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UFMG foi pioneira na reforma

Aluísio Pimenta

 

A.gif (1226 bytes)s universidades brasileiras foram criadas como federações de faculdades e escolas profissionais. Quando assumimos a Reitoria da UFMG, então UMG, em fevereiro de 1964, trazíamos como projeto de trabalho a Reforma da Universidade.
Tínhamos como pensamento básico reformar a UFMG, para fazer dela um instrumento de mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais, dando-lhe uma estrutura flexível através de uma direção bem coordenada. O Colégio Universitário era a nossa pré-reforma. Em meu livro Universidade: A Destruição de uma Experiência Democrática, Editora Vozes, trato do assunto. É preciso deixar claro que a UFMG foi a pioneira na reforma do sistema universitário brasileiro, pois estabeleceu diretrizes para a transformação das universidades, então federações de faculdades e escolas.
Nossa providência imediata ao assumirmos a direção da UFMG foi ser o primeiro reitor em tempo integral. Introduzimos mudanças no gerenciamento da Universidade e fortalecemos a administração central, que praticamente não existia na Reitoria e era totalmente feita nas faculdades e escolas. Não queríamos centralizar a execução orçamentária, mas coordenar o seu planejamento, aprovação e a própria execução.
Em pleno trabalho veio o golpe militar de 1º de abril. Foram dias terríveis para a comunidade da UFMG. Não paralisamos os trabalhos. Avançamos com o planejamento do Colégio Universitário, o prédio onde hoje está a Faculdade de Educação, que foi construído em 180 dias.
Veio, então, a intervenção militar e a deposição do reitor. Lutamos, e em 72 horas reassumimos o cargo. Fomos em frente com a reforma administrativa e acadêmica, que pode ser assim resumida: a) estabelecimento de uma gerência de bom nível coordenada pela reitoria com ampla participação das unidades; b) criação e funcionamento do Colégio Universitário; c) criação dos institutos de Física, Matemática, em 1966, Química, Ciências Biológicas, Geociências, Escola de Belas-Artes e das Faculdades de Educação, de Letras e de Comunicação. Os institutos de Física, Química e Matemática já em edifício próprio e os demais estruturados, mas com direções nas faculdades. O ICB funcionava nas instalações da Faculdade de Medicina. As faculdades de Letras e de Educação e o Instituto de Geociências, nas instalações da Fafich.
Criamos o Conselho de Pesquisa da UFMG para coordenar o plano de pesquisa e financiar programas emergentes que não conseguiam apoio do CNPq e da Capes. Organizamos amplo programa de extensão, especialmente cultural, com a absorção e estruturação do Coral da UEE, mais tarde Coral Ars Nova e criamos a Orquestra da UFMG.
Recuperamos e reorganizamos a Fundação Mendes Pimentel, paralisada há 20 anos, com programas de apoio aos estudantes. Para apoio aos professores e funcionários, criamos o Armazém Reembolsável da Universidade. Criamos, ainda, a Farmácia Universitária, com medicamentos a baixo custo para a comunidade universitária, a Clínica Odontológica e a Assistência à Saúde.
Os institutos e as novas faculdades estavam funcionando quando passei o mandato em fevereiro de 1967. Conseguimos financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a construção e equipamento do Hospital Veterinário e para equipamento dos novos institutos criados pela reforma.
Temos que reconhecer, entretanto, que a ditadura conseguiu jogar uma sombra no pionerismo da UFMG na Reforma Universitária Brasileira, transferindo-a para 1968. Tanto que fora de Minas há maior reconhecimento desse pioneirismo. Luís Antônio Cunha, professor e pesquisador da área de Educação da UFRJ e um dos educadores mais conceituados do país, diz em seu livro Universidade Reformada, Editora Francisco Alves/1988: "Mas o que a Universidade do Brasil (hoje UFRJ) não foi capaz de fazer, a Universidade Federal de Minas Gerais realizou, embora sem as diretrizes explicitadas, previamente, como naquela. Não tendo a posição de primogênita (foi a segunda universidade sucedida no Brasil), e dotada de uma hábil e empreendedora direção, a UFMG foi adaptando sua estrutura à da Universidade de Brasília, de 1964 a 1967. Tornava-se, assim um modelo alternativo atraente para a modernização. Assim, a UFMG tornou-se, no período 1964/1967, a `conexão mineira' da difusão do modelo estrutural da Universidade e mesmo para a legislação federal. A reforma foi pretendida pela Universidade do Brasil, em 1963, mas realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1964/1967."
Este depoimento é decisivo para definir a UFMG como `primeirona' na reforma universitária em nosso país, como hoje é reconhecida como `primeirona' na pós-graduação. Não se trata de reivindicar uma questão pessoal, mas uma conquista institucional em um dos períodos mais difíceis da história política da nação brasileira.

*Reitor da Universidade do Estado de Minas Gerais e ex-reitor da UFMG