As relações étnico-raciais, a violência e os direitos humanos nas escolas foram tema de um dos simpósios do XV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (Endipe) nesta sexta-feira, 23. “É a primeira vez que o debate sobre esse tema tem espaço próprio no Endipe”, ressaltou a pesquisadora Vera Maria Candau, da Puc-Rio, uma das palestrantes do evento. Candeau, que é coordenadora do Grupo de Estudos sobre Cotidiano, Educação e Cultura(s) (Gegec),acredita que nessa edição do Encontro também foi ampliada a discussão sobre a educação de indígenas e sobre as questões de gênero. “Os encontros têm um processo. Talvez na área de didática e prática de ensino, outros temas foram prioritários”, reflete. A pesquisadora avaliou as discussões do evento como produtivas e altamente importantes. “Achei muito consistentes e adequadas todas as apresentações que assisti. Foi um passo muito importante”, afirmou. Durante o simpósio, Candau questionou se “as diferenças fazem diferença” do ponto de vista pedagógico. A pesquisadora citou uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) que relaciona o preconceito nas escolas aos resultados da Prova Brasil e conclui que, quanto maior o preconceito, pior o resultado na avaliação. “As diferenças estão bombando nas escolas e nós não sabemos o que fazer com isso”, instigou. Para ela, tal pesquisa mostra que trabalhar questões sociais nas escolas, como o preconceito, não atrapalha o desenvolvimento curricular dos alunos, como muitos afirmam. “Trabalhar a dimensão cultural potencializa os processos de aprendizagem”, ponderou. Intolerância religiosa O professor da FaE fez uma retomada histórica dos conflitos raciais, lembrando que os diferentes grupos étnicos não entraram na história brasileira na mesma condição. “Embora falemos de educação, essa é uma questão que está no centro da civilização brasileira”, argumentou. Gonçalves citou pesquisadores que trataram do assunto, como Darcy Ribeiro, Tzevtan Teodorov, Gilberto Freite, Roger Bastide e Guerreiro Ramos. Para ele, todos esses autores apontam a duplicidade que marca as relações raciais, que oscilam entre a violência e a convivência pacífica. O pesquisador criticou aqueles que acusam o movimento negro de racialista. “Isso é uma forma de desclassificar o movimento anti-racista como estratégia eficaz no combate ao racismo”, disse. De acordo com Gonçalves, a melhor forma de combater a violência racial é através da afirmação dos direitos humanos, da aplicação das leis e da educação. “É preciso educação para mudar a mentalidade”, afirmou. Já Erisvaldo Pereira dos Santos se concentrou na intolerância contra religiões de matrizes africanas no Brasil dentro das escolas. Adepto do Candomblé, o palestrante afirmou nenhuma religião pode ter privilégios no conteúdo escolar. “O conteúdo escolar deve favorecer a compreensão, tolerância e amizade entre raças e religiões”. Ele criticou o discurso de muitos educadores que são contra o ensino de religião em escolas públicas, sob a afirmação de que o Estado é laico. “Meu objetivo é insistir com os educadores que a defesa dos direitos humanos em uma escola democrática pressupõe a garantia do direito de liberdade religiosa”, disse. Nesse sentindo, o papel das escolas seria de formar “juízos ponderados” e, para tanto, é preciso que os educadores superem o imaginário social brasileiro que incute uma visão negativa sobre o Candomblé e a Umbada, além de tratarem mitos e símbolos das religiões como patrimônio cultural da humanidade. O XV Endipe termina hoje, após conferência do reitor da Universidade de Lisboa (Portugal), Atônio Nóvoa. A plenária de encerramento acontece às 16h30, na Faculdade de Educação.
Também participaram do simpósio os professores Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG e Erisvaldo Pereira dos Santos, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).