Universidade Federal de Minas Gerais

Ronaldo de Noronha contesta autoritarismo de quem determina o que é (ou não) arte

sexta-feira, 2 de setembro de 2011, às 7h09


“É preciso desarmar e desmascarar a autoridade no campo da arte no que ela tem de autoritário, e apoiá-la no que tem de competência e recursos, como pesquisas e reflexões que devem ser acessíveis a todos.” A frase do pesquisador Ronaldo de Noronha, professor da Fafich, resume o que ele chama de “pregação” em favor da democratização do acesso à arte. Ele vai expor sobre o tema neste sábado, em palestra no Espaço TIM UFMG do Conhecimento (leia mais).

A posição do professor do Departamento de Sociologia e Antropologia fica clara já a partir da pergunta que dá título à apresentação. Ronaldo de Noronha surpreende ao lançar a provocação “Quando é arte?”. Ele explica que a forma mais esperada não deve ser usada. “Não é o caso de perguntar ‘O que é arte?’. Não se trata de pensar em qualidades que uma obra deve ter para ser considerada artística. Faz mais sentido saber quando isso foi atribuído, e por quem”, ele diz.

Isso tem a ver com os processos – perfeitamente identificáveis e analisáveis, segundo Noronha – de atribuição de qualidade artística a determinados objetos. “Do mesmo modo que se concede o status de arte a uma obra, ele pode ser negado em outra época, por outras pessoas”, lembra o pesquisador, que reflete sobre o assunto pelo menos desde que publicou, na revista Teoria e Sociedade (dos departamentos de Ciência Política e Sociologia e Antropologia da Fafich), no final dos anos 1990, o artigo A formação dos gostos: a sociologia dos juízos estéticos.

Experiência da arte
E por que é importante questionar “quando é arte”? Ronaldo de Noronha afirma que o objetivo é despertar o interesse das pessoas pelo assunto. Afinal, ele ressalta, as diferentes artes podem não ser aquilo que humanidade fez de mais importante, mas certamente foi o que ela fez de melhor. Além disso, segundo ele, “se compreendermos bem no que consiste o fenômeno artístico, seremos mais capazes de experimentar a arte de modo mais rico”.

Ele garante reconhecer o papel fundamental dos artistas e produtores de arte, mas prefere se colocar do ponto de vista de quem vive a arte – o leitor, o ouvinte, o espectador. “Poucos se lembram que a obra de arte só existe quando alguém interage com ela”, diz Noronha. “Se imaginarmos uma livraria que contenha todos os textos já escritos acerca de obras e autores, vamos constatar ali que os especialistas se dedicaram a interpretar e estabelecer conceitos sobre os trabalhos como resultado da produção dos artistas. No entanto, tem sido deixado na obscuridade, como um problema menor, aqueles a quem se destina a obra e o que eles fazem com ela”, completa o professor de sociologia da arte e da cultura.

Mas o pesquisador da UFMG não chega ao ponto de se sentir sozinho em sua “pregação”. Segundo ele, tem havido investimento crescente, a partir dos anos 1960 e 70, nos estudos da “leitura”, ou seja, da atividade de recepção artística, sobretudo relacionada à literatura, mas também ao cinema e às artes plásticas. A sociologia, por exemplo, tem tratado do assunto ao pensar nas condições para compreensão da obra, a chamada competência cultural.

Censo cultural
De acordo com Ronaldo de Noronha, que foi crítico de cinema por cerca de 20 anos em jornal diário de Belo Horizonte, seria “magnífico” para o Brasil se fossem realizadas pesquisas nos moldes do que se faz na França. “Os franceses promovem constantemente uma espécie de censo das práticas culturais, e recolhem dados sobre quem vai aonde e que grupos fazem o quê quando se trata de consumir cultura”, diz ele. “Essa informação é usada por gestores para elaboração de políticas públicas de fomento – entre nós, seria importante criar oportunidades para a população desprovida de recursos – e por grupos artísticos para buscar novos espaços e financiamentos.”

A opinião de Noronha sobre os gestores públicos de cultura no Brasil é positiva. Ele acha que, com poucos recursos além daqueles gerados por leis de incentivo, em geral tem se feito muito nessa área, incluindo um esforço de democratização. E informação suplementar sobre hábitos e preferências seria muito bem-vinda. “Pesquisas rigorosas nessa área são boas quando desmascaram certas coisas que são tidas como verdade, como a visão de que as classes populares não se interessam por arte”, dispara.

Segundo o pesquisador, esse tipo de visão “elitista” ignora que todos gostam de arte – apenas ela é definida de modos diferentes. Ele lembra que, quando apareceu o jazz, os eruditos entendiam a música como barulho. Processos análogos se deram com o rock e o samba. “Quem vai me impedir de achar que histórias em quadrinhos, séries de TV e Tropa de elite 2 são obras de arte?”, provoca mais uma vez. A propósito, ele cita dissertação defendida recentemente na Fafich por Júnia Torres, que estudou os rappers. “Acadêmicos nos Estados Unidos têm feito novas leituras do rap e encontram nas letras qualidades da poesia canônica da língua inglesa. E também não é por isso que a poesia do rap deve ser considerada arte”, salienta Ronaldo de Noronha.

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