Da Teoria da Forma, do artista plástico Paul Klee, que trouxe para as artes visuais as noções de modulação, ritmo e psicodinâmica das cores, frequentemente adotadas no ensino do design e da comunicação visual como modelo de qualidade estética, não se fala mais da componente musical de sua origem. Em torno desse argumento, a professora da UFRJ Rosana Costa Ramalho de Castro assina artigo na nova edição da revista acadêmica Per Musi, publicada pela Escola de Música de Música da UFMG. Denominado O pensamento criativo de Paul Klee:arte e música na constituição da Teoria da Forma, o texto recoloca em discussão a atualidade de experimentos e elaborações filosóficas do artista suíço construtivista Paul Klee, em torno de uma teoria da forma - que, no início dos anos 1920 se disseminou com suas atividades na Bauhaus, instituição de ensino artístico que exerceu grande influência entre profissionais da arquitetura e do design em todo o mundo. Uma questão central para ele consistiu justamente em estabelecer uma relação formal entre a música e as artes visuais, em busca de substrato para compreender o mundo - fato não exatamente incomum em sua geração e também pela sua formação, uma vez que era músico, além de artista plástico. "Desde os primeiros anos de sua vida escolar", registra a pesquisadora, Klee "já realizava experimentos neste sentido, desenhando os códigos simbólicos do universo da música nas bordas dos cadernos de aulas de desenho geométrico. Em 1898, com 19 anos de idade, seu aprendizado do desenho era acompanhado de representações da escritura musical. Enquanto aprendia a desenhar uma elipse, Paul Klee via, na forma geométrica, o olhar de Beethoven". "Cada vez mais estou convencido acerca dos paralelismos entre a música e a arte", diria, então, o jovem Paul Klee. Apagamento Com o texto recheado de ilustrações de Klee, exemplificando suas experiências estéticas, a autora consegue comunicar ao leigo parte das contribuições teóricas e práticas do artista em busca das conexões "entre a linha melódica e a linha no desenho; o ritmo e as sequências; os tempos dos compassos e as divisões da pintura; a métrica da música e a modulação da forma e da cor nas artes visuais", e que resultaram em um dos mais expressivos legados para a arte construtivista. Bastante pedagógico, nesse aspecto, são os esboços de Klee (Polifonia a três partes) mostrando superposição de cores e texturas para representar a polifonia. Mas, apesar, dessa vivência e dos registros plásticos e acadêmicos, a linguagem musical não é mais, na atualidade, "explicitada", como ressalta a pesquisadora, na Teoria da Forma proposta por Klee - e ainda em discussão nos meios artísticos. O artigo de Rosana de Castro pode ser acessado neste link.
Delacroix, Ruskin, Gauguin, Seurrat, Delaunay, Kandinsky, Matisse, Tobey, Mondrian e Pollock foram os contemporâneos que também se debruçavam sobre as interrelações entre forma e música. Mas, observa Rosana de Castro, "nenhum deles dedicou tanto tempo e energia para elaborar uma teoria extensa que justificasse as experiências visuais representando os valores do compasso, dos tempos musicais, das divisões dos tempos, das notas em sequências com diferentes valores de tempo e, na essência disso tudo, revelando a manifestação convicta de seu pensamento filosófico sobre a dualidade, do caos ao cosmos, refletido sobre os opostos: o silêncio necessário ao som; na forma inexistente sem seu complemento que é o fundo; no claro contraposto ao escuro e no movimento como modo de interação entre estes opostos".