cademias lotadas, pistas de cooper
congestionadas, dietas infindáveis, cremes e tratamentos de beleza. Tudo em busca do
corpo perfeito. Essa é a batalha de homens e mulheres da década de 90. Atenta à quase
obsessão pela perfeição estética, a psicóloga Tânia Guimarães Pompeu decidiu
estudar o fenômeno em sua dissertação, defendida junto ao mestrado em Psicologia da
Fafich.
A pesquisadora entrevistou 12 pessoas que revelavam experiências significativas em
relação ao próprio corpo. Seis tiveram perda corporal, causada principalmente por
acidente de trabalho, e outras seis eram freqüentadoras assíduas de academias de
ginástica. A psicóloga chegou a se matricular em uma academia para estar mais perto de
seu "objeto" de estudo.
A partir da leitura dessas entrevistas e de estudos sobre o tema - em especial os
do médico e filósofo espanhol, Pedro Lain-Entralgo - Tânia Pompeu procurou identificar
as conseqüências dessa preocupação desmedida. "Estamos vivendo um movimento de
resposta aos anos de repressão moral pelo qual o corpo passou", analisa a
pesquisadora. Ela explica que, há bem pouco tempo, havia uma alienação em relação ao
corpo, considerado uma fonte de mal. O fim da repressão não significou, porém, o
advento de uma realidade necessariamente benéfica. "Agora a alienação é
estética", diz.
Padrões
Segundo a psicóloga, as pessoas buscam, a todo custo, enquadrar-se em padrões de
beleza, numa tentativa de recuperar a auto-estima perdida pela comparação com os
próprios padrões estéticos: "É um círculo vicioso. O sentimento de inferioridade
aparece porque a pessoa não se ajusta ao que é tido como belo. Daí, vem a
obriga-toriedade de se adequar ao modelo, mas nunca se chega à satisfação. Mesmo
chegando ao estágio ideal, há sempre a ameaça de perder, de voltar a engordar, de
envelhecer".
Outro problema gerado pela ditadura do corpo é a inibição daqueles que não se
enquadram nos padrões. "As pessoas se retraem porque não acreditam que possam
despertar interesse. Isso é uma visão distorcida da beleza", afirma a psicóloga.
Ela explica que, a partir de nossas vivências, criamos preferências. Então, com base
nelas, nos aproximamos daqueles que consideramos belos. No mundo moderno, porém, as
predileções individuais foram anuladas. "Todos preferem a Tiazinha", ressalta.
Com a padronização estética em alta, as pessoas quase não se expressam com
autenticidade. "Muitas vivem retraídas por não serem como a sociedade diz que
deveriam. Por isso, se fecham em seus complexos de inferioridade ou se `matam' nas
academias", diz a pesquisadora.
Vício
Além da baixa auto-estima, o culto ao corpo pode estar trazendo problemas
patológicos. As doenças ligadas à falta de alimentação, como anorexia e bulimia, são
cada vez mais freqüentes. Outro mal, este causado pelo excesso de ginástica, ainda é
pouco conhecido. Enquanto malham, as pessoas liberam uma substância relaxante, a
endorfina, que provoca uma sensação de bem-estar. A pesquisadora conta que já existem
alguns estudos sobre os seus efeitos entre os adeptos das academias. "A malhação
excessiva estaria criando uma dependência de endorfina. Por isso, o que era saudável
pode virar um vício", conclui Tânia Pompeu.
Dissertação: Corpo humano e alienação
estética do nosso tempo
Autora: Tânia Guimarães Pompeu
Orientador: José Paulo Giovanetti
Unidade: curso de pós-graduação em Psicologia na Fafich |