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Pessimismo marca obra do escritor

 

Aos 76 anos, Saramago tornou-se o primeiro escritor de Língua Portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Ele é um pessimista confesso, traço que marca toda a sua obra. "Sou feliz num mundo triste e pessimista, onde os otimistas são poucos. Eles estão contentíssimos porque acreditam que o mundo é tão bom que não precisa de mudança", disse o escritor, em outubro do ano passado, ao saber de sua escolha para o prêmio da Academia Sueca.
Filho e neto de agricultores pobres, José Saramago de Souza nasceu na aldeia portuguesa de Azinhaga, no Ribatejo, em 1922. Mudou-se com a família para Lisboa dois anos depois. Por falta de condições financeiras, abandonou a escola para trabalhar como mecânico. Foi desenhista, editor, tradutor e jornalista sem jamais ter freqüentado uma universidade.
Em mais de 50 anos de carreira, Saramago publicou 25 livros, entre romances, poesias, crônicas e contos. Seu primeiro livro, Terra do pecado, foi lançado em 1947, mas somente em 1980, quando publicou Levantado do Chão, o escritor começou a ganhar notoriedade. Em 1982, o best-seller Memorial do Convento o projetou para além das fronteiras de Portugal. O êxito internacional se firmou em 1986, com Jangada de Pedra, uma parábola sobre as relações de Portugal e Espanha com o resto da Europa.
Nos anos 90, Saramago se consagra definitivamente como um dos maiores escritores contemporâneos ao lançar O Evangelho segundo Jesus Cristo, versão romanceada da vida de Cristo, e Ensaio sobre a cegueira, um libelo contra a intolerância. O conjunto da sua obra já foi traduzido para 25 idiomas.

Militante
Em seu parecer para a Comissão de Legislação do Conselho Universitário, o relator Célio Celso destaca inúmeras honrarias que atestam o reconhecimento internacional da obra literária de Saramago, entre elas a de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas e os títulos de Doutor Honoris Causa das universidades de Turim (Itália), Sevilha (Espanha) e Manchester (Inglaterra).
Intelectual engajado nos movimentos de esquerda, Saramago é militante histórico do Partido Comunista Português. "Serei sempre comunista", costuma dizer toda vez que indagado sobre a sua opção ideológica. Há dois anos, abraçou a causa dos sem-terra brasileiros ao prefaciar um livro co-editado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e pelo músico Chico Buarque.

 

Drummond disse ter sido alvo
de "honraria indevida"

O escritor Carlos Drummond de Andrade foi protagonista de uma verdadeira novela em torno da entrega do título de Doutor Honoris Causa. Por unanimidade, Drummond foi indicado pelo Conselho Universitário para receber o título em março de 1973. O então reitor Marcelo Vasconcellos Pinheiro encaminhou ofício ao escritor, sugerindo que ele escolhesse a data da homenagem.
No mês seguinte, Drummond enviou uma resposta na qual já demonstrava certa resistência a receber o título: "Devo confessar que o propósito manifestado por essa nobre instituição cultural despertou em mim a sensação de ser alvo de uma honraria indevida".
E justificou: "Nenhuma falsa modéstia inspirou esta afirmação. Ela é antes motivada pela concepção, que tenho, da importância e especificidade da missão universitária". Ao final da mensagem, pediu à UFMG que aguardasse "ocasião propícia" para formalizar a entrega, alegando que sua saúde o impedia de viajar a Minas naquele momento.
Em 1987, por ocasião das comemorações dos 60 anos da UFMG, o então reitor Cid Veloso pretendia enviar ao Rio de Janeiro uma comissão especial do Conselho Universitário para, enfim, entregar o diploma a Drummond. Mas a morte do escritor, em agosto daquele ano, impediu que a novela tivesse final feliz.

 

Ao lado de Drummond e Niemeyer

Da ilha de Lanzarote, na Espanha, onde mora, José Saramago enviou um fax ao reitor Sá Barreto aceitando o convite para ser o próximo Doutor Honoris Causa da UFMG. No texto de oito linhas, datado de 12 de março, o escritor manifestou satisfação por figurar ao lado de Drummond e Niemeyer na seleta lista de agraciados com o título:
Não preciso sublinhar quanto me honra a atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Minas Gerais. Saber que o meu nome vai ficar ao lado dos nomes de Carlos Drummond de Andrade (de quem tão injustamente a Academia Sueca não se lembrou para o Nobel...) e de Oscar Niemeyer (de quem sou amigo e a quem tanto admiro) é algo que nunca esteve entre as minhas mais ousadas esperanças. Devo ao Reitor e ao Conselho Universitário da UFMG essa profunda alegria. Espero poder corresponder sempre, em dignidade e em fidelidade, à honra que se me faz.