 iariamente um
grupo de meninos atira pedras na casa de uma estranha senhora. Incomodada, ela abre a
janela e os cobre de impropérios. A cena se repete por longo tempo, até que um
imprevisto se revela: depois de mais uma ofensiva dos garotos a mulher não aparece.
Assustado, um dos "pestinhas" resolve entrar na antiga construção e desvendar
o mistério. A história, paráfrase de conto do poeta Carlos Drummond de Andrade, serviu
de matéria-prima para o curta-metragem A doida, dirigido e roteirizado pelos
estudantes Bel Bechara e Sandro Serpa, do curso de Comunicação Social da Fafich.
"Discutimos loucura e morte, através do contato da criança com a realidade
de uma mulher doente e idosa", explica Bel Bechara. O filme, exibido recentemente na
sala Humberto Mauro, do Palácio das Artes, foi desenvolvido dentro da disciplina Projeto
experimental, sob orientação do professor Delfim Afonso Júnior.
A idéia de produzir o curta-metragem nasceu em 1997 quando, ao tomar conhecimento
do conto homônimo de Drummond, os alunos escreveram um pré-roteiro. O projeto ficou na
gaveta por algum tempo, até que, meses depois, surgiu a oportunidade de unir a proposta
do filme ao trabalho de conclusão de curso. A iniciativa ganhou força a partir das
reuniões de concepção, já com os atores protagonistas Beth Grandi e Samuel Brandão.
As limitações técnicas foram compensadas com criati-vidade. "Filmamos com
uma câmera a corda, de 1949, de 16 milímetros. Cada tomada não poderia passar de 30
segundos", diz Sandro Serpa. Outra dificuldade encontrada pelos jovens cineastas foi
a escassez de rolos de filme. "Quando erravam, os atores eram obrigados a continuar.
Gravávamos a mesma cena no máximo duas vezes", acrescenta Bel Bechara.
Realizadas durante quatro dias num casarão de Pedro Leopoldo, Região
Metropolitana de Belo Horizonte, as filmagens foram marcadas por momentos inusitados.
Sandro Serpa conta, por exemplo, que numa das tomadas o rolo de filme agarrou no interior
da câmera e provocou algumas distorções no trecho da película. A cena foi refeita, a
gravação ficou perfeita, mas os diretores usaram a parte distor-cida. "Ela era
muito mais expressiva", ressalta Serpa.
Cerca de 500 pessoas já assistiram ao filme em Pedro Leopoldo e Belo Horizonte.
Semana passada, A doida participou do Festival de Cinema de Curitiba, concorrendo
aos prêmios de melhor vídeo, ficção, roteiro, direção e edição. O curta foi
exibido recentemente no programa Agenda, da TV Minas, e estão fechadas exibições
no Curta Brasil, da TVE Rio, e no Zoom, da TVE de São Paulo.
Filme: A doida
Elenco: Beth Grandi, Samuel Brandão,
Israel Dias, Fabiano Moreira e Marcelo de Oliveira
Roteiro e Direção: Bel Bechara e Sandro Serpa
Fotografia: Janaína Patrocínio
Trilha sonora: Ana Melo e Fred Jamaica
Site na Internet: http//sites.uol.com.br/macondo
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