Quantos pais não tremem quando os filhos decidem tornar-se artistas? Afinal, segundo reza a lenda, carreiras como medicina, direito e engenharia são mais promissoras e garantem futuro financeiramente mais estável. Contudo, nem sempre se pode pensar apenas na questão econômica, que, apesar de importante, não garante uma vida feliz. É o que diz Marcos Hill, artista plástico, estudioso e investigador da imagem, pesquisador e professor de História da Arte dos cursos de graduação e pós-graduação da Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG. Nesta conversa, Hill comenta a evolução do fazer artístico, o preconceito – ainda em voga – contra os profissionais da imagem, entre outros assuntos. O que é um artista ou profissional da arte? Quem são os profissionais da imagem? Como é a interferência da tecnologia no mundo artístico? Pelo que o senhor falou existe mercado para um profissional da imagem... Ainda existe certo temor por parte dos pais quando um jovem opta por um curso voltado para as artes. Qual o porquê disso? É possível, então, ganhar dinheiro com a imagem? Como o senhor vê a produção artística brasileira contemporânea? (Tubo de Ensaio, site de notícias produzido por estudantes do curso de Comunicação Social da UFMG)
Um artista é aquele profissional que se localiza no campo da produção imagética. Por isso, prefiro o termo “profissional da imagem” a “profissional da arte”. Restringir a arte apenas a pinturas e esculturas é empobrecê-la. A arte, hoje, vive em contexto muito mais amplo, muito mais complexo. A exigência é muito maior. Ao falarmos “artista”, restringimos a atuação desse profissional a um mercado muito pequeno.
Os artistas são profissionais de imagem, assim como os designers, os publicitários, os cineastas. Todos trabalham com a imagem, vivem da imagem, produzem imagens. Hoje, uma escola de arte oferece formação mais ampla e dinâmica, não se restringindo às chamadas “Belas-Artes”. Na EBA, por exemplo, muito da produção se dá a partir de técnicas digitais.
O primeiro ponto a se considerar é que a arte não é fixa. Ela vive em contextos e se adapta a eles. Ao longo da história, a arte incorporou conceitos distintos. A arte antes e pós-guerra é diferente, pois o cenário mundial mudou. É justamente essa capacidade mutável da arte que a torna tão interessante. As novas tecnologias estão aí para provar isso. Elas mudam os padrões então existentes, quebram barreiras antes impossíveis de ser transpostas. A arte bebeu, e deve continuar bebendo, dos recursos que a tecnologia oferece. Seria um retrocesso se os profissionais da imagem virassem as costas para as novas tecnologias, que permitem uma infinidade de recursos antes inimagináveis. O trabalho acaba se tornando mais interessante, já que o profissional precisa atualizar-se sempre.
Sim. Existe, e arrisco dizer que é um mercado em franca expansão. Veja o exemplo da publicidade e propaganda, ou do design, áreas em que a demanda aumenta significativamente e atraem cada vez mais jovens interessados em trabalhar com imagem.
Isso é cultural. Vem de uma época em que ser artista tinha dois significados extremos: ou a pessoa era um gênio, ou um vagabundo. Até hoje prevalece a marginalização do mundo artístico. Muitas pessoas ainda têm em mente que um profissional da imagem é libertino e faz coisas que fogem dos padrões socialmente aceitos. Para mim, esse receio é um equívoco dos pais. Em alguns pontos, chega a ser cruel com o jovem. Hoje, preza-se muito pela questão material, fala-se que quem decide trabalhar com imagem não ganhará dinheiro, e vai ficar dependente dos pais. Isso é mais forte ainda quando a escolha é pelas Artes Plásticas. Eu me pergunto: é mais importante ganhar muito dinheiro ou ser feliz? O que sempre digo é que uma pessoa pode até fazer o que não gosta para ganhar dinheiro, e ganhá-lo, mas existe uma chance enorme de essa pessoa ser infeliz, e infelicidade provoca doença. Daí, todo dinheiro ganho será gasto em remédios. Será que vale a pena?
É possível uma pessoa feliz com o que faz conseguir inserção digna no mercado.
Na sociedade em que vivemos, altamente capitalista, vejo um condicionamento da arte ao mercado. O que se espera é produção, produção e mais produção. Deseja-se um produto, alguma coisa palpável para chamar de obra-de-arte. Contudo, esquece-se que a arte é um campo de produção de conhecimento que está para além da produção de um bem de mercado. Até mesmo dentro das escolas de arte isso é mal compreendido. Claro que dinheiro é necessário, mas condicionar a arte a produtos é também condicionar o potencial cognitivo do ser humano, sua capacidade crítica.