Ele é barato, tem alta produtividade, inspira técnicas simples e oferece grande resistência mecânica. Muito usado informalmente há séculos como material estrutural, só recentemente passou a ser estudado cientificamente. Na UFMG, o bambu já é objeto de duas patentes registradas em 2010. Desde 2008, as pesquisas envolvendo o bambu têm apoio do CNPq, que destinou recursos de R$ 180 mil para o projeto Estruturas Acessíveis de Bambu: Concepção, Análise e Implementação, que reúne UFMG, PUC-Rio e Cefet-MG. O trabalho na Universidade é coordenado pelo professor Luís Eustáquio Moreira, do Departamento de Engenharia de Estruturas (Dees), da Escola de Engenharia, que há 20 anos desenvolve estudos sobre o material. Segundo Luís Eustáquio, a produção de biomassa no caso do bambu é comparável à do eucalipto, sendo que o corte do primeiro pode ser feito em até três anos – quando já apresenta alta resistência estrutural –, enquanto o eucalipto exige de seis a sete anos para a extração. “Não se faz corte total no bambu, o que torna sua extração sustentável, e cada plantação dura mais de cem anos”, afirma o pesquisador, que lembra ainda o pequeno custo de produção do bambu no que se refere ao consumo de energia. Muito utilizado em decoração – revestimento de pisos, paredes e confecção de peças como biombos –, o bambu tem a vantagem de ser um material que “respira”, ou seja, absorve e libera umidade. O material tem sido aplicado também em coberturas de residências e galpões e na chamada “arquitetura efêmera”, representada por estruturas temporárias como estandes de exposições. Luís Eustáquio Moreira informa que um tubo de seis metros de comprimento, com 10 centímetros de diâmetro, pesa cerca de 12 quilos. “O bambu é fácil de manipular, devido à sua leveza e também por ser trabalhável com ferramentas simples. As estruturas com colmos de bambu são produzidas artesanalmente” ressalta o professor, que coordena o Laboratório de Sistemas Estruturais da Escola de Engenharia (Lase). Patentes O segundo produto é a Barra de Bambu de Esterilla Colada, que pretende oferecer alternativa mais simples, rústica e barata às barras de bambu laminado colado. Segundo Luís Eustáquio Moreira, a produção exige que o tubo seja aberto para a retirada do interior do material, de qualidade inferior. O bambu aberto forma esteiras, que são empilhadas e coladas. “É um material rústico, mas com qualidade, que atende às exigências de durabilidade e resistência, além de mais barato”, defende o pesquisador, que é doutor em Engenharia Civil e pós-doutor em Design Industrial pela PUC-Rio. Ele reforça a necessidade de se lançar mão da alta tecnologia para os testes de segurança. “O bambu é um material amigável, que permite construção simples, mas não podemos esquecer que trabalhamos com edificações e devemos estar atentos a aspectos como resistência dos elementos e ligações e estabilidade global das estruturas, condição de segurança e usabilidade das edificações”, alerta Moreira. Ele prestou consultoria para construção de uma capela de bambu para a novela Araguaia, da Rede Globo. O Lase definiu o sistema estrutural e fez recomendações de projeto para a edificação construída por empresa especializada, em parceria com arquitetos e designers da emissora. Trabalho em equipe Aço e design A pesquisa tem como um de seus objetivos projetar conectores para as extremidades das barras de bambu utilizando as ferramentas do design, que serão fundamentais também para se chegar aos desenhos das estruturas. Além disso, Fernando Silva pretende testar sua capacidade de suportar condições reais de peso, vento, deslocamento lateral e outros parâmetros da Engenharia. “Vamos fazer experiências não apenas com softwares, mas também com protótipos de grandes dimensões”, diz o pesquisador, mestre em Design pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru. Segundo ele, sistemas que aliam bambu e cabos de aço (ou sintéticos) ainda não foram utilizados para estruturas de grande porte Leia mais na edição 1730 do Boletim UFMG.
Duas patentes foram registradas no ano passado, em âmbito nacional, com intermediação da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), da UFMG. Um dos produtos é a Conexão Nervurada para Tubos de Bambu. Uma nervura à base de tecido prepara o tubo de bambu para receber anéis metálicos ou amarrações, o que permite fazer conexões na parte externa sem necessidade de furos.
As pesquisas com bambu realizadas na UFMG contam atualmente com participação de cinco alunos de graduação bolsistas e um aluno de doutorado. A característica artesanal das atividades pede trabalho em equipe, segundo Luís Eustáquio Moreira. Ele defende a construção com bambu como forma de contribuir para o crescimento de regiões e comunidades menos desenvolvidas. E lembra que o material está na moda com a emergência da cultura da sustentabilidade.
“Não se trata de oportunismo, como muitas vezes parece, em função do tratamento dado pela mídia. Viabilizar novas técnicas e materiais, conjugar os mais diferentes materiais, como bambu, tecido, adesivos, cabos e lonas sintéticas, tudo isso faz parte da metodologia do nosso laboratório, que promove interação de teoria, modelos matemáticos e digitais, com modelagem física, para a conquista de objetos bem ajustados segundo sua função e funcionamento”, afirma o pesquisador.
O Lase deverá coordenar atividades de extensão na Estação Ecológica da UFMG, no campus da Pampulha, e projetos na Fazenda Modelo de Projetos Sustentáveis de Pedro Leopoldo. No final deste ano, uma exposição na UFMG vai apresentar os resultados alcançados pelo projeto Estruturas Acessíveis de Bambu.
Um dos estudos desenvolvidos pelo grupo coordenado pelo professor Luís Eustáquio Moreira busca criar sistemas que integrem o bambu a cabos de aço e cabos sintéticos. O objetivo é aumentar a resistência de estruturas como mastros para tendas e passarelas. Os estudos estão sendo realizados para a tese de doutorado de Fernando José da Silva, professor do curso de Design da Escola de Arquitetura da UFMG.