PLÁSTICO EM QUATRO ELEMENTOS

Plástico adj. 1.Relativo a plástica. 2.Que tem a propriedade de adquirir determinadas formas. 3.Diz-se de matéria sintética, dotada de grande maleabilidade e facilmente transformável mediante emprego de calor e pressão. (...) ¹

Como se pode perceber, o conceito e a origem do plástico estão intimamente ligados ao elemento fogo, para que o calor e a pressão atuem no material dando-lhe a "vida". Percebendo essa ligação de origem com um dos elementos naturais, talvez seja curioso estabelecer relações reais ou descontraídas com os outros elementos. Através de instalações e esculturas lembrar como este material criado ou descoberto pelo homem interage com o restante da natureza.

Dentre tantos objetos criados com o plástico, a garrafa é aquele que talvez seja o mais comum dentro de uso cotidiano por um enorme número de pessoas. Criado para substituir o vidro para armazenar quase todo tipo de líquido comercializado. De amaciante de roupa a refrigerantes, a água está contida nessa relação. A água que vai pra dentro da garrafa plástica. E depois do produto (contendo água) totalmente consumido, o que resta para a embalagem em questão é ir para o lixo. Depois da grande festa, acabada a faxina da semana, findo o almoço de domingo, milhares de garrafas e outras embalagens plásticas vão para a famigerada lata de lixo. Este é o fim para uma garrafa. Para uma não, para milhares. E se uma parede feita com essas garrafas cheias com líquidos coloridos lhe parecer muito bonita, lembre-se depois que mesmo assim, um dia ela será lixo.

Há todo o momento vemos em projetos ecológicos o dado que este material levará um tanto de anos x para se decompor na natureza, fazendo parte dela harmoniosamente. Sim, é muito tempo. Enquanto isso temos que nos sentir acostumados a ver este mundo de garrafas plásticas afundadas na terra que nos sustenta. Incomodando nosso caminho quando queremos apreciar a beleza de nossas matas ou passeando de férias pela praia. Plástico enfiado na terra. A natureza na obrigação de assumir a responsabilidade pelo artificial, criação do homem. Não pode ser desculpa, mas ela acaba dando conta do recado. Porém não se deve ficar eternamente colocando tudo em suas mãos, mesmo se vermos a vida surgindo em meio ao material plástico, como em vasinhos flor feitos com essas garrafas.

O que fazer então é uma questão muito complexa. Envolve diversas gamas de interesses, de personalidades, de ideais. A questão do lixo é ampla. É sabido que o plástico não é o único elemento que compõe este mundo de restos humanos. Mas ele foi aqui tomado como um representante para se falar do que se espera alcançar algum dia: o equilíbrio. E para simbolizar este anseio deste trabalho, o plástico por fim entra em contato com o quarto elemento, o ar. Para este feito, as garrafas foram suspensas em móbiles. Um objeto artístico que vive do equilíbrio e do movimento, através do ar. Sim, é uma brincadeira a relação do plástico com o ar. Uma metáfora para uma reflexão particular de cada um, quanto ao que podemos fazer, quanto às muitas coisas a serem avaliadas e mudadas dentro da questão do lixo. A exemplo deste texto que é uma minúscula parcela dentro de um gigantesco trabalho a ser realizado e que pode demorar muito tempo para que um dia se tenha um resultado totalmente satisfatório. Mas se a própria natureza também tem que ter seu tempo para sua ação transformadora e eficaz, por que nós teríamos que  desistir diante da lentidão destes mesmos resultados.

Texto: Rodrigo Leite de Oliveira
Artista Plástico
Bolsista - Proex



¹ AURÉLIO, Dicionário de Língua Portuguesa, p.394.