A grande rede abriga desde março de 2011 um tesouro para quem estuda artes gráficas, publicidade, história, sociologia, ciência política e outras ciências. O portal Poster Gallery: Utopian Constructions reúne mais de 3100 cartazes que traçam um panorama visual da política no século 20 – disponíveis em altíssima definição e acessíveis por mecanismos de busca variados e instigantes. Iniciativa da Nanyang Technological University (NTU), instituição federal em Cingapura, o projeto é coordenado pelo professor Heitor Capuzzo, da Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG, que está em Cingapura, e foi produzido em conjunto por Marilia Bérgamo e Carlos Falci, também da EBA, além de Manuel Reis, da USP. A intenção é que atividades em torno do portal sejam inseridas em projetos de pesquisa e extensão na UFMG. A grande maioria dos cartazes é de propaganda política, em que predominam pôsteres produzidos na antiga União Soviética, no Leste europeu e na China. A Coreia do Norte, há décadas um dos regimes mais fechados do planeta, aparece com 140 cartazes. “O portal é parte de pesquisa sobre como a mídia representou, ao longo do século 20, propostas de criação de novas sociedades”, explica Heitor Capuzzo, que está licenciado da UFMG e chegou a Cingapura em 2009. O material recebeu tratamento gráfico que envolveu uso de escâneres de altíssima resolução, e os cartazes podem ser impressos com qualidade equivalente (ou quase) à original. “Os arquivos têm até 40 megabytes, o que não é comum em sites do gênero”, informa Carlos Falci. “É possível realizar estudos muito acurados dos cartazes do ponto de vista visual”. Busca variada Uma busca textual livre pode unir aspectos como mulher e China, o que vai resultar em todos os itens que abordam mulheres e o país. Já na forma avançada da busca textual, é possível fazer cruzamentos que revelem, por exemplo, camponesas chinesas. Um último modo de pesquisa é baseado nos elementos visuais. “Marcamos diversos elementos, e quando o usuário clica numa baioneta ou numa bandeira, pode pedir os outros cartazes em que aparecem imagens de baionetas ou bandeiras”, explica o professor da EBA. A galeria virtual contém “coleções” que tratam de temas específicos, elaboradas pela própria equipe de produção. Em futuro próximo, serão feitos novos recortes, trabalho que reunirá curadores convidados – designers, sociólogos, historiadores, entre outros. E imagina-se permitir aos visitantes cadastrados criar suas próprias coleções e registrar seus percursos de navegação. “Resgatar o roteiro de uma visita anterior aumenta o aproveitamento da navegação”, salienta Carlos Falci. Disponível por ora com textos apenas em inglês, o portal poderá, em breve, reunir quatro mil cartazes. As “construções utópicas” da política mundial no século passado são mostradas, sobretudo, do ponto de vista visual, ressalta Carlos Falci, e não somente a partir de contextos históricos previamente definidos. E algum tempo de navegação pode revelar a ascensão e a derrocada da Revolução Cultural Chinesa, a recorrência de imagens de soldados na busca pelo item “ocupação” e, sem surpresa, a predominância da cor vermelha nas peças de propaganda política. Professor da School of Art, Design and Media da NTU, Heitor Capuzzo lembra que o projeto está em fase de testes e de incorporar feedback de usuários para guiar seu aperfeiçoamento. “Já temos a estrutura básica, e o resultado é bem mais rico do que a equipe imaginou inicialmente. E certamente não se assemelha a nada do que pode ser encontrado hoje na web, em função tanto da quantidade de pôsteres quanto da resolução e dos mecanismos de busca”, afirma o coordenador. (Boletim UFMG, edição 1736)
Um dos responsáveis pela classificação dos pôsteres e pela estruturação da busca, Falci destaca também a variedade das formas de encaminhar a pesquisa. Para começar, um menu lista categorias como país, data, sociedade, elementos visuais e até expressões faciais. Um segundo caminho é a escolha de tags que mostram os temas que mais aparecem no conjunto de cartazes.