"Educação a Distância será meta prioritária"

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B: Sabendo-se que os recursos são cada vez mais escassos, qual será a orientação da Reitoria para a execução do orçamento?

SB: Primeiro precisamos ter um quadro completo do orçamento. Certamente teremos que priorizar algumas áreas. O que vamos fazer neste momento é a-pontar as grandes metas da Universidade, como a graduação e a questão universidade-sociedade. Dentro dessas metas, teremos uma série de programas acadêmicos e culturais. Eles serão priorizados de acordo com a missão da Universidade. Obviamente, a definição de onde deveremos aplicar mais recursos terá impacto no orçamento. Em dois ou três meses teremos isso mapeado. Recentemente, numa reunião da equipe da administração central, fizemos uma boa discussão de temas como orçamento, autonomia e graduação. Agora vamos transformar isso num planejamento estratégico para a Universidade.

B: Como conciliar tantos cortes com a proposta de ampliação de vagas?

SB: Estou incentivando algumas iniciativas nas áreas acadêmica e de pessoal. Uma delas é a oferta de cursos seqüenciais, com a utilização de disciplinas que têm vagas ociosas. Outra é o investimento na educação a distância, que certamente será uma meta prioritária. Temos ainda uma proposta para os alunos de doutorado. A UFMG tem cerca de mil doutorandos. Eles poderiam participar de um projeto de ensino, como monitores, dando aulas na graduação com a ajuda de tutores. Dentro de um programa de flexibilização, o monitor receberia créditos pelas aulas dadas. Com isso, ele estaria sendo treinado e, ao mesmo tempo, fortalecendo o trabalho docente da UFMG. Em relação ao funcionário técnico-administrativo, queremos mapear todo o pessoal e fazer um remanejamento, requalificando-o. Com isso, daremos mais eficiência ao sistema. Esse é um projeto estrutural que resolve ao mesmo tempo o problema conjuntural do corte de verbas.

B: Que parcela do déficit no quadro de professores seria coberto pelo projeto de monitoria de pós-graduação?

SB: É preciso ter cuidado com as relações númericas para que não pareçam uma coisa sem interesse acadêmico. Mas se esses mil doutores, sem contar os mestrandos, tivessem uma atividade acadêmica de quatro horas semanais, eles fariam quatro mil horas. Como um docente da Universidade dá em média dez horas semanais, isso equivaleria a 400 professores.

B: Esse projeto poderia ser implantado já em 1999?

SB: Creio que sim. Tive uma reunião com a Câmara de Pós-Graduação, que ficou de conversar com os chefes de departamentos e coordenadores de pós-graduação. Essa atividade já existe em alguns lugares da Universidade, como nos cursos de Administração, Computação e Bioquímica.

B: A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) disse recentemente que as universidades públicas brasileiras gastam cerca de 14 mil dólares com cada aluno de nível superior. O senhor concorda com esse cálculo?

SB: A OECD procurou, segundo disseram, usar os mesmos parâmetros para todos os países, de forma a poder fazer comparações. Os dados de uma análise feita por mim num artigo que está sendo criticado por colegas, mostra o seguinte: considerando apenas as universidades federais, se pegarmos todo o orçamento executado pelo governo, incluindo hospital, aposentados, precatórios e a folha de ativos, e o dividirmos pelo número de estudantes das federais, o custo por aluno é inferior a R$ 12 mil. Isso dá cerca de 9 mil dólares. Agora, se retirarmos desse total o que é pago aos aposentados, precatórios, parte do que é gasto com hospital universitário, já que só uma parte das atividades do hospital é de graduação, o custo do aluno fica em torno de R$ 5.500, valor grafico.jpg (45608 bytes)comparável ao custo nas universidades privadas. Só que, ao fazer esse cálculo, eu considero o salário integral do docente. O salário integral cobre também pesquisa e extensão. Na análise desses números é importante ter com clareza os parâmetros dos cálculos. O governo brasileiro, através dos impostos pagos pela população, investiu na universidade pública federal, no ano passado, cerca de R$ 5,7 bilhões. Para isso ele pagou hospitais, aposentados, etc. Mas hospital é função de outro ministério e aposentadoria, em princípio, não deveria ser contada como investimento em aluno de graduação. Quando se retira isso, o custo é outro. A informação tem que ser científica, não pode ser ideológica.