As mulheres têm conquistado cada vez mais poder na Índia, em campos como a política e a economia, mas leis que regem a vida pessoal, embora adequadas, nem sempre são cumpridas como deveriam, segundo a pesquisadora e ativista Bharati Ray. Ela participa nesta sexta, 27, do Colóquio Internacional sobre Rabindranath Tagore e Aspectos da Cultura Indiana (leia mais), na Face. Tagore foi o primeiro Prêmio Nobel da Ásia (Literatura, 1913) e exerceu grande influência sobre escritores brasileiros como Cecília Meireles e Abgar Renault Ex-professora de História da Universidade de Calcutá, onde foi a primeira mulher a ser eleita vice-reitora, Bharati Ray teve mandato no Parlamento da Índia. Sua atuação foi marcada pela defesa do direito à educação. Sua pesquisa concentra-se na história política indiana e na história dos movimentos de mulheres no país. A Nesta entrevista, Bharati Ray enumera conquistas das mulheres em seu país, fala de Tagore e da aproximação da Índia com relação a países como o Brasil. Como tem evoluído a situação da mulher na Índia e como têm atuado a academia e os políticos nesse sentido? Mas em algumas áreas o tratamento é claramente diferente para homens e mulheres? Sua atuação está dedicada também à divulgação da obra de Rabindranath Tagore... Como anda o relacionamento das instituições indianas com as de outros países? (Com apoio do professor Carlos Gohn, da Faculdade de Letras, coordenador de Centro de Estudos sobre a Índia, da UFMG)
Atualmente é vice-presidente do Conselho para Relações Culturais da Índia.
A condição da mulher começou a ter melhorias a partir da metade do século 19, principalmente através de reformas sociais e da cooperação entre o governo e a sociedade civil. Diversas leis resultaram na melhor proteção da mulher. Nas escolas secundárias e em determinadas instâncias do ensino universitário público (até o fim da graduação) a educação é gratuita para as mulheres, o que não acontece para os homens. Só a educação primária é grátis para todos, e nas escolas públicas. Temos conquistado o empoderamento econômico das mulheres, principalmente com a mediação de de cooperativas de mulheres e ONGs – todas essas entidades trabalhando junto com o governo. Falando do campo político, está para ser aprovada no Parlamento uma lei – que já foi aprovada em todas as outras instâncias – garantindo que no mínimo um terço da representação política seja de mulheres, em todos os níveis. Vale lembrar várias outras leis contra a tradição do dote das mulheres no casamento, a violência doméstica, o abuso sexual no trabalho e o estupro. O governo tem agido com seriedade nessas áreas.
A Constituição da Índia garante que homens e mulheres são iguais em seus direitos (Lei Civil). Em questões de cunho pessoal, as leis são boas, mas a implementação delas pode, às vezes, oferecer desafios.
Tagore, cujos 150 anos de nascimento estamos celebrando, não pertencia ao estado de Bengala somente. Ele era um homem universal, mas uma vez que escreveu em língua bengali, os habitantes de nossa região tiveram um acesso privilegiado a sua obra. Em trabalho cooperativo com meu marido, traduzimos seis livros de Tagore para o inglês. Escrevi artigos acadêmicos sobre sua obra. E tenho viajado por todo o mundo para promover a compreensão da visão de Tagore, como artista, como vencedor do Prêmio Nobel de literatura, como educador, como crítico cultural.
A Índia está se abrindo e promove cooperação ativa com universidades e instituições em todo o mundo. Uma vez que a educação e o intercâmbio cultural são importantes para a amizade entre os povos, e considerando-se que o Brasil é certamente um dos países prioritários para a Índia, a colaboração entre universidades brasileiras como a UFMG e instituições indianas é essencial,