Geógrafo produz mapas inéditos da Serra do Cipó

Resultado de dissertação de mestrado, projeto analisa efeitos do turismo predatório na região

Guilherme Pimenta

 

istante 100 quilômetros de Belo Horizonte, a Serra do Cipó é desses lugares com rara vocação para o turismo. Afinal, possui uma área de proteção ambiental com cerca de 100 cachoeiras; vasto patrimônio arqueológico, em que os registros de ocupação humana datam de sete mil anos; dezenas de trilhas para caminhadas e uma fauna e flora das mais ricas.

Mas o que deveria ser solução acabou transformado-se em problema. Com as facilidades de acesso oferecidas pelo asfaltamento da MG-10, há dez anos, a Serra vem atraindo contingentes crescentes de visitantes e, com eles, um impacto nada desejável sobre o frágil ecossistema local.

Preocupado em rastrear os efeitos sociais e ambientais do turismo predatório na Serra do Cipó, o geógrafo Antônio Márcio Ferreira de Moura, autor de dissertação de mestrado defendida junto ao IGC, cartografou toda a região, produzindo três mapas inéditos. "Já existiam mapas geológicos e biológicos, mas nenhum que quantificasse os efeitos provocados pelas atividades humanas e indicasse os pontos turísticos mais importantes", explica o pesquisador.

O conjunto é formado por um mapa diagnóstico _ que registra os principais danos gerados pela exploração econômica do local, como focos de queimada, poluição e esgotos - e dois mapas ecoturísticos, no qual o autor levanta as principais trilhas para caminhadas, os picos e cachoeiras mais importantes, as estradas de acesso e serviços como postos telefônicos, pousadas, restaurantes, bares e mercearias.

Falta de planejamento

Para Antônio Ferreira de Moura, o turismo praticado na Serra do Cipó pouco tem de ecológico. "O que ocorre é um turismo de massa, desordenado e sem o menor planejamento", critica, lembrando que o ecoturismo deve levar em conta a participação da população nativa no gerenciamento do ambiente. "Os moradores da Serra são mantidos à margem de qualquer decisão sobre tais assuntos", argumenta.

Em suas pesquisas no Parque Nacional da Serra do Cipó e na área de proteção ambiental do Morro da Pedreira, localizada no interior do Parque, o geógrafo detectou 14 depósitos irregulares de lixo, seis concentrações de pichação em patrimônio arqueológico, nove áreas de camping ilegais e três loteamentos clandestinos.

Um dos principais problemas identificados por Antônio Ferreira é a pouca proteção dada aos recursos hídricos, principal atrativo da Serra. "A água é comprometida tanto pela ausência de saneamento básico quanto pela falta de manutenção das estradas de terra, que assoreiam os rios durante as chuvas", exemplifica.

Segundo o geógrafo, a exploração racional dos recursos naturais passa necessariamente pelo controle de entrada no Parque Nacional da Serra do Cipó. "É necessário dimensionar a capacidade de turistas que o local suporta, e a partir daí executar uma fiscalização sistemática", sugere.

Título: Serra do Cipó/MG: Ecoturismo e Impactos socioambientais
Autor: Antônio Márcio Ferreira de Moura
Defesa: 22 de fevereiro, junto ao mestrado em Geografia, do IGC
Orientador: Allauoa Saadi

 

Trabalho acadêmico gerou atlas didático

Orientado pelo princípio de que educar é muito mais eficiente do que reprimir, o geógrafo Antônio Márcio Ferreira de Moura criou um atlas didático, voltado para crianças de sete a dez anos, que realça a importância da preservação do meio ambiente e da riqueza natural da Serra do Cipó. Seu personagem principal é a Hila Cipoensis, espécie de anfíbio só encontrada na região e conhecida como perereca de pijama.

"A perereca de pijama é a condutora da narrativa. Ela ensina noções gerais de cartografia e geografia e as características da vegetação, clima, relevo e hidrografia", explica Antônio Ferreira de Moura. Para prender a atenção das crianças, ele recorreu à interatividade, garantida, por exemplo, pelos infalíveis jogos de sete erros e de caça-palavras.

O autor define o atlas como uma contribuição social de seu projeto acadêmico. "Sua aplicação é que assegura o retorno do meu trabalho", acredita o pesquisador, que está negociando com algumas editoras a publicação e distribuição do atlas nas escolas municipais de Belo Horizonte e de Lagoa Santa.