíferos e répteis, como macacos, tartarugas, cobras e lagartos. Segundo Fabrício dos Santos, além de garantir a legalidade da origem, o sistema pode ser também um atestado de que o animal comercializado não possui doenças. (Com Sebrae)
O sistema proposto pelos pesquisadores baseia-se em teste de DNA extraído nas mitocôndrias - uma das partes que compõe a célula. Sua especificidade se dá pelo fato de o material genético ser passado para os descendentes pelas mitocôndrias maternas. "Esse DNA carrega a marca da linhagem de cada matriz fêmea que é passada aos filhotes", explica Anderson Chaves, pesquisador que integra a equipe do projeto. "Além disso, trabalhar com essa técnica é mais simples e mais barato que com o DNA do núcleo da célula, tradicionalmente usado em exames de paternidade", complementa.
Estudos conduzidos pela UFMG mostraram que os testes com DNA mitocondrial são eficazes para espécies de psitacídeos, que incluem papagaios, maritacas e araras, que estão entre os animais silvestres mais comercializados e sujeitos ao tráfico pela sua beleza, colorido das penas e facilidade de imitar a fala humana.