Centro de Tecnologia de Medicina Molecular adquire equipamentos de ponta
Sistema ultrassensível de biomarcadores identifica sinais de doenças antes mesmo do surgimento de sintomas, e ultrassom funcional aprimora a observação da atividade cerebral em pequenos animais
Por Marcus Vinicius dos Santos | CTMM - Faculdade de Medicina
Dois equipamentos recém-chegados ao Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina prometem proporcionar grandes avanços em duas frentes da pesquisa médica: a detecção precoce de doenças e o aprimoramento da observação da atividade cerebral de pequenos animais.
O diagnóstico precoce de enfermidades é o grande trunfo proporcionado pelo Simoa SR-X Quanterix, sistema ultrassensível de detecção de biomarcadores que pode identificar sinais de doenças antes mesmo dos primeiros sintomas. O equipamento, financiado pela Fapemig, abre caminho para avanços no campo da chamada medicina de precisão e fortalece a infraestrutura do Centro.
Na visão do professor Marco Aurélio Romano-SIlva, coordenador do CTMM, o Simoa abre oportunidades para participação em estudos multicêntricos internacionais e estimula a aproximação com a indústria, a transferência de conhecimento e a formação de parcerias estratégicas. “A capacidade de enxergar o que antes passava despercebido pode acelerar descobertas, melhorar diagnósticos e ampliar o alcance de terapias personalizadas”, afirma o neurocientista da Faculdade de Medicina.
A tecnologia amplia a detecção de biomarcadores em estágios iniciais, ou seja, quando a intervenção clínica pode ser mais eficaz. Sua metodologia é capaz de quantificar proteínas em concentrações até 1 mil vezes menores do que as medidas por ensaios do método Elisa [técnica laboratorial usada para detectar e quantificar substâncias como proteínas, anticorpos e hormônios em amostras biológicas, eficiente no diagnóstico de covid-19, HIV e sífilis].
O princípio do Simoa é aprisionar cada molécula-alvo encontrada na amostra analisada em esferas magnéticas. Essas moléculas são isoladas em recipientes com a capacidade de armazenar um minúsculo volume de líquido: poucos femtolitros (fL), fração equivalente a 10⁻¹⁵ litros.
Essa estratégia é a grande responsável por tornar possível contar moléculas individuais em vez da média dos resultados de várias amostras. Enquanto métodos tradicionais detectam concentrações relativamente altas, o Simoa empurra o limite para níveis tão baixos que possibilita identificar sinais de doenças antes mesmo de os sintomas aparecerem.
Suas aplicações se estendem desde a pesquisa básica, com a investigação da função de proteínas e da dinâmica celular no nível de molécula única, até ensaios clínicos. No caso da pesquisa sobre o Alzheimer, a ferramenta pode medir biomarcadores em sangue e líquido cefalorraquidiano, auxiliando no diagnóstico precoce e no acompanhamento da progressão da doença. No campo da imunoterapia, seu uso consiste em avaliar respostas a tratamentos imunológicos, quantificar citocinas e monitorar variações fisiológicas de pacientes.
Nova era em neuroimagem pré-clínica
O CTMM também iniciou a criação de uma plataforma pré-clínica de pequenos animais que possibilita observar a atividade cerebral em tempo real com 100 vezes mais sensibilidade, ao adquirir o primeiro ultrassom funcional cerebral do Brasil.
“Trata-se de um passo decisivo para a ciência translacional e para o uso mais responsável e ético de animais de pesquisa”, comemora Marco Aurélio Romano-Silva. Segundo ele, o equipamento francês Iconeus One, cuja compra foi financiada pela Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), inaugura no Brasil uma nova era em neuroimagem pré-clínica. Ele é baseado em ultrassom funcional (fUS), tecnologia que permite observar o fluxo sanguíneo cerebral com altíssima sensibilidade e excelente resolução temporal, de forma não invasiva.
Ao captar variações no fluxo sanguíneo, o ultrassom funcional possibilita mapear a atividade cerebral com precisão quase milimétrica. Na prática, significa que é possível acompanhar mudanças neurológicas ao longo do tempo em experimentos com pequenos animais – algo essencial para estudar doenças como Parkinson e Alzheimer.
A expectativa é que, ainda em 2025, a nova plataforma de imagem pré-clínica comece a ser usada, por exemplo, no estudo de redes cerebrais, do neurodesenvolvimento, do comportamento e dos efeitos de neuromodulação. Também será possível aplicá-la em pesquisas sobre doenças neurodegenerativas e em estratégias terapêuticas baseadas em neurotecnologias implantáveis e não implantáveis.
Mais informações estão disponíveis no site do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R), no Instagram e no LinkedIn.
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