Historiadora boliviana diz que pesquisas transfronteiriças são necessárias para compreender fenômeno da migração
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Maria Luisa Soux, Maria Medianeira, Maria Zilda Coury, Élerson Silva e Francisco Andrade. Conferência internacional sul-americana: territorialidades e humanidades. Foto: Foca Lisboa/ UFMG

Fenômeno que afeta grande parte da população mundial, a migração deve ser, cada vez mais, tema de pesquisas transdisciplinares e transfronteiriças, defendeu a historiadora Maria Luisa Soux [em foto de Foca Lisboa] na mesa-redonda Fronteiras e migrações, no fim da manhã desta terça-feira, 4. A mesa integra a programação da Conferência internacional sul-americana: territorialidades e humanidades.

Em evento que procura debater a recuperação do protagonismo da área de humanas na reflexão dos desafios enfrentados pela sociedade contemporânea, Maria Luisa Soux afirmou que seu país vive uma “espécie de esquizofrenia”, porque 100% das vagas de doutorado oferecidas pelo governo são para pesquisas nas áreas de ciências exatas e naturais.

Tal opção, segundo ela, está mais ligada à visão ocidental, que entende o progresso mirando apenas o futuro, enquanto o conceito nayra pacha, da cultura local, refere-se a um olhar para espaço e o tempo, com referência no passado.

Na palestra Cultura andina e migração boliviana no século 21, a pesquisadora falou de peculiaridades desse movimento migratório, citando princípios que estão na base de práticas comuns àquela população, como o cuidado com a Mãe Terra e o conceito de bem-viver, “que vai muito além da economia, e inclui viver bem consigo mesmo, com a natureza e a sociedade”.

Professora da Universidad Mayor de San André, Maria Luisa Soux afirmou que a migração, tanto legal quanto ilegal, tornou-se um problema generalizado na Bolívia, e listou os países que mais recebem bolivianos na atualidade: Argentina, Brasil, Estados Unidos, Espanha e Chile. Ponderou que o cruzamento da fronteira com o Peru não se caracteriza como migração, pois esse movimento, em geral com retorno no dia seguinte, para comércio e atividades familiares, vem desde a época pré-hispânica.

A historiadora enfatizou que os bolivianos são utilizados como mão de obra não qualificada nos países para onde migram, “mas continuam a ir”. “Mesmo explorados, muitas vezes por seus compatriotas, aprendem ofícios novos e enviam economias para sua família na Bolívia, gesto que faz aumentar seu prestígio na comunidade de origem”.

Refugiados

Outro tema abordado na mesma mesa foi o trabalho desenvolvido pela entidade civil Cáritas, que acolhe refugiados em 18 países. Representante da organização no Brasil, Élerson Silva [em foto de Foca Lisboa], que também é aluno do curso de História da UFMG, falou da diferença entre refugiado e migrante e enfatizou o papel da academia e das ciências humanas “para ajudar a romper muros e fronteiras, uma vez que as diferenças culturais devem nos unir”.

Em sua opinião, “as humanidades têm grande contribuição a dar no sentido de despertar as pessoas para a acolhida do outro, de reacender e redescobrir os valores éticos e o valor da condição humana”.

A professora Maria Medianeira Padoim, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), relatou o trabalho desenvolvido por comitê no âmbito da Associação de Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM), que, desde 2003, realiza pesquisas sobre o tema História, regiões e fronteiras.

O professor Francisco Eduardo Andrade, da Universidade Federal de Ouro Preto, falou sobre o tema Escravidões e sociabilidades confraternais da diáspora negra nas Minas na América portuguesa, no qual abordou a forma como era construída a liberdade civil para essa população excluída.

Outras informações sobre o evento e a programação dos próximos dias podem ser consultadas neste site.

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