Outras dimensões relevantes da atuação da UFMG.

Cultura

No mundo contemporâneo, as atividades culturais e artísticas adquiriram relevância, dadas as suas características essenciais ao refinamento do humanismo e ao aperfeiçoamento da formação profissional. Nesse sentido, o desenvolvimento continuado desse tipo de ações é inerente à realização da missão da UFMG. Essas ações, até 2002, vinham sendo conduzidas sob a responsabilidade da Pró-Reitoria de Extensão. Com o objetivo de estimular e dar maior suporte às atividades desenvolvidas pela Universidade nas áreas cultural e artística, reconhecidas como produtoras de formas especiais de expressão, aquisição e repasse de conhecimento, foi criada naquele ano a Diretoria de Ação Cultural – DAC, subordinada à Reitoria.

Responsável pela coordenação da execução do Programa de Ação Cultural da UFMG, sua criação proporcionou maior autonomia a essas ações, compreendendo projetos e iniciativas produzidas, realizadas ou apoiadas pela Diretoria, ou em parceria com unidades acadêmicas ou outros órgãos da administração central. Essas ações são destinadas aos públicos interno e externo, incluindo mostras, seminários, apresentações artísticas e uma variada gama de eventos culturais, comemorativos ou institucionais. Essas ações compreendem, ainda, a articulação da UFMG com outras universidades e órgãos de educação e cultura, com o governo federal, do estado e de prefeituras.

Dentro dessa perspectiva, a UFMG desenvolve diversas ordens de atividades na área cultural. No Campus Pampulha, já em sua sexta edição, realiza-se o Domingo no Campus. Este projeto foi responsável, em 2005, por 18 eventos cênico-musicais, 60 espaços de ciência, 60 oficinas de arte, além de 123 atividades lúdicas e recreativas, realizadas pela DAC, em parceria com a Coordenadoria de Assuntos Comunitários, a UFMG Jovem e a FUNDEP. O público participante dessas seis edições é estimado em nove mil pessoas.

O Centro Cultural UFMG, localizado no hipercentro de Belo Horizonte, é uma das unidades de extensão da Universidade. Até 2005, suas ações haviam atingido um público estimado em seis mil pessoas. Nesse Centro, a produção cultural se dá por meio da troca de experiências, da expressão e da reflexão sobre a vida social, e do debate sobre o cotidiano, a educação, as questões urbanas e os direitos do cidadão. Tem sua atuação voltada para o apoio a programas destinados à população carente que freqüenta a região, em especial, jovens em situação de risco, e trabalha a cultura como instrumento de cidadania e transformação social. O Centro Cultural se caracteriza como um lugar onde as atividades acadêmicas estabeleceram um forte elo com os diversos segmentos da sociedade, em especial com as populações excluídas do terreno dos direitos. Nele, são desenvolvidas atividades em parceria com unidades da UFMG, destacando-se o Programa Cidadania Cultural, eixo orientador de todas as suas atividades, compreendendo projetos de inserção social e produção cultural, como o que é voltado para a formação de agentes culturais juvenis para fomentarem ações culturais nas suas comunidades.

O Centro Cultural abriga também o projeto interdisciplinar Rede.lê – Rede de Inclusão e Letramento Digital, que se realiza a partir de 18 telecentros instalados em escolas públicas, organizações não-governamentais, comunidades de tribos indígenas e remanescentes de quilombos, além de centros culturais da periferia de Belo Horizonte e do interior do estado. Abriga, ainda, outros dois grandes programas: o Laboratório de Imagem e Som, voltado para o tratamento de temas urbanos a partir de registros audiovisuais, e o Programa Cultura em Movimento, ligado às artes plásticas, cênicas e visuais, por meio da promoção de cursos a preços acessíveis, montagem de exposições dos alunos, etc. Realiza, ainda, em conjunto com a DAC, ações de curadoria e de apoio à produção e promoção de mostras de artes plásticas e eventos cênico-musicais, como o Projeto Sexta Doze e Trinta, realizado nos mesmos moldes do Quarta Doze e Trinta, que é voltado para o público que freqüenta o Campus Pampulha.

O Conservatório UFMG foi inaugurado em agosto de 2000, após ampla reforma e restauração do prédio, que abrigou durante mais de 30 anos a Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais. Localizado na região central da cidade, o prédio teve as características originais de sua construção totalmente recuperadas. Além de manter estreito vínculo com a área de Música, o espaço serve de palco para outras formas de manifestações culturais, abrigando duas galerias de exposições, auditórios, salas de aulas e pátio interno para eventos, e a Sala de Recitais. Em 2001, foi inaugurado prédio anexo, com praça coberta, livraria e espaço para instalação de um restaurante. Essa infra-estrutura permite a realização de eventos variados, como congressos, cursos, seminários, reuniões, lançamentos de livros e apresentações artísticas e culturais. Órgão ligado à Reitoria da UFMG, o Conservatório teve sua restauração custeada pela FUNDEP, responsável, ainda, pela manutenção de duas das suas séries de concertos atuais. Respeitando suas origens ligadas à música, o Conservatório UFMG tem como carro-chefe de sua programação os concertos de música clássica. Através deles, investe em um dos seus principais objetivos, que é a formação de público, oferecendo programação variada e de alto nível a preços populares. Além das duas séries de concertos (semanal e mensal), que trazem a Belo Horizonte artistas brasileiros e estrangeiros de reconhecimento internacional, dentro da orientação de oferecer lazer cultural acessível e de qualidade, realiza o Projeto Quarta Cultural – programação semanal com entrada franca. Esse Projeto contribui para materializar outros dois objetivos do Conservatório UFMG: a difusão de produções culturais de qualidade, sejam elas no campo da música erudita ou popular, do teatro, da dança ou da literatura, e o incentivo a artistas em início de carreira. O Conservatório convive com o problema resultante da realização de duas atividades com alto grau de incompatibilidade: as aulas e os espetáculos, dada a contraposição entre o silêncio demandado por uma e o ruído produzido pela outra, resultando num conflito que, muitas vezes, gera ociosidade na utilização dos espaços.

Em parceria com o Programa Pólo de Integração UFMG no Vale do Jequitinhonha, foram realizados, no Campus Pampulha, seis eventos da Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, envolvendo cerca de 70 artesãos, projeto que, além de seu caráter de relevância social e cultural, contribui para a comercialização de peças do artesanato local. Ainda nesse campus, é realizado o projeto Quarta Doze e Trinta, que oferece espetáculos artísticos profissionais variados. Esse projeto, já consolidado como ação de referência na Universidade, promoveu, no período 2002 a 2005, 128 eventos cênico-musicais, com público estimado em 16 mil pessoas. Em conseqüência dos bons resultados alcançados, foi criado, para o público que freqüenta o Centro Cultural UFMG, o já mencionado Projeto Sexta Doze e Trinta, seguindo orientações similares.

No nível regional, a Universidade retomou as Jornadas Culturais da UFMG, projeto que estava paralisado há alguns anos, compreendendo ações culturais e de interação, realizadas por meio de cursos, mostras, oficinas e palestras ministradas por professores e alunos, com ênfase na arte-educação. Entre 2002 e 2005, foram realizadas cinco jornadas, com duração de uma semana. Elas atendem a demandas locais, identificando valores, vocações e produções de comunidades de cidades do interior.

Em fase de implantação, encontra-se o Projeto Cipó. Esse projeto prevê a realização de 10 jornadas culturais em municípios de localização estratégica da região abrangida pela Serra do Cipó, área de grande potencial para a promoção do turismo ecológico, rural e de aventura, e de grande importância para a preservação ambiental no estado, por seus recursos naturais diversificados.

Ainda no nível regional, estão sendo preparadas ações de promoção cultural ligadas à Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade,[52] à qual estão vinculados vários imóveis de valor histórico, arquitetônico e cultural em Tiradentes. Em conjunto com o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis – CECOR, da Escola de Belas Artes, essas ações envolvem o levantamento do acervo histórico e artístico, e preparação de mostra expositiva.

Em 2003, foi criado o Espaço Expositivo da Reitoria como espaço permanente para a realização de mostras de artes visuais ou de mídias contemporâneas, tendo sido realizadas 16 exposições. Entre outras, destacam-se as de Amilcar de Castro, Franz Krajcberg, Liberdade Essa Palavra, A Criação e a Pesquisa na Arte Contemporânea – Eustáquio Neves, e Trajetórias – mostra do Programa Pólo de Integração da UFMG com o Vale do Jequitinhonha, com público estimado, no total, em 48 mil visitantes.

Criado em 1967 por professores da Escola de Belas Artes da UFMG e Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte, o Festival de Inverno da UFMG consolidou-se como um dos maiores programas de extensão universitária da área artístico-cultural do país. Em suas 33 edições anuais, que ocorrem no mês de julho, o Festival foi realizado em Ouro Preto, São João del-Rei, Poços de Caldas e Belo Horizonte. Sediado a partir do ano 2000 em Diamantina, destina-se a estudantes e professores, artistas e profissionais de diversas áreas. Mantém sua proposta inicial como espaço para aprofundamento, experimentação e pesquisa de novas linguagens artísticas, inclusive aquelas que trabalham com recursos avançados de tecnologia vinculados à arte. Suas atividades são destinadas a profissionais liberais das áreas de Artes e Letras, professores, estudantes e crianças e adolescentes, contemplando as áreas de Artes Cênicas (dança e música), Artes Plásticas, Artes Visuais (cinema, fotografia e vídeo), Literatura, Música e Projetos Especiais. Cada uma das áreas é composta por oficinas de iniciação e de atualização. Paralelamente, é oferecida uma agenda de eventos ao público. Entre 2002 e 2005, participaram das 180 oficinas e 16 seminários que foram oferecidos pelo Festival cerca de 5.200 alunos, além de 80 mil visitantes e espectadores, e, ao longo de sua história, mais de 61 mil pessoas já participaram de suas oficinas e cursos.

Os alunos do Festival de Inverno originam-se da área metropolitana de Belo Horizonte (44%), interior de Minas Gerais (23,5%), outros estados (28,2%) e outros países (2,3%). A maioria tem curso superior e procura no Festival seu aprimoramento profissional. Somando-se ao número de alunos os espectadores dos eventos oferecidos, como shows e exposições, em suas 33 edições, o público atingiu quase um milhão de pessoas. Com o objetivo de promover a inclusão de seus alunos em todos os tipos de atividades desenvolvidas pela Universidade, em 2003 foi instituído um programa de bolsas para alunos carentes interessados em participar do Festival de Inverno, tendo, até 2005, sido concedidas 300 bolsas. O Festival é viabilizado financeiramente graças a parcerias mantidas entre a UFMG e instituições públicas e privadas.

A presença de alunos na área de cultura tem sido incentivada, como demonstra a avaliação do programa de bolsas da extensão conduzido pela PROEX, com impactos variados na formação dos estudantes. Desde o ano de 2002, cerca de 130 bolsas de extensão foram concedidas para alunos de graduação nas áreas de produção cultural, web design, criação gráfica e assessoria de imprensa.

Pode-se afirmar que a iniciativa da UFMG ao criar a Diretoria de Ação Cultural representou um passo importante no sentido de preparar-se adequadamente, nos planos administrativo e gerencial, para o fomento das atividades culturais, conferindo, ao mesmo tempo, peso institucional e liberdade programática e de gestão a esta ação. A importância que essas atividades adquiriram na Universidade a partir daí requer a implementação de uma sistemática de planejamento e de avaliação mais adequada da contribuição das ações culturais para o ensino e a pesquisa, assegurando a possibilidade de obter o salto de qualidade que esta área demanda.

Uma repercussão do significado dessa atuação da UFMG pode ser encontrada nos postos institucionais que ela ocupou ou ocupa. Entre eles, destacam-se a presidência do Fórum Permanente dos Coordenadores dos Festivais Culturais de Minas Gerais, a representação no Conselho de Cultura do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Federais de Ensino Superior, e a representação no Comitê de Cultura da Associação de Universidades do Grupo Montevideo, integrado por 18 universidades latino-americanas.

Nota

[52] Conforme mencionado na análise sobre a extensão, a Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade é uma das fundações vinculadas à UFMG.