 o início dos tempos, os monstros disputavam a habitação da Terra
com os homens. Exterminados pela evolução das espécies, passaram a ser fontes de
lendas, dos contos de fada e das tradições, até serem eternizados pela literatura
fantástica do século 19 e pelo cinema do século 20. Uma reflexão sobre a essência da
monstruosidade é o que promete o livro Da natureza dos monstros, do professor e
chefe do Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas-Artes, Luiz Nazário.
O autor tenta construir uma teoria da monstruosidade, tendo como inspiração o cinema de
horror e a literatura fantástica. Ele explica que antes do surgimento da teoria
psicanalítica de Freud a repressão dos impulsos sexuais era muito forte. Na literatura
de terror clássico, tudo o que era recalcado se transfigurava sob a forma de monstro.
Nessa circunstância repressiva, diz Nazário, o monstro poderia ser comparado a um Falo
Transfigurado.
Um exemplo dessa representação é o dragão lança-chamas, que seria a metáfora maior
de um Falo. "Com a massificação da psicanálise e da educação sexual, a
sexualidade se tornou mais discutida. O caráter de repressão e tabu desapareceu, e o
monstro, símbolo dessa repressão sexual, mudou de caráter, tendo atualmente
conotações mais amplas. O monstro agora seria um símbolo da devoração", afirma o
autor.
Cinema
O livro de Nazário dedica capítulos inteiros a celebridades do cinema como Alfred
Hitchcock e Steven Spielberg. O autor também estuda produções cinematográficas do
período da Guerra Fria, em que revela que o confronto entre capitalismo e comunismo
assumiu nas telas formas violentas e radicais de guerras de extermínio entre terráqueos
e extraterrestres, entre homens e monstros radioativos.
Fazendo
um paralelo com os dias de hoje, Nazário detecta que a morte do monstro - entendida como
o triunfo do homem em tempos passados - evoluiu para a forma do trabalho. "Hoje o
homem não mata mais o monstro, ele trabalha. É uma forma de lutar contra a natureza,
fonte maior de todos os medos", afirma. Se o homem primitivo matava o monstro
plantando ou dominando o território, hoje ele o faz ganhando o próprio sustento. "O
homem da atualidade não é essencialmente diferente do homem primitivo. Apenas os
monstros são diferentes".
Outra questão discutida no livro diz respeito ao avanço da ciência moderna, que
tem a ovelha Dolly como um dos seus ícones. Para tratar desse tema, o autor recorre à
escritora de literatura fantástica Mary Shelley. Frankenstein, em sua opinião, é uma
premonição de tudo o que acontece hoje no campo da ciência. "A genética era o
sonho de Frankenstein de criar uma criatura com as próprias mãos. Hoje os cientistas se
colocam no lugar de Deus, experimentando em laboratórios a criação de verdadeiros
monstros", sentencia Nazário.
Livro: Da natureza dos monstros (302
páginas)
Autor: Luiz Nazário
Editora: Arte & Ciência
Locais de venda: Livrarias Travessa, Usina Unibanco de Cinema, Belas-Artes
Liberdade e Scriptum
Preço: R$ 22,00
Lançamento: 16 de junho, às 19h30, no Centro Cultural UFMG. |