"Pesquisa não é despesa, mas investimento"

 

Presidente da Academia Brasileira de Ciências fala do distanciamento entre Universidade e indústria

 

O.gif (1206 bytes)presidente da Academia Brasileira de Ciências, Eduardo Krieger, disse aos participantes da VII Semana de Iniciação Científica da UFMG, encerrada no último sábado, que a contribuição financeira da indústria para a pesquisa científica não passa de um "mito" brasileiro. "Nos países desenvolvidos, o dinheiro da indústria vai para a própria indústria", afirmou. Em sua palestra sobre a situação da ciência no país, Krieger reafirmou a urgência do investimento financeiro governamental na pesquisa científica. Eis os principais trechos da palestra:

A ciência nas universidades

Todos os países industrializados protegem a pesquisa básica feita nas universidades. A ciência tornou-se fundamental para a formação de recursos humanos qualificados. O que se ensina hoje a um estudante de engenharia ou de medicina será completamente diferente daqui a dez anos. Por isso, a Universidade não pode formar profissionais para trabalhar 30, 40 anos no mercado. Através da ciência, o estudante tem que estar capacitado a absorver o conhecimento que será gera do após cinco, dez, 15 anos. Esse é o seu papel estratégico na universidade.

Ciência e desenvolvimento

Os países desenvolvidos são os que produzem ciência e tecnologia de melhor qualidade, fator interfere na qualidade de vida de suas populações. As nações industrializadas têm um cientista trabalhando no sistema de ciência e tecnologia para cada grupo de 300 habitantes. Nos EUA, hoje, existe mais de um milhão de cientistas numa população de 260 milhões. Não há país desenvolvido que apresente uma relação acima de um cientista por 500 habitantes. No Brasil, a relação é de um cientista por 1.500 habitantes. A América Latina tem de 2% a 3% da produção científica mundial, enquanto os EUA detêm cerca de 40% e a Europa outros 40%.

O mito da parceria universidade- indústria

Os Estados Unidos investiram, só no ano passado, cerca de US$ 154 bilhões em Ciência e Tecnologia (o governo aplicou US$ 70 bilhões e as empresas, US$ 84 bilhões). Mas as empresas privadas investem principalmente em pesquisas próprias. Dos US$ 84 bilhões das empresas, apenas US$ 2 bilhões foram destinados a parcerias com a Universidade. Buscar dinheiro na indústria foi um mito que se criou no Brasil. Nos países desenvolvidos, o dinheiro da indústria vai para a própria indústria. E os governos desses países também investem muito dinheiro nas empresas para que estas desenvolvam suas pesquisas. É uma forma indireta de as empresas propiciarem riqueza para o país e este aplicar na pesquisa universitária. O setor industrial brasileiro geralmente não emprega cientistas e pós-graduados, embora o país já produza ciência de bom nível.

Corte de recursos

A Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviaram ao presidente Fernando Henrique Cardoso, no mês passado, uma moção solicitando a suspensão dos cortes das bolsas de pós-graduação, como já foi anunciado. Na moção, as duas entidades dizem ao presidente que pesquisa não é despesa, mas investimento no futuro do país.

 

Sagüão volta a abrigar
mostras de arte

D.gif (1209 bytes)esde 21 de outubro, Belo Horizonte conta com mais um espaço cultural. Em solenidade que reuniu vários setores da comunidade universitária, o reitor Sá Barreto reinagurou o sagüão da Reitoria, com a exposição Passado/Presente, montada pela Organização de Aposentados e Pensionistas (OAP) da UFMG.
"A retomada do espaço é uma correção de rumo. Este saguão sempre abrigou obras importantes", lembrou Álvaro Apocalypse, que possui dois quadros expostos na mostra. Ele entrou na Escola de Belas-Artes em 1959 e ocupou vários cargos na Unidade. "Mesmo não trabalhando mais na Belas-Artes, jamais me separei da UFMG", diz Álvaro, que coordena o grupo Giramundo. Outro artista, Haroldo Matos, comemorou a reinauguração do sagüão dizendo que sentia muitas saudades do espaço: "Além de expor num local importante para as artes, esta é uma oportunidade de rever os amigos".