Universidade Federal de Minas Gerais

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Tela Grafia Antica, de 1939: fase em que o artista privilegia o plástico sobre o semântico

‘Poema é pintura e pintura é poema’ na obra do argentino Xul Solar, revela pesquisa da Fale

terça-feira, 19 de abril de 2011, às 7h00

Ele começou criando textos-legendas para suas pinturas, e chegou a conceber idiomas e alfabetos cujos signos recebiam tratamento plástico e lugar central em suas telas. Dono de uma das produções mais densas e significativas da vanguarda latino-americana, o argentino Alejandro Xul Solar (1887-1963) ganhou o primeiro estudo acadêmico no Brasil a privilegiar, especificamente, as relações entre pintura e escritura no conjunto de sua obra. Yara Augusto, que elaborou, em termos de legibilidade e visibilidade, uma divisão da trajetória pictórica do artista em quatro fases, defendeu em fevereiro, na Faculdade de Letras (Fale), dissertação orientada pela professora Vera Casa Nova.

Segundo a pesquisadora, Xul Solar foi um artista de talento múltiplo e enveredou por áreas como a arquitetura e a música, mas ela focou seu trabalho no processo de imbricação de texto e imagem. “Faço um panorama de sua obra, desde o início da aproximação de figuras e palavras até o momento em que tudo converge em uma expressão artística única: pintura é poema e poema é pintura”, conta Yara Augusto.

Ela acrescenta que, diferentemente da hierarquização que vigorou por muito tempo, Xul Solar não acreditava que pintura e literatura deveriam competir. Não havia interdições para a aproximação entre as linguagens na busca de novas formas artísticas e novos mecanismos de comunicação.

Filho de mãe italiana e pai alemão, Xul Solar foi fruto da chamada “cultura da mescla”, que marcou a Argentina no início do século 20. “A variedade de campos de interesse somada ao contexto multicultural em que ele esteve inserido imprimiram uma diversidade expressiva ao conjunto de sua produção”, afirma a pesquisadora, que lembra a identificação de Solar – em suas convicções sobre a reunião das artes – com as ideias do poeta e pintor William Blake e do compositor Richard Wagner.

Inventor de línguas
Aos 24 anos de idade, Alejandro Xul Solar seguiu para a Europa, onde passou 12 anos completando sua formação e pôde refletir sobre o que seria a identidade latino-americana. Essa temporada teve papel crucial na elaboração de seu projeto de renovação estética. “Para unir as nações do continente, que deveriam fazer frente à produção cultural europeia, o artista criou o neocriollo, idioma que misturava espanhol, português e inglês”, revela Yara Augusto.

Ela conta que Xul Solar vivia intensamente o idioma: conversava e escrevia em neocriollo, além de usar as palavras em suas pinturas, o que denunciava em parte a influência de movimentos como o Cubismo e o Expressionismo. E ele, que conhecia 11 línguas, inventou ainda um segundo idioma, de caráter universal, a panlíngua. “Essa faceta do artista mostra seu gosto pela manipulação de linguagens, pelo deslocamento do significante”, diz Yara.

Quatro fases
A aproximação de texto e imagem na obra de Alejandro Xul Solar rege a divisão de sua produção em quatro fases, de acordo com o trabalho de Yara Augusto. A primeira seria a da pintura legendada: ele encaixava suas pinturas em cartões e punha nas extremidades das superfícies títulos e assinaturas que influenciavam a fruição da obra. Depois teve início a fase da pintura verbal, em que a escritura passou a avançar para o centro da obra. “O texto se torna personagem e a pintura adensa seu caráter narrativo, ao representar os mitos pré-colombianos, por exemplo”, conta a pesquisadora.

Os trabalhos da terceira etapa delimitada pela dissertação são dominados pela escritura, composta de grafias herméticas. “Ele faz, então, sobressair a fisicalidade da linguagem, pois passa a ressaltar o significante e ofuscar o significado. O que era especialmente semântico se torna sobretudo plástico”, define Yara.

Na última fase de sua produção, de acordo com a pesquisadora, Xul Solar resgata e reúne as características das etapas anteriores para conformar uma singular escritura pictural. Pouco antes de morrer, o artista desenvolveu alfabetos muito pessoais, e a partir deles pintava os quadros, que podem ser compreendidos como poesia visual. “Ele criou um mecanismo de pintura-escritura, a partir da escolha de textos que traduzia para o neocriollo e, daí, para os novos alfabetos gráficos. Pintava os enunciados e lhes dava, então, tratamento plástico”, explica Yara, que utilizou algumas chaves léxicas para identificação das grafias.

Tabuleiro de signos
Yara Augusto acredita que, se Solar tivesse vivido mais alguns anos, teria tornado seus sistemas ainda mais complexos, já que ele levava ao extremo o que chamou de “estética da reinvenção”. Sua capacidade de criação se materializou também numa tabela de correspondência entre as artes e num jogo-dicionário da panlíngua, elaborado como um tabuleiro de xadrez modificado que combina signos diversos – letras, números, notas musicais, cores, entre outros.

“O Panajedrez é um objeto artístico sincrético, espécie de tábua de conhecimento, de base astrológica e duodecimal, que projeta uma escritura pansemiótica. Uma obra labiríntica como a literatura de Jorge Luis Borges”, define Yara Augusto, que pretende estender suas pesquisas para o projeto de doutorado. A propósito, Borges, que foi vizinho e amigo de Xul Solar, dizia brincando que não conseguia apreender as regras do jogo, que era constantemente aperfeiçoado e ampliado. A casa onde viveu o artista, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, é o hoje o Museu Xul Solar.

Dissertação: Por uma escritura pictural: texto e imagem na arte de Alejandro Xul Solar
De Yara dos Santos Augusto Silva
Orientada por Vera Lúcia de Carvalho Casa Nova
Programa de pós-graduação em Estudos Literários, na Fale
Defendida em 24 de fevereiro de 2011



! Xul Panajedrez (1945).jpg
Panajedrez, de 1945: jogo-dicionário em forma de caixa-tabuleiro com 110 peças

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